Setembro Chove - 3

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         Na maioria das vezes a luz no fim do túnel não é bem uma luz. É um led de 220 ligado no 110. É uma lâmpada do início do século XX. É um vagalume. Acende, apaga, acende, apaga, acende...


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As garotas davam risada de algo irrelevante. Adolescentes estão sempre rindo. É da natureza intrínseca deles. Algo que aconteceu em um seriado na semana? Alguma nova moda da internet? Uma nova rede social? Uma foto? Adolescentes estão sempre rindo. Fran dava risada com eles sem perceber.

O riso sempre escapa pela tristeza. O riso sempre vem quando a gente não espera, e sempre por motivos bobos. Fran olhou em volta, para seus amigos conversando sobre coisas triviais. Olhou para o riso deles. Olhou para os outros grupos de adolescentes no pátio coberto da escola. A maioria deles dava risada. Nem mesmo a chuva atrapalhava essa atividade crucial a idade.

"Todo mundo leva tudo ao extremo na adolescência." Era isso que seu pai costumava falar quando Fran era pequena. "Você não vai saber, não vai perceber. Vai acontecer e quando olhar para trás vai ver o quanto foi afetada pelos hormônios da adolescência." E gargalhava. Mas ela sabia que aquela tristeza não era por causa dos hormônios adolescentes. Simplesmente existe dentro dela.

- E o Greg? – Maya perguntou. Ela sempre teve uma queda pelo irmão de Fran. – Ele sabe que você está doente?

- Não... Não contei pra ele. Ele não precisa saber, nem se preocupar. Não tem sentido ele parar a vida dele por causa de mim.

Francielly pensou no irmão mais velho morando em outra cidade. Faculdade, estudo, sair, trabalhar, viver a própria vida. Ele sempre mandava mensagens para ela contando sobre tudo: novas garotas, sempre se colocando em problemas por causa delas. Fran respondia com algum comentário sarcástico. Alguns meses atrás, quando Fran já estava sentido a escuridão a cercar e começando a querer deixá-la sem ar, ele tinha ficado com uma garota com um apelido estranho de um nome de animal. Francielly pensou que essa seria a garota pra ele, mas Gregório tinha problemas demais e sentimento de culpa de menos.

Exceto quando era sobre ela. Greg não media esforços para que Fran não sofresse. Ela sempre se sentia muito pior com ele por perto quando tinha uma crise. Desde que o pai deles tinha ido, Gregório achava que ele precisa salvar a irmã de toda e qualquer situação. Isso só fazia com que Francielly quisesse que ele ficasse sem saber sobre sua situação. Ela riu para si mesma de forma sarcástica. "No escuro".

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Responda verdadeiro ou falso para as perguntas a seguir:

Pisca-piscas de Natal geram menos penumbra que postes de luz nas ruas. Verdadeiro ou falso?

Amigos e conversas podem ser uma boa distração, mas não fazem a escuridão ir embora. Verdadeiro ou falso?

Pessoas perdidas dentro da escuridão e que não conseguem ver uma saída também não conseguem amar outros. Verdadeiro ou falso?


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Apesar de não prestar atenção em nada que os professores falavam, Fran não dormiu durante o resto da manhã. Sim, ela ficou o resto das aulas desenhando nas margens do caderno, o fone de ouvido soltando as mesmas músicas de sempre, mas não encostou a cabeça em nenhuma superfície durante três horas inteiras. A outra surpresa era que a bateria do celular tivesse durado tanto.

Todos guardaram os materiais de forma apressada, e saíram da sala junto com o professor. As amigas se despediram de Fran sabendo que ela não estava preparada para um dia todo com elas. Mas Rafael ficou observando a namorada guardar suas coisas devagar.

- Você vai querer uma carona? – Ele perguntou, tentando chamar a atenção dela.

Fran olhou para ele e imediatamente respondeu que não com a cabeça. Ela abriu a boca para falar algo, mas a fechou em seguida sem saber o que dizer. Por algum motivo que fugia a sua compreensão, isso a lembrou de Ana Claudia. Fran respirou fundo e soltou o ar bem devagar, sentando em sua carteira. Ela encarou Rafael por um longo tempo e ele esperou.

- Você sabe que isso não tem nada a ver com você, né? – Fran observou a reação dele. Rafa arregalou os olhos e franziu a testa logo em seguida.

- Não... Quer dizer, eu sei que não tem a ver comigo diretamente. Mas eu me importo com você. Me preocupo, sabe. – Fran abriu a boca para retrucar, mas ele não deixou. – Eu sei que não é para me preocupar. Sei que você vai ficar bem e... bom...

Ele parou, respirando fundo. Parecia estar procurando as palavras certas para formular a frase certa.

- Fran... Sinto que a gente fica tendo a mesma conversa sempre, mas vou continuar falando a mesma coisa porque é assim que eu sou. – Francielly sorriu de leve. Ela sabia como ele era. O garoto mais compreensivo do mundo. – Eu só queria dizer que... Sei que você já sabe, mas eu gosto de reforçar, só por... Sei lá... Eu sempre vou estar aqui. Sempre. Não importa o que acontecer entre a gente, você é minha amiga antes de tudo. E nada vai me fazer te deixar.

Ela sorriu fracamente e ele a abraçou.

- Posso não saber o que você está sentindo, mas não ligo. Vou continuar aqui, até quando você quiser.

Os dois terminaram de se abraçar e Fran olhou mais uma vez dentro daqueles olhos. Eles eram o oposto da escuridão, mas ela sabia o quão perigoso era esse pensamento. Pessoas não podem ser a base da luz. Pessoas são passageiras, mesmo as que têm certeza que não irão embora naquele momento.

A luz precisa vir de dentro de si. É necessário gerar uma luz própria, e não brilhar por causa da luz de outro.

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Nossos 12 mesesWhere stories live. Discover now