Cinco - Parte 5

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5/5/2012

Eram quase uma da tarde e eu estava em pânico.

Já fazia uma hora que eu andava pra lá e pra cá em casa, inquieta e sem saber o que fazer. Comecei indo pra sala, checando se estava tudo no lugar, se meus irmãos não tinham deixado nada bagunçado. Depois fui pra cozinha, perguntar pela enésima vez pra minha mãe o status do almoço, se estava tudo pronto e se ela precisava de alguma coisa. Fui então ao banheiro ver se estava abastecido com papel, sabonete e toalha, se o vaso estava limpo e se o lixo estava vazio. E quando não tinha mais absolutamente nada pra checar, fui pro meu quarto me trancar, fingindo que me arrumava quando, na verdade, eu estava olhando o celular a cada trinta segundos.

"Chego aí em uns vinte minutos", dizia a mensagem de vinte minutos atrás.

A qualquer momento agora.

Meu deus, eu não estava pronta.

Olhei no espelho. Parecia arrumada demais pra ficar em casa, de jeans e uma das minhas blusinhas preferidas, uma branca sem mangas e com flores bordadas na barra. Normalmente, num domingo, eu estaria de moletom e descalça. Mas hoje não era qualquer domingo, e se eu pegasse alguém de moletom, seria capaz de gritar. Não hoje. Não quando ela estava a caminho.

De lá do meu quarto, ouvi a campainha tocar. Saí correndo.

- Ela chegou? – gritei, afobada, descendo as escadas de dois em dois degraus.

- Não corre na escada, menina! – minha mãe brigou, mas passei por ela como um raio – Por que você não deixou que eu abria?

- Porque não! – gritei, a chave do portão já na mão e correndo. Cheguei no portão sem ar e, imaginei, toda descabelada.

Jade estava lá, mãos nos bolsos, bem vestida à sua maneira – com a camisa xadrez verde e preta que eu sabia ser sua preferida, calça jeans e tênis. A cabeça lisa, cujo cabelo ela vinha raspando a meses, lhe conferia um ar jovem e inocente, de certa forma.

Ela era linda. Toda vez que eu a via, era como um choque de novo. Ela era linda, e ela era minha.

- Tá correndo pra que? – ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.

- Pra não te deixar esperando. – falei, como se fosse perfeitamente normal. Abri o portão, e Jade murmurou um "com licença" antes de entrar e me beijar. Mantive o contato breve, pro caso de minha mãe estar espiando da janela. Ela não estava totalmente acostumada à ideia ainda; não tinha pra quê chocá-la.

- Então... Algum conselho de última hora? – Jade perguntou, enquanto eu a guiava da garagem até a porta da cozinha.

Eu tinha uma lista interminável. Ia pedir pra que ela não falasse de política com o Marcos, que era um puta chato que não sabia quando terminar uma discussão. Ia aconselhar que ela elogiasse a comida da minha mãe, mesmo se ela não gostasse, só porque ela tinha um fraco por pessoas com bom apetite. Ia dizer pra em hipótese nenhuma ela criticar qualquer novela que fosse, ou minha mãe jamais falaria com ela de novo.

Mas no fim das contas, decidi que não importava.

- Seja você mesma. – falei. E entramos.

~*~

Já passava das três da tarde e eu estava infinitamente mais calma.

Jade tinha ido fumar um cigarro, e Marcos tinha ido acompanhar com a desculpa de que só queria conversar com ela melhor (como se a gente não soubesse). Igor estava na sala esperando o seu sagrado futebol começar, e eu estava na cozinha, ajudando minha mãe com a louça do almoço.

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