Capítulo Cinco Part II

1.1K 83 1
                                    

- Onde está Caleb? - Gustavo perguntou surgindo de repente.

- Precisou ir embora. Tinha um encontro marcado. -

- Meu amigo é incorrigível. Nunca vi alguém ter tanto sucesso com as mulheres. Quisera ter a metade daquele charme... Ei, onde você está indo? -

- Para a cama. - O tom de voz baixo e firme não admitia qualquer pergunta.

Luana desejava apenas ter um outro lugar para onde ir, porém infelizmente estava presa a Wichita. Seria obrigada a assistir ao desfile interminável das namoradas de Caleb sem que nada pudesse fazer para evitar. Ainda continuava mancando por causa do pequeno acidente e embora os tendões estivessem sarando, o processo era muito mais lento do que imaginara.

O médico não pudera afirmar com certeza absoluta se os tendões voltariam a ficar cem por cento e o fisioterapeuta, com quem fazia sessões três vezes por semana, se mostrava frio e distante.

Apesar do bom senso lhe dizer que deveria procurar o médico e ter uma conversa franca, estava sem coragem de enfrentar a verdade. Se mal percebia algum progresso depois de semanas de tratamento, seu futuro na dança estava realmente ameaçado.

E para completar, além do ferimento, não havia trabalho em vista em NY. Sua companhia de balé não teria condições de montar qualquer espetáculo sem dinheiro em caixa. Portanto, a menos que conseguissem empréstimo ou o patrocínio de empresas, continuaria sem ter o que fazer.

Era uma pena desperdiçar tantos anos de sua vida, anos de estudos e completa dedicação. Balé sempre fora uma paixão e se fosse realmente uma mulher rica, não hesitaria em financiar a companhia. Contudo, os dividendos provenientes das ações da Torres & Lopez Air nunca seriam suficientes.

Gustavo tampouco tinha dinheiro. Mas Caleb sim.

Ela sorriu ao pensar no ex-noivo. Ele preferiria jogar o dinheiro pela janela ou queimá-lo numa fogueira do que lhe emprestar um centavo. De qualquer forma, não teria coragem de lhe pedir esse favor. Seu orgulho a impediria.

Luana tentava não entrar em pânico diante da possibilidade de jamais voltar a dançar. Para tal buscava consolo num sonho muito especial: abrir uma escola de balé em Wichita. Seria gostoso ensinar crianças. Afinal não lhe faltava competência nem força de vontade. Começara a estudar dança aos quatro anos de idade e sentia-se segura para assumir a posição de professora. Dar aulas era uma opção que evitava considerar seriamente mas agora, diante das circunstâncias, parecia-lhe a única alternativa possível, a única maneira de encarar o futuro sem se desesperar. Se falhasse em uma área, haveria a possibilidade de tentar em outra. Sim, pelo menos vislumbrava uma luz no fim do túnel.

(...)

Estava chovendo forte na manhã seguinte. Luana abriu a cortina e olhou pra fora, um sorriso suave nos lábios. Era tão bom sentir o perfume de terra molhada. O barulho insistente a embalava numa espécie de encantamento. Graças a Deus não havia previsões de tornados para aquele fim de primavera. Podia aproveitar a estação das flores sem temer a violência dos ventos.

Ela se exercitou na barra, chateada com o tornozelo que continuava dolorido e rígido depois de semanas de um trabalho de fisioterapia intenso e paciente. Gustavo estava no escritório da empresa agora, em companhia de Caleb provavelmente. Isto é, se seu ex-noivo já tivesse se recuperado da noitada de ontem. Como ele fora capaz de falar sobre as namoradas e fazer comentários irônicos a respeito de um assunto tão pessoal?

Caleb não era a mesma pessoa que conhecera anos atrás. Aquele homem reservado dera lugar a alguém bastante diferente. Alguém que usava as mulheres e as abandonava em seguida sem se prender a sentimentalismos. Ou talvez ele sempre fora assim e conseguira enganá-la porque se sabia amado. Quando se está apaixonada é difícil raciocinar e enxergar os defeitos do outro.

A BailarinaWhere stories live. Discover now