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"E é por isso que Trump não será re-eleito." Trisha defende depois de todo um debate se o presidente vai continuar ou não no poder nas próximas eleições. Ninguém aqui quer ele continue, mas Zayn tem certeza de que o homem-laranja continuará por mais alguns anos sendo presidente dos Estados Unidos.

"Eu vou pedir um táxi." Eu falo, quando percebo que está tarde. Trisha pergunta se quero dormir aqui e eu digo que não precisa, com um sorriso.

"Eu posso te levar para sua casa." Avan sugere. Ele só quer transar comigo e eu acho que prefiro pedir um táxi mesmo.

"Não precisa, vou pedir um Uber..." Sou interrompida.

"Eu posso levar você, Mila." Harry diz e de repente ele está todo simpático. Eu nunca vou entender esse garoto. "Eu já estava indo embora e sua casa é caminho para a minha."

O que ele está querendo? Me evitou por duas semanas e agora, de repente, pareço interessante de se passar vinte minutos em um carro? Realmente não acompanho seu raciocínio.

"Ah, então tá." Avan dá de ombros, frustrada, e eu suspiro. Eu não quero que Harry me leve, o clima entre nós está estranho demais. É quase como se pudéssemos tocar na tensão que há no ar.

Dez minutos se passaram até que eu e Harry estivéssemos em um carro sozinhos. Apenas nós e o Maroon 5 tocando na rádio. Ele parece sem graça. "Eu sei que não é uma Land Rover, mas..."

"Eu não me importo com isso, Harry. O carro é ótimo." Eu nem ao menos sei dizer o modelo do carro. Não sei modelo de carro algum. Ele pensa que agora, só porque meu padrasto é rico, sou metida? Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Harry sorri sem mostrar os dentes. Então está tocando uma nova música pop genérica e ele acelera. Há um silêncio estranho até que ele decide abrir a boca. "Suas roupas estão diferentes."

"Como assim?"

"Você se vestia de outra forma quando éramos pequenos." Comenta. É claro que eu uso roupas diferentes agora, eu tinha dez anos quando ele foi embora para a Inglaterra. Ele é o único por aqui que continua com as mesmas roupas desde sempre, as camisetas monocromáticas e as calças jeans não deixaram seu visual.

"Ah, que bom, né? Minhas roupas eram horríveis." Brinco, mas é verdade. Eu me vestia da pior forma possível, mesmo para uma criança.

"Eu gostava. Mais do que seu novo estilo."

Bom, e eu acho que você é mais arrogance agora do que quando éramos crianças, mas eu não fico comentando isso toda hora! Cara chato.

"Olha só, Harry. Se você não gosta do jeito que me visto, talvez não devesse olhar pra mim." Bufo e Harry começa a rir. É inacreditável! Ele é tão folgado.

"Gente, que foi isso? Era brincadeira, Esquentadinha. Adoro seu novo estilo, e como você se parece agora." Fala com um sorriso e eu não rio de sua brincadeira. Ele fica em silêncio por alguns instantes antes de respirar fundo. "E eu acho que esse é exatamente o problema aqui, não é? Não consigo parar de olhar pra você."

Se eu estivesse tomando água, eu iria engasgar agora mesmo. Ele simplesmente disse isso? Como eu reajo pra isso? Eu acho que gostei desse comentário. Mas por quê? Eu sempre me irritei quando ele me elogiava. Eu não posso estar começando a gostar dele.

Eu não quero gostar dele.

"Eu nem sei o que dizer." Admito.

"Por quê?" Ele parece, de fato, confuso.

"Porque você me trata bem uma hora, depois mal." Eu suspiro, frustrada, e ele me olha como se não entendesse. "Como não percebe o que faz? Ficou dando em cima de mim e depois disse que não estava dando em cima. Disse que ia me fazer companhia e beijou outra garota em vez de conversar comigo. Apareceu na minha casa e só porque não quis te beijar, não falou comigo por duas semanas."

"É claro que eu estava dando em cima de você! Eu disse que não estava porque você estava desconfortável com isso, então tentei melhorar a situação." Ele fala, não sei dizer se está irritado ou preocupado com minha opinião. Não sei dizer se eu estou brava com ele. "E, porra, já pedi desculpas por não ter voltado a falar com você na festa. E não estou falando com você porque não quis me beijar, eu tenho medo de falar com você porque acho que você não me suporta."

Eu não sei o que dizer. Ele acha que eu não o suporto? Não é assim, eu até gosto dele. É claro que é mimado e irritante, mas eu estava começando a me divertir com ele.

O silêncio volta e minha cabeça não para de pensar que eu quero logo chegar em casa para sair desse carro.

Parece uma eternidade até que Harry estacione em frente à minha casa. Quando vou deixar o carro, a porta está trancada. "Abre, por favor."

"Claro, mas... Só uma coisa." Ele destranca a porta, mas continuo lá, o encarando, nervosa e tensa pelo que vem a seguir. "Você teria me beijado? Se eu não tivesse sido um idiota naquela noite."

Eu demoro para responder, ponderando o que deveria ou não dizer. Ah, quer saber? Foda-se. "Sim. Quer dizer, eu... É, acho que sim."

Harry não diz nada, apenas me olha por alguns segundos, e eu me pergunto o que ele está pensando.

É minha vez de perguntar. "Você... Realmente não consegue parar de me olhar? Tipo... Você me acha bonita mesmo?"

Ele me olha como se duvidasse que estou realmente perguntando isso. "Honestamente? Porra."

Eu sinto um sorriso crescendo no meu rosto, mas não consigo evitá-lo. Harry se ajusta no banco do motorista e fica mais perto de mim. "Você é linda. Não consigo parar de te olhar desde que você me buscou no aeroporto."

Eu sinto algo diferente dessa vez. É tipo algo no estômago... Borboletas?

"É mesmo?" Eu deixo que meu sorriso tímido continue no meu rosto.

"É..." Ele cora e abaixa os olhos, rindo. Beige do Yoke Lore começa a tocar na rádio. "Mas eu tenho certeza de que vários já te disseram isso."

"Não é o que costumam me falar." Eu falo, vulnerável, e ele me olha nos olhos, como se me pedisse permissão. Eu encaro sua boca, enquanto Harry se aproxima ainda mais de mim. Eu sei o que vai acontecer agora, e, talvez pela primeira vez desde que Harry voltou, não estou nervosa. Eu me sinto bem, eu sinto que esse é o lugar exato onde eu deveria estar, e não há com mais ninguém que eu gostaria de estar.

Então ele estava me beijando. E eu estava beijando ele. Parecia o beijo descrito por Nicholas Sparks em A Walk To Remember: não demorou tanto tempo e certamente não era o tipo de beijo que se vê nos filmes, mas era maravilhoso à sua maneira. Tudo que me lembro sobre o momento é que, quando nossos lábios se tocaram, eu sabia a memória duraria para sempre.

R.E.M - HSOnde histórias criam vida. Descubra agora