Cinco - Parte 3

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5/5/2014

- Sabe o que eu mais gosto no mundo? – perguntei, de repente.

- De mim? – Jade provocou.

- Boba. - eu ri, cutucando-a na barriga – Também. Mas eu disse "o que", não "quem".

- Tudo bem. Do que você mais gosta no mundo?

- Disso aqui. Dessa paz.

Jade passou o braço pela minha cintura, chegando mais perto. Era a nossa primeira viagem juntas, apesar de já estarmos juntas há algum tempo. Jade era muito mais bicho da cidade do que eu, mas de alguma forma eu a tinha convencido a acampar e a fazer todas as atividades ao ar livre que ela odiava.

Agora era noite, e depois de um dia de trilhas e muito cansaço, estávamos deitadas na barraca desconfortável. Fazia um frio de rachar, e nem todo o contato humano do mundo parecia capaz de nos manter aquecidas. Jade tremia.

- Da próxima vez, me promete que a gente fica num hotel? – ela disse, batendo o queixo e puxando o cobertor mais pra cima – Um desses bem chiques, com cama quentinha, uma banheira e coisa e tal?

- A gente mal teve dinheiro pra alugar a barraca. – brinquei, e passei a mão pelas costas dela, na tentativa de esquentá-la – Na real, nem sei o que a gente veio fazer aqui? Eu sem emprego, você com um monte de conta pra pagar... Não era hora de gastar dinheiro.

- As coisas vão melhorar. E é o nosso aniversário. A gente merece um agrado de vez em quando.

- É.

Ficamos em silêncio. Era difícil discutir com Jade. Ela sempre tentava manter uma mentalidade positiva, manter a calma, o foco. Onde eu era tempestade, ela era calmaria. Em três anos, eu nunca tinha visto Jade perder a compostura. O mesmo não se aplicava a mim.

- Posso te fazer uma pergunta? – ela disse, então, toda séria. No escuro, era impossível ler seu rosto.

- Pode, claro. – respondi. Sempre odiei quando as pessoas perguntam se podem perguntar, em vez de só falar o que pensam; causam um mau agouro desnecessário na gente.

- Como você se imagina daqui a cinco anos?

- Com você. – respondi, sem nem pensar.

- Tá, mas e o que mais? – vi um sorriso brilhar no seu rosto – Tipo, a gente fala tanto do agora, e já falou tanto do passado, mas e o futuro? Você já parou pra pensar nisso?

Todos os dias. Todos os dias eu me perguntava se nós daríamos certo. Já estávamos juntas há três anos, mas nunca tínhamos falado do que queríamos pras nossas vidas, apesar de eu ter 24 anos e Jade quase 30. Nosso relacionamento se limitava a programas juntas, uma ou outra noite na casa uma da outra. Eu era adulta, mas namorava como uma adolescente, com medo de crescer.

- Eu tava pensando... – ela continuou, quando viu que eu não tinha resposta – Tem sido difícil segurar as contas lá em casa depois que a Lu mudou de lá. Eu já pensei em procurar algum colega de quarto, mas não é isso que eu quero, sabe? O que eu queria, de verdade...

- O que? – insisti, quando ela travou. Jade respirou fundo.

- Eu queria que você viesse morar comigo.

Ela se calou, e eu abri a boca, sem conseguir formular uma resposta.

- Morar... com você? – repeti, baixo e devagar. Jade suspirou.

- É só uma ideia. – ela disse – Eu entendo se você não estiver pronta, tipo, é um grande compromisso e...

Me desliguei de tudo o que ela estava falando e me pus a imaginar. Morar com Jade parecia... não sabia bem qual era a palavra. Inimaginável, talvez. Eu já tinha idade pra cuidar da minha própria vida, mas me sentia tão irresponsável às vezes. Eu não era o Marcos, que já estava noivo e preparado pra vida de adulto. E também não era Jade, acostumada a viver sozinha desde os 18 anos, quando saiu da casa dos pais em Sorocaba para estudar em São Paulo. Eu era jovem. Eu tinha largado duas faculdades. Eu não tinha a menor noção do que queria pra vida.

Mas morar com ela também me parecia... bom? Como uma oportunidade para finalmente me encontrar, assim como eu tinha me encontrado três anos antes, quando a conheci. Jade tinha sido meu farol em todos os aspectos nesses últimos anos. E ela tinha razão – para onde estávamos indo, afinal? O que seria do nosso futuro?

Só dependia de mim descobrir.

- Eu acho que seria uma ótima ideia. – respondi, interrompendo-a. Jade parou de falar e sorriu. Tomei fôlego e coragem e continuei – Eu sei que às vezes eu sou meio infantil, e que parece que eu não quero nada da vida. Mas eu quero, Jade. Eu quero você na minha vida. Quero que a gente envelheça juntas, e que a gente tenha filhos, e que a gente faça dar certo.

- Eu também quero tudo isso. – puxou minha mão e beijou a palma – E a gente vai ter tudo isso, eu prometo. Um passo de cada vez.

- Eu te amo. – murmurei, beijando sua mão de volta.

- Nem preciso dizer, né?

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Gentee, nem acredito que já estamos na parte 3, que tem gente lendo e QUE VOCÊS ESTÃO GOSTANDO! Sério, fico muito feliz com cada comentário. Às vezes eu respondo por esse perfil, às vezes pelo meu, mas estou sempre de olho :) Obrigada de verdade pelo retorno! É muuuuito importante pra mim saber que vocês também estão amando e shipando #Jadínia :) É um dos casais mais fofinhos que eu já escrevi, e saber que está funcionando pra vocês é lindo demais!

Vejo vocês dia 20! Até lá, convido todo mundo a visitar o meu perfil (LarissaSiriani) e descobrir mais sobre as minhas histórias :3

Beijos!

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