Narrado por Ricardo

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Eu sabia que Walter não era apenas um amigo, ou um colega de trabalho, depois dessa, tive certeza. Quis fazer mil indagações a Helena, mas apenas entrei, em silêncio, dentro do duplex. Vim seguido de Laura, que estava molhada também.
L: Pai, vou me trocar, se o senhor quiser, pode ir se trocar lá em cima também. Você tá com alguma roupa reserva aí?
R: Tô sim, filha, ali na mochila. – apontei pra mochila – Tá ok, já vou indo. Vou só te esperar sair do banheiro...
L: Tem o da mamãe também, pode usar. O de visitas aqui em baixo está com o chuveiro quebrado.
R: Acho melhor não, né?
L: Tanto faz. Quando ela entrar, pede a ela.
Assenti com a cabeça. Helena ainda estava lá fora, certamente, pensando no que havia feito... Se é que fez. Pouco depois, ela entrou.
R: Helena... – antes mesmo que eu acabasse, ela me interrompeu –
H: Não vem, Ricardo! Não vem mesmo! Você não tem nada a ver, tá bom? – ela me disse gesticulando com as mãos e encarando o chão, como quando costuma fazer quando está com raiva... E estava. Ou pelo menos se sentindo culpada. Não sei.
R: Helena, eu só ia lhe perguntar se você poderia me dar uma toalha para que eu tomasse um banho e se posso usar o seu banheiro, Laura me disse que o chuveiro deste aqui está quebrado. Enfim, tá vendo como você complica demais as coisas?
H: Ah... É... Posso, posso sim! Vamos subir, que eu pego a toalha pra você. E, ah! Me desculpa pela precipitação...
R: Sem problemas. Já me acostumei. – sorri e subimos as escadas, Helena estava a minha frente subindo a escada com um vestido que deixava seu quadril e sua cintura bem definidos, e a vontade que eu tinha era de toma-la pelo braço e lhe dar um beijo desses que não dei nesses dezessete anos...
Chegamos no quarto dela, que já foi nosso e ali estava tudo mudado. Mais que a sala. Mais que qualquer outro canto.
R: Nossa! Então sua rebeldia estava escondida aqui? Aqui tudo mudou... De verdade, né?
H: Sim, mudei muita coisa. Afinal, era aqui, não é, Ricardo?
R: É... Sim. – Helena abriu a porta do closet enquanto eu ainda observava tudo naquele espaço, que pra mim, não era novo, mas estava diferente.
Ela se agachou para pegar a toalha, certifiquei que o barulho do chuveiro de Laura ainda estava ligado e não consegui me segurar. Peguei no seu braço, a levantei, com o impulso, a toalha foi arremessada contra a parede, virei-a pra mim.
H: Ric... – ela não conseguiu terminar, eu olhava no fundo de seus olhos, nossos corpos estavam colados. Puxei-a mais pra mim e lhe dei um beijo com uma saudade de dezessete anos. Fomos andando conforme o beijo rolava, eu a virei contra a cama e caímos lá mesmo. Parei o beijo por dois segundos para que retomássemos o fôlego, olhei em seus olhos e ela me puxou pra si.
Continuamos o beijo e suas pernas estavam entrelaçadas na minha barriga. Ali eu tive a certeza que ela também queria. Tanto quanto eu.
Ouvi o barulho do chuveiro de Laura desligando e parei o beijo, coloquei meu dedo sob a boca de Helena
R: Shiu! Laura saiu do banho, vamos nos recompor.
H: Ai, meu Deus... Onde eu tava com a cabeça, Ricardo? Aliás, onde você tava com a cabeça? – ela disse enquanto ainda estava deitada na cama e pôs as duas mãos na cabeça
R: Você estava com a cabeça onde sempre deveria estar... E não é acima do pescoço! E eu, está onde ela sempre esteve: em você.
H: Ricardo, pelo amor de Deus, a gente não pode fazer isso!
R: Porque não, Helena? Que mal que tem? Duas pessoas que já se conhecem por inteiro, que já se amaram muito, dizerem "sim" novamente?
H: Não sei, só sei que não vai colar bem, Ricardo.
Pouco tempo depois, Laura se manifestou.
L: MANHÊEEEE!!!! EU ESQUECI QUE A LUISA VINHA AQUI E ELA AGORA TÁ LÁ EM BAIXO! TÔ CORRENDO E JÁ VOU SAIR! – Laura gritou do quarto dela, Helena saiu do quarto e foi até lá, Laura já estava descendo as escadas.
H: Laura, espera!
L: Mãe, a Luisa tá lá em baixo me esperando já! – Helena desceu as escadas rapidamente
H: Você vai me deixar sozinha com teu pai aqui? – ouvi Helena dizer isso e ao mesmo tempo sorri
R: Não se preocupe, Helena, eu não vou te sequestrar... – gargalhei olhando da escada para elas
L: Viu?! E não foi você quem disse que já eram maduros o suficiente para lidar com momentos como esse? Tchau, tô indo!
Voltei ao quarto, peguei a toalha novamente e me dirigi ao banheiro, Helena entrou no quarto.
H: Você se sentiria incomodado se eu te pedisse pra ir tomar banho no banheiro da Laura? – Helena falava em um tom mais alto para que eu escutasse, já estava entrando no chuveiro.
R: Helena, eu já estou entrando no banho! Prometo não deixar o chão molhado e nem a tampa do vaso levantada.
H: Só está com a porta do banheiro aberta, né, Ricardo...
R: Ih, é verdade. Eu e essa minha mania horrível! Sabe que quando fui a uma reunião de negócios em São Paulo e fiquei junto com o Olívio no quarto do hotel ele fazia questão de sair do quarto quando eu ia tomar banho?
H: Ah, não, Ricardo! Até num hotel? – Helena gargalhou
R: É sério! – ri junto com ela
H: Tá. Mas nesse caso, eu prefiro só fechar a porta, afinal, o quarto aqui é o meu. Ok? – Helena se aproximava da porta do banheiro, quando ela segurou no trinco, abri o box do banheiro e peguei em sua mão, a puxei.
H: RICARDO!!!! – Helena falava sério mas queria sorrir, eu percebi.
R: Eu só quero que você pegue minha toalha, está aí, ó. – apontei pra toalha, Helena a pegou e tapou os olhos, virou-se pra mim e estendeu o braço com a toalha.
H: Toma!
R: Helena? Ah, não... Pelo amor de Deus! Você não acha que além de sermos maduros o suficiente já não nos conhecemos o suficiente? – ao invés de puxar a toalha, lhe puxei pelo braço colocando-a dentro do box, liguei novamente o chuveiro e isso fez com que ela tirasse as mãos dos olhos.

Paralelas [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora