Narrado por Laura

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***flashback***
H: Ricardo, então vai embora da minha casa! Vai embora da minha vida! Pelo amor de Deus, me deixa em paz!
R: Helena, eu não quero isso... Você sabe! Nós temos uma filha, Helena! Uma filha! E ela está aqui do nosso lado, será que você entende?
H: Sim! Eu entendo, mas ela não entende... Só tem quatro anos, Ricardo. Eu não aguento mais! Eu entendo! Ela não! Por favor, some!!!
R: Só queria te pedir mais cautela a lidar com isso... Será que podemos nos sentar, em outro momento, e conversarmos civilizadamente? Eu não quero que isso acabe assim, você sabe, meu amor... E eu sei que você também não quer, está de cabeça quente.
Minha mãe se encaminhou até a porta, pôs os dois braços na altura da cabeça, encostou-os na porta e apoiou a cabeça sobre eles.
H: Então some até ela esfriar!
Mamãe chorou, eu vi. Eu lembro. Eu sempre fui boa de memória e ela sabe disso... Só não sabe do que eu me lembro. Depois, ela encaminhou sua mão até a maçaneta da porta, a abriu e olhou para meu pai. Meu pai não pestanejou, mas saiu como se fosse a própria fúria em pessoa.
R: Eu não vou me despedir da Laurinha porque sei que eu vou voltar...
Ele não se despediu de mim e também nunca mais voltou. Não pra aquela casa. Essa é a minha lembrança mais fiel de meus pais juntos, não há nenhuma outra. Eles se separaram quando eu tinha apenas quatro anos, nem se quer sei como é ter pai e mãe juntos.
***flashback***

Fim de tarde de uma sexta. Em Ipanema, posto 8, mais precisamente. Eu caminhava após um dia exaustivo de faculdade. Faço Direito na UFRJ, sim, eu sempre fui muito dedicada aos estudos, isso tudo por ter uma mãe que sempre prezou muito pela minha educação e um pai que... é. Um pai. Eu andava em busca de casa, costumo descer alguns quarteirões antes de casa, na orla, quando estou cansada, sou adepta a essa ideia que o mar tira o cansaço e tudo mais. O mar me acalma, me alivia. Sempre foi assim, afinal, fui criada na areia do mar, praticamente.
              Enquanto eu caminhava, alguém que corria no calçadão esbarra em meu braço e deixo cair alguns livros, mas não me aborreço, afinal, era fim de tarde de uma sexta. Em Ipanema! Aquele céu laranja e o mar azul não ia me deixar ficar furiosa de modo algum, e eu nunca fui dessas de pavio curto... Graças a Deus! Já mamãe... Mas ela fica pra outra. A pessoa que havia esbarrado logo volta a atenção pra mim, tirando os seus fones de ouvido enquanto eu já estava no chão apanhando minhas coisas.
xx: Nossa, perdão. Mesmo! Mil desculpas! – ela logo se ajoelha para me propor ajuda
L: Não! Que isso! Sem problemas, mesmo.
xx: Ei, espera. Laura??? É você?
L: Susana?! Querida!
S: Ai, Laura, mil desculpas por ter esbarrado, de verdade... Mas é que eu sempre caminho sem meu óculos e você sabe, muito grau pra pouco eu... Sempre acontece isso.
L: Magina, Susana! De boa! Não tem como se aborrecer com um pôr do sol desses, né?
S: Ai, verdade... O Rio realmente continua lindo. Mas vem cá, você não quer tomar uma água de coco comigo? Pra gente papear um pouquinho, garota! Afinal, quanto tempo, né? Você nunca mais andou lá em casa...
L: Sim! Meu Rio é realmente impecável... Aceito sim! Eu só ia pra casa agora fazer nada mesmo – risos, começamos a caminhar em busca de uma birosca que havia no calçadão – Pois é, Susana. Meu pai também anda muito distante, né? Ele tá com esses trabalhos novos e vive viajando...
S: Pois é, menina. Ele tá na Bahia agora, chega amanhã... Vamos buscar ele no aeroporto comigo? – nos sentamos, e pedimos nossa água de coco, entre um gole e outro, o papo rolava e o cinismo dela também.
Ah, você acha mesmo que Susana é uma alma boa? Dessas que tem 30 e poucos, malha no calçadão com um macacão que mostra todas as suas curvas, e mesmo assim, namora meu pai, de quase 60 anos, grisalho, e com uma maravilhosa condição financeira. Não que eu tenha nada contra, só experiência própria mesmo, mores! –
L: Amanhã? Hum... Que horas? Faz tempo que eu não vejo o velho...
S: Sim, o voo dele desembarca às 12:10. Vamos?
L: Ah, horário bom... Aproveitamos e almoçamos juntos, pode ser?
S: Ih, nem sei... Tenho um almoço de negócios depois desse horário, mas se vocês quiserem, podem ir juntos.
L: Ah, entendo. Por mim, belê! Só depende do velho agora... – risos –
S: Ele vai adorar, aposto! Então nos vemos amanhã, tá? Passo lá pra te buscar ou você vai pro aeroporto?
L: Acho que eu posso ir pro aeroporto, mamãe não tem nenhum compromisso aos sábados, peço o carro emprestado.
S: Hum! Ok! Combinado. Agora deixa eu ir, amada... Quero completar os 5km. – Susana me dá um beijinho na bochecha e começa a caminhar novamente

Paralelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now