Narrado por Ricardo

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Eu e Helena estávamos deitados quando recebi uma ligação, era Fátima, a mãe de Susana. A cada ligação dela ou de Susana, meu coração palpitava só de sentir a sensação que André estaria chegando... Houveram inúmeros alarmes falsos, mas a ansiedade continuava!

F: Ricardo? A Susana está em trabalho de parto! Estamos indo pro hospital!
R: Que??? – Disse espantado e me levantando, balançando o braço de Helena para que ela despertasse – Vão pro hospital que eu deixei o endereço com a senhora, certo? Já estou indo pra lá! Com quem vocês estão indo?
F: Com nosso vizinho, não se preocupe. Tudo bem, estamos a caminho. – desliguei e me pus a tentar acordar Helena novamente enquanto vestia minha roupa

R: Helena! Helena! Acorda! O André tá nascendo!
H: Oi??? Sério isso? Não é alarme falso? – Falava meio sonolenta
R: Não, amor! Não é! – falei com os olhos marejados – Vamos, amor! Temos que ir ao hospital!

Nos vestimos rapidamente e nos dirigimos ao hospital. Chegando lá, dona Fátima estava aflita na recepção, com um terço na mão.

R: Dona Fátima! Finalmente chegamos, o trânsito estava um inferno, como sempre! Cheguei a tempo? – falava com um certo desespero, enquanto Helena segurava minha mão
F: Ainda bem que você chegou, Ricardo! Sim, chegou a tempo! Acabaram de leva-la para a sala de parto, mas ouvi o médico falar que a pressão dela está alterada, tentei perguntar algo, mas não me deram ouvidos e levaram ela... Eu tô tão nervosa, Ricardo! Não deixe que nada aconteça com minha filha e nem com o meu neto, por favor! – me pediu como uma súplica, pegando nas minhas mãos e com lágrimas nos olhos
R: Os médicos falavam muito dessa alteração de pressão dela nas consultas, mas diziam que não era nada demais, não era tanta alteração assim. Vai dar tudo certo!
H: Amor, acho melhor você tentar entrar na sala de parto logo. – puxei Helena para um pouco mais longe de dona Fátima
R: Meu amor, por favor, fique com ela, vou entrar. – dei um beijo na testa dela
H: Não se preocupe. Vai lá e só volte com o seu garoto! – ela me deu um sorriso enorme que me encheu de confiança

Me dirigi a sala de parto com uma enfermeira que me deu as instruções, vesti a roupa adequada e entrei na sala. Quando entrei, o parto ainda não havia começado, segurei na mão de Susana.
R: Apesar de tudo, eu estou aqui e quero, tanto quanto você, ver o rosto desse menino.
S: Acho que você quer mais que eu...

Logo os médicos pediram pra que eu me afastasse e começaram os procedimentos da cesárea que eu sinceramente, não entendo nada. Mas, lhe aplicaram a anestesia e pediram que eu continuasse lhe dando forças.

S: Sei que não fui a melhor pessoa do mundo e nem serei a melhor mãe, mas, essa criança não tem culpa de nada. Cuide dele, por favor.
R: Porque você tá dizendo isso?
S: Por nada, Ricardo, só quero que você saiba disso.

Os médicos pediram que eu me afastasse novamente e agora tinham pressa. Eu não estava entendendo muito bem, mas percebi a tensão pela pressa, e pelas palavras que pra mim, eram de difícil entendimento.

R: Doutor, o que está acontecendo? Como está o bebê?
D: Com o bebê está tudo bem, ele vai sair em um segundo.

Logo escutei o choro de meu menino naquela sala, me emocionei e foi difícil conter as lágrimas. Cheguei perto de Susana para lhe parabenizar e ela estava desacordada.

R: Doutor! Ela está desacordada!!!

O monitor cardíaco fez um barulho ensurdecedor. Eu não sabia me colocar naquela sala, o choro de André, o barulho do monitor, minhas lágrimas. Os médicos tentaram reanima-la, mas foi em vão. Susana se foi. Saí da sala aos prantos e por um momento esqueci que um ser pequeno e indefeso precisava de mim e mais que isso: esqueci até que nunca amei Susana, naquele momento eu só lembrei que ela era a mãe do meu filho. Encontrei dona Fátima, Olívio, Marília e Helena no corredor.

F: O que aconteceu, Ricardo? Fala!!! – soquei a parede com toda força que eu pude
R: Eu falhei, dona Fátima. Me perdoe! Eu não pude evitar! – Helena correu para me abraçar e Fátima agarrava na gola da roupa que eu usava me suplicando por uma explicação
H: Meu amor, nos explique o que aconteceu. Fique calmo. – Marilia vinha trazendo um copo d'água
M: Beba, Ricardo. – bebi a água e me acalmei um pouco mais, segurei nas mãos de dona Fátima e olhei em seus olhos
R: Infelizmente, Susana se foi. Me perdoe. Eu falhei. Mil vezes eu falhei. Me perdoe por ter lhe dito que ia dar tudo certo, quando na verdade, eu sou um engenheiro e não um médico. – dona Fátima já estava descontrolada, Marilia lhe acalmava
F: E com o meu neto, Ricardo? Por favor, me diga que está tudo bem!
R: Sim, com o Andrézinho está tudo bem! – dei um breve sorriso – É um meninão! Gordinho!
H: Você é avó, Fátima! – disse Helena tentando anima-la, e ainda conseguiu lhe arrancar um sorriso em meio às lágrimas
F: Ainda bem! Mas minha filha... meu Deus, me dê forças para suportar tamanha dor! Como eu vou cuidar dessa criança, Ricardo? – Helena e eu nos olhamos
H: Vamos falar disso depois, certo? Agora, vocês tem que ver o pequeno André. Eu estou ansiosa para conhece-lo, vamos!

O médico logo veio nos dar as informações concretas sobre a causa da morte e também autorizar nossa entrada no berçário. Susana estava com a pressão alterada e não teve repouso nas últimas semanas, isso tudo ocasionou sua morte. Fátima, com a ajuda de Olívio e Marilia, ajeitaram todas as papeladas ali mesmo. Laura chegou ao hospital um pouco mais tarde, havia viajado e só conseguiu chegar naquela hora. Estava saltitante por poder, finalmente, ver seu irmão, mas também se solidarizou com a partida de Susana. André era pequeno, mas gordinho, pesava 3.500g! Helena e eu não saíamos do pé do berço dele, quando tínhamos que sair, ele não queria soltar nossa mão. Laura não parava de falar nele um minuto se quer, precisou sair logo do hospital, foi uma visita breve, mas ligava a todo momento. O enterro de Susana aconteceria no dia posterior, mas eu decidi que não queria ir e Helena concordou comigo. Estávamos olhando André ser alimentado pela enfermeira através do vidro da sala, ele estava sendo alimentado com leite materno doado numa mamadeira. Não parávamos de sorrir e eu estava extasiado com tamanha felicidade, mesmo assim, pensativo.

R: O que vai ser desse menino sem uma mãe, Helena? Eu sei que ele tem pai, tem vó... Mas mãe é mãe.

Paralelas [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora