Narrado por Helena

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Saí de casa, enfrentei o trânsito infernal do Rio de Janeiro, mas tudo bem: eu havia acordado com o pé direito naquela manhã ensolarada de vento frio na cidade maravilhosa. No caminho, pensei em Ricardo, na nossa suposta viagem, eu ainda realmente não sabia se iria, achei muito arriscado, minha mãe com certeza desconfiaria, apesar de que ela sempre tenha gostado muito de Ricardo. Laura também não gostaria de saber que eu estava viajando com seu pai às escondidas. Aproveitei aquele momento e liguei para Marília para lhe avisar que não iria mais à viagem para Boston. Ativei o comando bluetooth no carro.
H: Ligar para Marília – o som do carro me respondeu com a discagem
M: Oi, Helena! Aconteceu alguma coisa?
H: Oi, Marília! Bom dia, amiga. Não, não aconteceu nada. – ri – Porque?
M: Você me ligando tão cedo, estranhei. Mas enfim, bom dia, minha amiga.
H: Ah, sim. Mas não, não aconteceu nada. Só liguei pra te dizer que não vai dar pra eu ir na viagem, amiga... – disse com a voz triste à ela
M: Ô, minha amiga. Que pena! Mas porque?
H: Eu andei olhando as passagens e não encontrei nenhuma se quer que fosse menos de 3 mil reais... Mas juro, da próxima vez, vamos pensar bem antes, guardarei meu suado dinheirinho e irei visitar meu menino!
M: Ah, sim. Entendo perfeitamente, Helena. Realmente as passagens estavam muito caras, eu e Olívio demos sorte, pegamos uma promoção de 2.300 reais nas passagens.
H: Pois é, que bom que vai dar certo vocês irem mesmo. Mande um beijo grande pro meu garoto, diga que a madrinha sente muitas saudades!
M: Pode deixar, Helena. Mandarei. Ele com certeza ficará muito triste, mas vai entender.
H: Amiga, agora tenho que ir. Tô no trânsito e finalmente isso tá andando. Beijo!
M: Tá, beijo!
Segui caminho, a empresa ficava a 10 minutos da minha casa, mas com o trânsito, não ficava a menos de meia hora. Cheguei na empresa, estacionei o carro e entrei. Olhei o relógio, 7:55! Yes! Cheguei a tempo. Peguei o elevador, subi até o 5º andar, sala de reuniões. Por termos demitido algumas pessoas depois que entrei na diretoria, tinha que me acertar na tesouraria, no qual Walter era responsável. Essa reunião seria apenas entre eu e ele.
W: Bom dia, Helena! – Walter se levantou e veio em minha direção com um sorriso largo no rosto, me abraçou e beijou meu rosto.
H: Walter, bom dia! – sorri junto
W: Preparei um pequeno café da manhã pra gente. Você já lanchou?
H: Ai, que bom. Saí de casa com pressa e só comi uma maçã. – rimos juntos
W: Então ótimo. – nos dirigimos até o balcão que havia ao lado da mesa de reuniões, olhei no relógio.
H: Xeque-mate! Cheguei pontualmente, você viu?
W: Você é sempre pontual, Helena. Mas hoje eu cheguei antes, hein! – gargalhei
H: É verdade, tenho que lhe dar o mérito, se não, que tipo de chefe sou eu?
W: Uma chefe muito linda, convenhamos. – Walter sorriu.
H: E você sempre muito querido, né, Walter?!
W: Li em algum canto aí que temos que agradar nossos chefes. – ele disse cerrando os olhos como se estivesse falando sério
H: Ah, sim. Com certeza. Agrade sempre!
Lanchamos e fomos até a mesa de reuniões, discutimos tudo que havia de ser discutido e, Walter sempre que tinha oportunidade, dava uma investida, confesso. Terminamos nossos assuntos em pouco tempo mas permanecemos ali.
H: Obrigada mesmo pela preocupação em preparar a mesa do café, Ricardo. Nem precisava.
W: Não precisa agradecer, Helena. Você sabe o quanto é querida por mim. Ah, e só lembrando novamente: você estava belíssima ontem! De verdade! Vou dizer muitas vezes ainda. – eu gargalhei
H: Walter, assim você vai acabar me deixando mal acostumada, isso sim.
W: Bem acostumada, é assim que você deveria dizer.
H: Só você mesmo, Walter... – ri
W: Só eu? Jura? Não era o que parecia ontem. Ô, Helena, vamos falar sério agora, quem via vocês dois ontem, mesmo que de longe, percebia que aquilo era um encontro. Dá pra ver nos seus olhos, igual eu vi quando estive na sua casa. – Walter se aproximou de mim.
H: Mas, Walter... – antes que eu terminasse, ele pôs o dedo indicador sob meus lábios
W: Shhhh... Você não precisa me explicar.
Eu podia sentir sua respiração, seu peito pulsando sob o meu, ele se aproximou mais e quis me beijar, eu desviei um pouco a cabeça, mas não saí dali, como se fosse uma brincadeira, fugi de seu beijo. Não era brincadeira, eu pensava em Ricardo, em tudo aquilo que vivemos nestes dias, na nossa viagem. Mas acabei cedendo. Nos beijamos em um beijo longo, correspondido, cheio de vontade mas também com uma cabeça cheia de pensamentos... Walter é um desses homens que não se pode recusar, confesso. E eu sinto algo por ele, sinto mesmo. Mas não como sinto por Ricardo. Porém, também sei que com o tempo esse placar pode empatar ou até aumentar... Questão de cultivar e dar uma chance pra isso. Eu estava confusa, eu sabia que Walter me queria e ele estava dando todos os indícios pra isso. Walter é carinhoso, sério, um verdadeiro galã. Ricardo é engraçado, carinhoso também, um homem cheio de virtudes e inteligente, mas houve tanta coisa entre a gente que acabei com um certo bloqueio de tentar achar muitas qualidades nele. Correspondi o beijo de Walter depois que pensei que eu não estava tendo nada com Ricardo, e afinal, ele tinha Susana, porque eu não poderia ter Walter? Não que eu queira usar Walter pra esse jogo, como um brinquedo. Não sou mulher disso e ele também não é homem que mereça e nem se merecesse o faria. Mas decidi dar uma chance pra isso. Pensei que seria legal, pois Ricardo é como se eu estivesse começando um caminho do fim, mas Walter era como se eu começasse de seu ponto de largada.

Paralelas [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now