Narrado por Helena

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Laura desceu do carro no aeroporto, fiquei aguardando... Eu não via Ricardo há uns 3 anos, no mínimo. Quando Laura saía com ele, eu sempre fazia questão de sair de casa antes que ele chegasse e, graças a Deus, nunca dei a sorte de esbarrar com ele por aí. Nossa relação sempre foi cheia de altos e baixos enquanto estávamos juntos, ficamos casados durante nove anos, e puxando até pro namoro, foram longos treze anos, demoramos muito para conseguirmos ter Laura, antes dela, eu sofri um aborto espontâneo, mas Ricardo sempre foi compreensivo, sofreu junto comigo e aguardou... Ele sempre esteve comigo enquanto estávamos juntos, e me arrependo friamente desde o dia em que abri aquela maldita porta pra ele. Não devia ter sido daquele jeito, ele estava certo, como sempre. Ricardo sempre foi mais lúcido, mais calmo, já eu, tenho pavio curto e definitivamente não posso fazer nada de cabeça quente. Além de ser muito, muito orgulhosa, motivo para que eu mantivesse minha decisão durante esses dezessete anos. Mas como todo café esfria, cigarro apaga, assim foi com meu arrependimento e meu amor. Tudo foi esfriando, ficando frio, foi ficando... Seco. Eu não o amava mais como antes, não mesmo. Mas amava. Por isso temi esse nosso encontro depois de tanto tempo, esse duraria mais, pois os que haviam acontecido, não passavam de coisa de 10 minutos, ou casamento de alguns amigos, em que eu passava a festa toda me escondendo, ou um aniversário de Laura, mesmo que ele só tenha comparecido a dois... Mas, bom, nada demais.

L: Acho que é ela ali, pai. Manhêee!! – eu já conseguia ouvir a voz de Laura a me procurar
H: Oi, filha! Tô aqui! – acenei pra eles com um sorriso no rosto, paralisei uns 3 segundos, coisa mínima, com aquele sorriso mas logo depois entrei no carro.

Olhei no retrovisor, vi Laura arquitetando... Ele sentaria na frente. Ela dizia que crianças não podem ir no banco da frente. Laura sendo Laura! Ricardo abriu a porta do banco de trás.

L: Pai! Vai fazer a mamãe de motorista mesmo? Ela vai na frente e nós dois atrás? Porque já te disse, crianças não andam no banco da frente. – balancei a cabeça negativamente e Laura deu de ombros entrando no carro.

Ricardo abriu a porta da frente e sentou-se no banco, colocou o cinto e sorriu de canto de boca pra mim enquanto eu dei a partida no carro.

L: Ah! Esqueci de apresentar vocês dois, né? Bom, Helena, esse é Ricardo. Ricardo, essa é Helena.
H: Laura, por favor, né, minha filha...
R: Sem problemas. É sempre um prazer conhece-la, Helena.
A cena que se passava ali me dava a certeza que os dois haviam ensaiado todo aquele teatrinho.
H: É recíproco, Ricardo...
R: Mas, e como vão as coisas com vocês? Eu estava com saudades da minha menina.
H: Tudo bem, graças a Deus. Ela também sentiu sua falta, se queixou por você estar viajando muito...
L: Mamãe se queixou também, pai. – queria largar minha mão em Laura nessa hora! – Disse que você só tinha tempo pra Susana...
R: Foi mesmo? Bom saber, Laura. – ele olhou sorrindo pra mim – Mas meu tempo anda mesmo muito corrido, muitas viagens.
H: Tenho percebido, você e Laura nunca mais haviam saído.

Enfim passaram aqueles 15 minutos que eu jurava serem anos, chegamos ao restaurante, estacionei o carro e desci junto com eles.

R: Ah, então quer dizer que será um almoço de família completa? Você também vai ficar, Helena?
H: É, vou. Mas já tinha um almoço marcado aqui. Antes de vocês. – sorri e parti mais na frente dos dois.

Ao entrar no restaurante, Walter já me esperava. Ele era alto, um pouco grisalho e sempre o achei com o charme que tem o... William Bonner, que tal? Muito galanteador, e muito, muito gentil. Enquanto eu me aproximava, ele apontava pro relógio como quem dizia "atrasada, Helena. Atrasada.", eu sorria com a mão na cabeça, quando cheguei bem perto, recebi um receptivo abraço dele.

H: Eu sei, eu sei. Atrasada, dona Helena. Atrasada. – nos soltamos do abraço - Mas acontece que tive de ir pegar o Ricardo no aeroporto com a Laura e acabei... – antes mesmo que eu terminasse, Walter me interrompeu.
W: Espera. Ricardo não é seu ex-marido? Aliás, aquela não é sua filha? – ergue a cabeça para Laura que estava um pouco mais atrás de mim – Ali, perto do balcão.

Estranhei o modo com que Walter falou de Ricardo... Bom, eu já havia comentado algumas vezes com ele, mas nada demais. Fiquei meio sem jeito, virei para reconhecer Laura.

H: Sim, sim. Aquela é minha menina! – sorri de uma ponta a outra e acenei para Laura, Ricardo parecia não ter entrado no restaurante ainda. – Laura! Vem cá, filha!
L: Oi, mãe! – nesse momento, Ricardo começou a aproximar-se de nós, parecia não gostar nada da cena, confesso.

Paralelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now