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A campainha toca uma vez.

Duas vezes.

Três vezes.

Quem é, porra? Não quero falar com ninguém agora. Esta noite já está ruim, não quero que nada piore. Vou com meu pijama até a porta e abro com raiva. "Que é?"

Me assusto com quem vejo.

"E aí?" Dacre está com um sorriso. Aquele maldito sorriso que ele tem.

"O que você quer? E a essa hora da noite?"

"Seu pai esqueceu as chaves da loja... Ele pediu pra que eu trouxesse." Diz e me estende. Eu não pego. 

"Meu pai não está em casa." Cruzo o braço. "Ele foi à um jogo de basquete com Louis."

Ele continua com a mão estendida.

"Então pega a merda da chave, não vou ficar esperando." Ele manda e eu suspiro, pegando o que ele trouxe. Eu vejo um carro que se parece o de Harry passando pela rua e por um segundo espero que seja ele. Não era.

"Isso é tudo?" Eu pergunto e sinto meus olhos encherem de lágrimas de novo. Quando fiquei tão sensível assim?

Ele me olha por um segundo e percebe que estou chateada. "É, isso é tudo."

"Tá." Pego a porta e começo a fechá-la. "Tchau."

Eu fecho e tranco a porta quando ela toca de novo. Por um segundo espero que seja Harry, mas é claro que não é. "O que você quer, Dacre?"

"O que ele fez com você?" O loiro de cabelos até os ombros pergunta.

"Do que está falando?" Não é possível que ele saiba.

"Você sabe." Ele fica sério, mas parece tentar ser delicado. "O Harry."

"Não foi nada..." Tento fechar a porta novamente, quando ele segura.

"Mila." E

Eu encaro Dacre por alguns instantes antes de soltar a porta e deixar que ele entre. "Como sabe que foi ele?"

"Porque eu te conheço." Ele levanta uma sobrancelha e as memórias da coisa mais horrível que fiz nada vida, trair Avan, aparecem na minha cabeça. "E conheço o Styles."

"Ele é apenas um pedaço de merda." Solto e ele ri. Eu acabo dando uma risada seca. Toda essa situação de hoje foi simplesmente patética. Avan, Harry. Dois ridículos. Eu provavelmente estou sendo também.

"É isso aí." Oferece a mão para um high five. Eu não retribui, apenas encarei sua mão. Dacre suspira, deixando de ser o cara babaca que geralmente é. "Quer falar sobre isso?"

Eu penso se deveria. Ele está sendo gentil e atencioso, mas ele não é assim. "Não."

"Ok." Ele se dá a liberdade de acender a luz da sala e sentar no sofá do meu pai. Jogo as chaves da lanchonete na mesa de centro e me sento ao lado dele.

"Então... Vai ficar aqui?" É a primeira vez em algum tempo que não me importo se ele quiser ficar. Ele é o cara menos babaca na minha vida agora, tanto faz, o dia já está uma merda mesmo.

"Eu posso?" Ele pergunta de verdade.

"Não sei porque gostaria." Pego o controle da televisão e ligo no E!. "Não tem uma camisa para abotoar?"

A camisa de Dacre está desabotoada quase inteiramente. Eu notei isso quando chegou, mas só agora me pareceu conveniente falar sobre isso.

"Você quer mesmo que eu faça isso?" Sorri daquele jeito e eu rio, concordando. Eu não quero que ele se feche, na verdade, mas não posso ficar sozinha com Dacre, com ele sem camisa, enquanto estou carente. Isso não deu certo na primeira vez. "Tudo bem então. É sério que está me fazendo assistir ao programa das Kardashians?"

"Eu não estou fazendo você fazer nada."

"Eu acho que existem coisas mais legais que podemos fazer, é só isso." Ele fala, sugestivo, e eu começo a me lembrar porque não gosto dele.

"Não vou transar com você." Digo, decidida. É mais fácil falar isso agora com ele com a camisa abotoada. Eu tive algo com ele, algo sujo e errado, mas eu tive e eu estava apaixonada. Eu estava realmente gostando dele por muito tempo e nunca disse isso para ninguém. Eu só parei de gostar dele quando... Bem, quando busquei Harry no aeroporto internacional.

"Por que não? Foi muito bom quando fizemos isso das outras vezes. Você até disse que eu era melhor que o Avan." Dacre realmente vai me provocar hoje? Quer mesmo levar um soco.

"Eu era retardada quando traí o Avan com você e combinamos de nunca falarmos sobre isso. Não lembra?" Explodo. Eu não gosto nem de pensar que fiz aquilo, e foi horrível dizer em voz alta. É por isso que ninguém pode saber. Avan não sabe disso e nunca vai saber.

"Ok, desculpa. Só queria te animar, meu Deus." Respira fundo e volta ao seu jeito gentil de agora a pouco, ainda estou irritada com ele. "Quer dar uma volta? Como amigos?"

"A gente nunca conseguiria ser só amigos, Dacre." Ele sabe disso. Tem que saber disso, e tem que parar de me importunar.

"Isso é verdade. Nunca vamos ser só amigos." Suspira. "Mas a gente pode tentar e não conseguir. Vamos, eu não vou colocar as mãos em você hoje."

"Hoje?"

"Essa é a parte que a gente não consegue ser só amigo." Pisca pra mim e eu não consigo não rir. Ele se levanta do sofá e estica a mão pra mim. Eu pego em sua mão e ele me solta, me fazendo cair de novo no sofá. "Ei! Nada de mãos, esqueceu?"

"Você é um besta." Me levanto e o empurro, rindo. Ele até que está me ajudando. "Onde vamos?"

"Avalon." Ele diz com um sorriso.

"Avalon? Em Hollywood?" Até parece. É uma festa famosa que, aos sábados, costumam acontecer eventos com shows de DJs famosos. "Você não precisaria ter ingressos pra entrar na festa?"

"Não por onde eu entro." Diz e eu faço varias perguntas, e ele me explica que o irmão dele começou a namorar o segurança da festa e ele simplesmente deixa que ele entre pela porta dos fundos. "Você vai assim?"

É aí que percebo que estou de pijamas.

"Espere aí." Eu corro até meu quarto, até um pouco animada, esquecendo do que aconteceu no cinema e das consequências enquanto me arrumo para sair com Dacre. Me sinto com doze anos de novo, quando estávamos na festa de aniversário dele e ele me deu o primeiro pedaço do bolo, ou quando eu tinha quatorze anos e ele me beijou na quadra da escola. É animador, e aterrorizante. É como se eu sempre tivesse algum sentimento por ele. Ou então estou apenas tentando reprimir o que sinto por Harry.

De qualquer forma, Dacre e eu vamos até a festa. Honestamente, não lembro de muita coisa. Apenas flashes.

Eu acho que parte de mim sabia que iria acontecer no momento em que eu o vi na porta da minha casa. Realmente não foi nada que ele disse, nem nada que ele fez, foi o sentimento que veio com isso.

Eu lembro de dançarmos, e lembro de pensar que estava dançando com o Diabo, e a coisa mais incrível é que ele parecia realmente se importar.

Lembro de pensar que Dacre é lindo. Lembro de me perguntar: como o mal pode te aproximar de alguém que se parece tanto como um anjo quando sorri?

E eu me lembro de quebrar a promessa que fiz a mim mesma. Definitivamente, eu nunca conseguiria ser só sua amiga.

R.E.M - HSOnde histórias criam vida. Descubra agora