Narrado por Laura

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Eu e Livia fomos a casa de Denise, outra amiga nossa... Ao descer do carro em frente ao meu prédio, pasmem! Papai ainda estava lá. E melhor: com mamãe bem do lado! Nem me lembro da última vez que vi eles dois lado a lado, fora hoje a tarde que eu forcei meu pai a sentar no banco do lado do dela.
L: Papai?!? Ainda por aqui?!
R: Pois é, filha...
L: Mas o que aconteceu pro senhor ficar aqui durante esse tempo todo?
H: Ah, filha, eu e seu pai começamos a conversar e acabamos perdendo a noção do tempo...
R: É.
L: Hum... Tá. O senhor vai de táxi, pai?
R: É. Já chamei, tô esperando chegar.
L: Vou esperar aqui com vocês.
Foram alguns minutos de espera, mas confesso que bem descontraídos, nem parecia os meus pais, separados há 17 anos ali, eles conversavam entre si e riam também. No começo, não. Mas quando fomos falando mais, eles foram se conversando mais. O táxi de papai chegou, me levantei e me despedi dele.
H: Vamos, Ricardo. Te levo até o portão.
L: Olha só! Então ela agora gostou de ser gentil, papai?
H: Laura! Por favor! – Papai e eu rimos juntos
Eles caminharam até o portão, preferi ficar ali pra nem correr o risco de interromper nada. Quando chegaram lá, papai deu um beijo na bochecha(talvez aquele tal de "canto de boca"), lhe disse algo e sorriu, mamãe sorriu também e acenou pra ele. Achei muito estranho o modo que se trataram naquele momento, principalmente do tratamento de minha mãe com ele, mas enfim... Depois tiraria minhas conclusões com ela. Mamãe veio até mim e fui caminhando junto com ela até o elevador, estávamos em silêncio. Quando entramos no elevador, resolvi quebrar esse silêncio.
L: Mãe, aconteceu alguma coisa com vocês dois? Estranhei muito o papai estar aqui até agora... Já fazem duas horas que eu sai de casa, voltei e ele ainda estava aqui.
H: Não, Laura. Só ficamos conversando, já disse!
L: Tá! Então tá. Não vou mais insistir, você não arreda o pé mesmo.
Mamãe foi com a cabeça erguida pro teto o tempo todo no elevador, ela costuma fazer isso quando está "afobada", digamos. Chegamos no nosso andar, saímos do elevador e entramos em casa. Da sala, vi na mesa da cozinha duas taças e um vinho. Fui até lá e mamãe ficou lá na sala mas me viu indo até a cozinha.
L: Ah, então quer dizer que vocês conversaram bebendo vinho?
Mamãe sussurrou baixinho um "droga", mas eu ouvi, só não quis dizer nada. Ela veio em passos apressados na cozinha e tirou das minhas mãos o vinho, mas eu já tinha visto que se tratava de um dos mais caros e antigos da nossa adega, que aliás, acho que nunca tinha sido mexida depois que papai saiu de casa.
L: E com um dos mais caros e antigos?? Foi papai que o abriu?
H: Sim, Laura. Conversamos bebendo vinho e com um dos mais caros e antigos sim, seu pai quem quis... Afinal, essa adega ainda é, praticamente, dele. Ele quem deu a ideia de fazê-la, ele quem entende de vinhos e ele quem comprou todos esses que estão aí.
L: Isso é verdade. Mas papai nunca abriu esse vinho e sempre teve o maior ciúme dele... Iria abrir só numa conversa?
H: Ele quem quis abrir, pergunta pra ele porque ele quis então, filha.
Saí da cozinha, subi as escadas e fui em direção ao meu quarto. Quando passei pela porta do quarto de minha mãe, vi o hobby azul de papai e a cama bagunçada... Aconteceu alguma coisa ali, e como aconteceu, mas fingi nem ter visto, apenas sorri e fui pro meu quarto. Nunca neguei que queria mais era a volta de meus pais, queria vê-los pelo menos cumprimentando um ao outro e pelo visto, foi muito mais que isso.
Ouvi minha mãe subindo as escadas, pela porta, vi ela correndo pro quarto quando viu como estava sua cama. Gargalhei alto.

L: Ai, ai, mãe... – Quando dei por mim, ela já estava na porta do meu quarto.
H: Que foi, Laura? Que é que você tá rindo aí?
L: Nada... Mas você deve saber o porque, com essa cama toda bagunçada e esse hobby de papai bem em cima dela. Vai mesmo esconder as coisas de mim, a quem você sempre pede pra contar até meus maiores segredos? Você sabe que não precisa disso!
H: Ai, Laura! – mamãe pôs as mãos na cabeça e se sentou em minha cama, típica imagem do desespero.
L: Relaxa, mãe! Que isso?! Pra que isso tudo?
H: Eu não devia, Laura. Ele tá namorando!!!
L: E daí, mãe? Quem veio primeiro: ela ou você?
H: Eu! Mas mesmo assim...
L: Não adianta encontrar desculpas, dona Helena. Vocês já são bem grandinhos e até demais pra entender e serem maduros, me poupe, viu?
H: Laura, eu sempre contei tudo pra você e você sabe. Nosso relacionamento sempre foi de igual pra igual, me sinto uma menina contando isso pra você...
L: Mãe, falando sério. Se você gostou, porque o medo, porque as justificativas? Não precisa ficar me contando nada, você não me deve explicações, eu quem te devo. – sorri
H: Eu sei, mas eu preciso contar pra alguém, você não tá entendendo! – mamãe me disse sorrindo
L: Ih, nem vem! Vai dar uma volta, liga pra Marília, se encontrem aí e desabafa com ela... Mas comigo não, por favor, mãezinha! Só queria saber se sim ou se não. Agora já sei.
H: Tem razão... Vou ligar pra ela.
Mamãe na mesma hora ligou pra Marília e combinou de irem almoçar juntas no outro dia.

Paralelas [CONCLUÍDA]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon