Chocólatras Anônimos - 4

2.2K 374 114
                                    


PARTE 4 — MILAGRE DE PÁSCOA

A surpresa que Henrique tinha para mim naquela noite acabou sendo um pouco menos doce que a de Lipe, mas igualmente deliciosa. Como chocolate com pimenta. Quando ele escapuliu do meu quarto na madrugada, pelas sombras para que ninguém o visse, eu afundei a cabeça no travesseiro e imaginei como eu iria resolver a minha vida.

Eu sei que qualquer pessoa daria o mundo para ter um problema igual o meu: escolher entre Gato Número 1 e Gato Número 2. Mas a coisa toda é bem menos divertida na prática do que na teoria. Eu realmente amava tanto Lipe quanto Henrique, e escolher entre os dois era cruel. Meu coração não suportava. Um de nós três sairia muito machucado daquela bagunça toda. Ou provavelmente os três. Não haveria vencedores.

Durante o café da manhã, me sentei ao lado de Lucas com meu chocolate quente e me desliguei do mundo enquanto escutava os relatos de sua namorada, Aline, sobre as férias que ela tinha passado na Argentina no final do ano. Aparentemente, uma de suas amigas havia conhecido um finlandês na noite do Ano Novo.

— Quais as chances? — Aline riu e meus amigos a acompanharam. Ela tinha uma risada leve, contagiante.

Eu parei de prestar atenção quando a conversa começou a girar em torno do tema Amor. Brigitte falou sobre como seu amigo Nicolas havia organizado uma superprodução para o aniversário da garota que agora era sua namorada. Letícia contou pela milésima vez a história de seus pais, de como ele havia cruzado o Atlântico para ficar com ela e blá blá blá. Cada um tinha uma história romântica para contar e eu só queria cavar um buraco no chão e sumir. Naquele momento eu detestei cada casal bem-resolvido do mundo. Eles faziam tudo parecer tão simples. E isso fazia a tragédia em que eu me encontrava parecer completamente sem sentido.

— Você tá bem? — Lucas perguntou baixinho, colocando a mão sobre a minha.

— Maravilhosa — menti.

— Você vai ficar — ele disse, pegando minha mentira sem muito esforço. — Hoje o dia vai ser longo, Cat. Longo e delicioso. Exatamente como você gosta — ele piscou.

— João Lucas, sua namorada está logo ali! — reprovei, debochando.

— Tá tudo bem, Cat. Ela sabe que precisa me dividir com você. Está no contrato do namoro.

— Você não vale nada, sabia? — sorri, revirando os olhos.

Meu sorriso murchou completamente quando vi Henrique e Lipe entrando na cozinha. Lado a lado. Conversando, rindo, sendo melhores amigos. Os dois pararam de falar quando me perceberam ali e ficaram com a mesma expressão sorridente... ou, ouso dizer, apaixonada.

Se Lucas não valia nada, eu era o micróbio da pulga do cocô do rato.

*

Lucas não estava mentindo. O dia foi realmente longo e delicioso... Só que não de um jeito pervertido. Foi longo por conta das milhares de atividades programadas pelos meus amigos. E delicioso porque a maioria dessas atividades envolvia chocolate.

Fizemos uma mini-fábrica de produção de ovos de chocolate caseiros para trocarmos uns com os outros no domingo. Eles tinham comprado todo tipo de chocolate, todo tipo de confeito, vários tamanhos de forma, corante de comida, celofane para embrulho, fitinhas coloridas, tudo! Eu quase comecei a chorar de emoção enquanto minhas mãos lambuzadas da perfeição líquida terminavam de colar os confeitos no enfeite do meu ovo de páscoa personalizado. Era incrível pensar que eles tinham organizado tudo aquilo só para mim... embora todos estivessem se divertindo no processo, é claro. Meus amigos sempre foram pessoas maravilhosas, e naquele feriado eles finalmente puderam provar.

Nossos 12 mesesWhere stories live. Discover now