Capítulo 20 - "Salve-me"

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NO DIA SEGUINTE, DESDE A HORA que eu chegara ao hospital, ouvi o boato de que o doutor Green havia recrutado todos os cirurgiões da sua equipe e os melhores internos do hospital para realizar uma operação em uma pessoa importante. Fiquei intrigada um pouco. Como assim uma pessoa importante? Toda vida era importante. Diziam pelos corredores que viram como ele estava mais do que determinado em salvar aquela vida, era como salvar a própria. Era isso que me deixava mais intrigada e curiosa para saber quem era.

Mais tarde, quando eu saí de uma sala de cirurgia, avistei Michael saindo da outra, ele parecia triste, a sua expressão cabisbaixa anunciava isso. Ele tirou a touca e começou a andar devagar, como se estivesse deixado todas as suas forças dentro daquela S.O. Franzi o cenho. Nunca tinha o visto assim. Alguma coisa séria havia acontecido.

— Doutor Green? — O chamei, mas ele não parou ou olhou para trás, e sim continuou andando.

Eu o segui, e quando ele entrou em uma sala, eu também entrei em seguida.

— Michael? — Olhei para ele, tentando entender o motivo daquela expressão nunca vista por mim antes. Ele estava triste, semblante desalentado e até mesmo abatido.

Ele me encarou, e pela primeira vez vi seus olhos lacrimejados, com as lágrimas já implorando para saírem. Meu Deus, o que estava acontecendo? Por que ele parecia tão sensível naquele dia?

Aproximei-me dele e perguntei:

— Você está bem? O que aconteceu?

Ele me olhou e abriu a boca algumas vezes, antes de falar devagar.

— Eu deveria estar, não é como se fosse a minha primeira vez. Mas por que eu estou me sentindo tão... triste? — E sorriu tristemente.

— Por que você diz isso? O que aconteceu? Hum? — Eujá estava começando a ficar agoniada. 

Ele não respondeu, apenas caiu em cima de uma cadeira e pôs a mão na cabeça. Ah... Como aquilo era agonizante.

— Eu perguntei o que aconteceu! — Aproximei-me mais dele, de modo que fiquei na sua frente.

De repente ele começou a suspirar forte, tentando reprimir o choro e as lágrimas que já molhavam o seu rosto.

Aquela cena... aquela cena... nunca passou pela minha cabeça um dia vê-lo daquele jeito... tão sensível.

— Michael... — Toquei no seu ombro na tentativa de acalmá-lo, mas ele agarrou a minha cintura e escondeu seu rosto na minha barriga. Fiquei mais surpresa e curiosa.

Então finalmente ele começou a falar:

— Um garotinho... faleceu na minha mesa de cirurgia. — Disse, com a voz chorosa.

— Hãm? O quê? Como assim?

— Eu fui incapaz de salvá-lo. — Continuou.

— Michael, isso acontece durante cirurgias. Tenho certeza de que você fez o seu melhor. Isso é o que importa. — Tentei acalmá-lo.

Ele balançou a cabeça em negativo.

— Não, Whitney, eu fui incapaz de salvá-lo também!

— Olha só. — Tentei tirar suas mãos da minha cintura para olhá-lo nos olhos, mas ele se manteve com mais firmeza, se recusando a me soltar. — Eu não sei o que aconteceu naquela sala de cirurgia, mas o médico é apenas um ser humano. Você é um ser humano.

— Aquela criança... tinha a mesma idade do Micael. — Confessou.

Ah, estava explicado o porquê daquela reação dele. Acho que ele viu naquele garoto o seu próprio irmão que como ele dizia "que foi incapaz de salvá-lo". Ficar dando murro em ponta de faca era inútil, mas mesmo achando que ele não deveria ter ficado daquele jeito, eu entendia o porquê. Ele lembrou-se do seu irmão que morreu quando era pequeno e ficou se sentindo culpado.

Resistindo às Tentações - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora