Capítulo 6 - "Caindo em tentação"

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DEPOIS DE TER TIDO UMA parte do meu orgulho violado, fui para o refeitório me alimentar. Sentei-me em uma mesinha lá no final do espaço, e depois de ter me saciado pelo estrogonofe maravilhoso de Carll, a cozinheira do hospital, decidi ficar ali mais um pouco.

Eu estava até tranquila, proibindo a minha mente de pensar no diretor... Mas durou pouco, pois o mesmo entrou no refeitório sorrindo lindamente, e pior, acompanhado por Marcelus.

Franzi o cenho e estreitei meus olhos neles enquanto os mesmos se acomodavam em uma mesa bem distante da minha. Marcelus, o doutor mais mulherengo desse hospital, e Michael, o diretor gostosão que me atentava. Que tipo de pesadelo era esse que não tinha fim? Ver dois homens que já transei juntos era estranho. Eles sorriam enquanto conversavam, pareciam que se conheciam há séculos. Fiquei intrigada. Desde quando eles eram amigos? Isso não iria prestar!

Decidi mudar de lugar, ou melhor, sair dali era a coisa mais sensata. Então eu me levantei e passei por eles feito um vulto, sem cumprimentá-los. Eu e o Michael ainda trocamos um olhar que eu não sabia como decifrá-lo. Continuei andando sem olhar para trás e parei perto do balcão da recepção. Para me distrair um pouco, peguei alguns prontuários da cardiologia que estavam em cima do mesmo, me debrucei um pouco sobre o balcão e passei a examiná-los.

— Posso ajudá-la em alguma coisa? — Uma enfermeira perguntou, e eu olhei pra ela rapidamente.

Estranhei, não era a que se sentia intimidada por mim.

— Não, obrigada. Eu estou bem. Só olhando alguns prontuários. Se eu precisar eu digo, sim? — Respondi com sutileza. Ela balançou a cabeça, sorriu sem mostrar os dentes e continuou o que estava fazendo. Voltei minha atenção para os prontuários. Franzi o cenho ao perceber um erro em um deles. Aqueles resultados eram de uma lesão cerebral, e tinha a assinatura do Dr. Green. Mas quem tinha sido o idiota que trocou aquele maldito papel? Isso era coisa de interno, sem sombra de dúvida! Fiquei irritada. Isso poderia causar um grande engano caso eu não visse.

— É... Com licença, — chamei a atenção da enfermeira que rapidamente veio até a mim. Olhei para o seu crachá. Eram tantas enfermeiras naquele hospital que era difícil saber o nome de uma delas. — Pode mandar um dos internos mais antigos consertar este prontuário? Diga que foi a Dra. Hale quem mandou.

— Sim, doutora. — Ela assentiu e pegou o prontuário assim quando eu lhe estendi. Coloquei os outros de volta no lugar, e quando estava pronta para entrar em um dos corredores, ouvi uma voz irritante me chamar.

— Dra. Hale! Dra. Hale!

Parei e me virei para ver quem era. A Dra. Mota se aproximou de mim com uma cara nada animada.

— O que há, Dra. Mota? Por que a gritaria? — Perguntei-lhe.

— O Dr. Green disse para que eu a acompanhasse a partir de agora.

— E por que ele disse isso? — Perguntei intrigada.

— A Doutora irá me guiar no seu departamento.

Ahaaaa... nem fodendo!

— O quê?! Eu? Guiá-la? Mas quem te disse isso? — Olhei rabugenta para ela.

— O Dr. Green.

Tantos médicos e professores naquele hospital e ele tinha que fazer o mesmo que o Dr. Grayson, mandando uma residente para uma cirurgiã como se fosse uma interna? Não, não dava para eu trabalhar com aquela pessoa, ela era muito ligada a religião quando se tratava de cirurgia. Sim, eu acreditava que o meu dom de curar as pessoas era uma dádiva dada por Deus, mas quando se tratava de cirurgia eu não tinha pensamento tão ortodoxo como outros cirurgiões, eu seguia o meu instinto.

Resistindo às Tentações - COMPLETOWhere stories live. Discover now