Verdade ou Consequência? - Parte 3

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-Agora sim a diversão vai começar! – Gustavo urrou, pegando uma garrafa e colocando no centro da rodinha. – A rainha voltou!

Aquilo era mentira, claro. A diversão havia começado meia hora atrás, quando toda aquela tequila tinha feito seu papel e me deixado bêbada a ponto de subir na bancada da minha cozinha americana e protagonizar a dança da Pequena Miss Sunshine, quebrando dois copos da Malu (minha colega de quarto) no processo. Mas, de acordo com o pressentimento funesto que me acompanhava desde a chegada dos meus amigos, eu provavelmente morreria naquela noite, então não teria que encarar a fúria de Malu no dia seguinte.

Soava como um bom plano pra mim.

Gustavo gritou, fazendo a garrafa girar alucinadamente. O grupo batucava nas próprias pernas, como índios que rufavam os tambores suas cerimônias. Ou festas. (Não sei diferenciar, a gente não aprende muito disso na vida, né? Mas sabemos como funciona a tradição celta do halloween de zilhares de anos atrás... Vai entender esse povo.)

A garrafa diminuiu a velocidade do giro, fazendo um suspense sufocante, até parar apontando para o Eliseu e a Sandra. Berros de diversão. Todos já sabiam que seria extremamente constrangedor.

-Menina Sandra, o que você escolhe? Verrrrdade ou consequência-ência-ência? – Eliseu perguntou, com voz de apresentador de programa de auditório.

Agitada, mas bastante segura, Sandra respondeu "verdade". Ela JAMAIS escolhia consequência, desde o episódio do xampu de ovo em 2012. Só permitiram que ela lavasse o cabelo no romper da aurora. Foi uma noite bastante fedida para todos nós. Mas para ela, o cheiro nem era o pior castigo: Sandra é vegana. Ela ficou inconsolável com aquele desafio.

-Muito bem, muito bem. Mocinha sincera. – Eliseu lançou um olhar malicioso. –Querida Sandra, conte para todos na roda o seu "Eu nunca" secreto. Aquele que você se recusa a revelar todas as vezes que brincamos disso, trapaceando descaradamente na brincadeira.

-Ei! Isso não vale! Ele está misturando jogos! – Sandra estava tão envergonhada que a cor do seu rosto ficava cada vez mais próxima do tom dos meus cabelos. – Não é justo! Gente, sério! Não é justo!

Houve uma pequena pausa para discutir os termos daquele crossover de jogos (nós teríamos que beber também? Aquela pergunta não era vaga demais? Se ele claramente já sabia a resposta, a pergunta era válida?), mas os protestos de Sandra foram tão veementes durante todo o tempo que, no fim de tudo, Mauro fez Eliseu mudar a pergunta, deixando o "Eu nunca" de lado. Ele deu um sorriso bastante maligno antes de continuar.

-Ok, ok... Eu me rendo... Sandra... O que seu ex-namorado tem de melhor que seu namorado atual?

Às vezes, a convivência no nosso grupo era bem complicada, especialmente porque havia uma teia de pessoas que haviam se relacionado umas com as outras e nem sempre eram maduras o suficiente para lidar com aquilo.

O momento de tensão teve fim quando Sandra respondeu, mortificada, que Eliseu tinha um cheiro ótimo que ela jamais ia esquecer (sequer precisava usar perfume, o bandido). Ele fez presunçosa de satisfação, mas a verdade é que a pergunta nem foi tão impactante assim. Daniel só iria nos encontrar no Pub do Brownie no fim da noite, então Eliseu não conseguiu causar o estrago que gostaria no relacionamento da Sandra.

O jogo continuou, com perguntas apimentadas (você já abriu uma G magazine?), idiotas (o que você acha da fanfic de Selena Gomez e Faustão?) e profundas (o que a vida te ensinou na marra?). Todas as perguntasforam acompanhadas pelas risadinhas histéricas da Marcela e pelos gritos do Gustavo de "Um brinde à essa resposta fenomenal! ". O bordão deu origem a um novo jogo, e toda a vez que ele gritasse isso, todos devíamos fazer fundo branco no copo do coleguinha que estava sentado à direta, independente do tipo de bebida e da quantidade que estivesse no copo.

Nossos 12 mesesWhere stories live. Discover now