Capítulo 3 - "Destino amaldiçoado, maldição predestinada"

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TODO PROFISSIONAL ALMEJA GANHAR FÉRIAS ou ao menos um dia de folga, principalmente depois de trabalhar dois dias seguidos. Sim, eu amava o meu trabalho mais que tudo, mas às vezes cansava, e quando eu finalmente ganhava dois dias de folga só desejava estar de volta ao hospital. Simplesmente eu não conseguia ficar longe. Era tedioso ficar em casa sozinha. Meus pais moravam no Texas, eu era filha única e não tinha muitas amizades, exceto com a minha melhor amiga que também tinha uma rotina quase igual a minha.

O centro do universo — aos olhos dos residentes — Nova York é uma cidade de múltiplas personalidades e repleta de culturas, oportunidades e experiências inesquecíveis esperando para acontecer. Disso eu não tinha dúvida. Tinha as melhores lojas, as melhores casas de shows, pessoas bonitas, os melhores hospitais... Urgh, também os piores trânsitos em um fluxo frenético de veículos, uns quase batendo nos outros, pessoas andando apressadas de um lado para o outro numa correria só... Mas mesmo assim amava aquele lugar. Eu não era rica, minha profissão me sustentava da melhor maneira possível e eu estava completamente satisfeita com isso. Tinha um primeiro andar em um bairro de classe média com garagem, meu carro e isso eram tudo o que eu precisava, embora meus dias de folgas fossem tediosos por não estar manuseando pinças e bisturis.

Ainda bem que esses dois dias se passaram voando, e voltando já estava eu para o Private Health. Era como eu dizia: esse hospital era a minha primeira casa, desde que eu vivia mais nele.

Passar pelo o saguão e ver toda aquela gente a espera de notícias dos seus entes era um pouco triste, embora eu sendo uma das melhores cirurgiãs eu era ciente de que nem todos os pacientes sobreviviam, até porque toda cirurgia é considerada de risco. Mas o pior não era isso, era quando o diretor do hospital tentava nos obrigar a dar falsas esperanças para a família do paciente, o que eu discordava ao ponto de nunca ter lhe obedecido. Eu sempre dizia a verdade, não importava o estado do paciente, mas eu sempre dizia. Era o meu jeito de ser, meu estilo. Isso não fazia de mim uma médica fria. A maioria dos médicos ao chegar no saguão diziam as famílias de pacientes terminais desesperadas que havia esperança quando na verdade não havia. Talvez eu parecesse uma pessoa insensível com minha demasiadasinceridade , mas eu dizia a verdade. Era uma das melhores coisas que eu tinha a meu favor, e fazer o quê se eu era assim?

O som dos meus saltos chocavam-se contra o piso vinílico do corredor do hospital que poderia ser ouvidos até do saguão. As enfermeiras me cumprimentavam e me olhava com reverência, como se eu mesma fosse a diretora, coisa que eu almejava em ser um dia, caso o doutor Grayson não pudesse mais comandar o hospital.

Ao passar perto da sala de traumas, pude avistar um grupo de internos perdidos. Fiquei me perguntando onde estava o mentor deles? Se eu fosse diretora isso não estaria assim. Internos causavam muita bagunça e isso me doía nos nervos. Ainda bem que o Diretor me poupou de um naquele ano, porque sinceramente, carregar o peso de um residente eu já sabia como era, e eu não era mais uma.

Desviando minha atenção dos internos, continuei caminhando até o elevador. Ao chegar no 4° andar, rumei até o vestiário feminino, mas antes que eu entrasse, ouvi vozes em discussão em um murmúrio nada discreto. Parei ao lado da porta e fiquei à espreita assim que reconheci as vozes. Era a Sandy, minha amiga discutindo o que ela chamava de relação mais uma vez com o Marcelus Fin.

— Que isso, gata? Você sabe que eu só tenho olhos pra você. — Marcelus disse com carinho, que aos olhos da minha amiga pareciam ser sinceros, mas eu sabia que não era.

— Me solta. Sai daqui! — Ouvi minha amiga rosnar e o som de um tapa desferido.

— Gata...

Resistindo às Tentações - COMPLETOWhere stories live. Discover now