O reino dos espíritos ( Anjos guardiões, livro 3)

Leo

             Lembrou-me de Alicia em criança... Tão adorável... Tão inocente. E linda. Era apenas luz. Por onde andasse transmitia alegria e plenitude. Como deixou que as trevas controla-se a sua vida? Em que momento se separaram? 

Eram amigos de infância. Daqueles que estavam sempre juntos. Sempre estavam prontos para ajudar um ao outro. Não havia ninguém mais importante do que ela. Ela era o espelho da sua alma. Quando ele decidiu se afastar... Foi como se parte dele tivesse morrido nesse dia.

        O  céu estava cinzento. As nuvens começavam a dar sinais que vinha uma chuva torrencial. Estava no hora dos habitantes se refugirem nas suas casas. Acenderem as sua lareiras e contarem histórias aos seus filhos. 

Mas havia uma rapariga que não se importava. Queria a chuva. Pretendia esperar por ela. E não a faria mudar de ideias. Nem mesmo o seu adorado amigo.

" Por favor, Alicia. Volta para a casa. Assim irás ficar doente. Como poderes nos encontrar amanhã?"

" Talvez eu já não queira me encontrar contigo, Leo."

" Que dizes? Como não queres? Somos melhores amigos. Sempre fizemos todo juntos. Ninguém pode separar isso. Somos sangue do mesmo sangue."

" Não. Tu penses que me compreendes. Mas nunca saberás o que sinto. Não sabes como o meu pai me trata. Nem como..."

" Eu nunca deixarei que alguém te magoe. Eu sempre te protegerei."

" Não me podes proteger para sempre. Há criaturas que assombram os meus sonhos. E eu sou a única que pode destruí-los."

" Eu trocava de lugar contigo. Faria tudo..."

" Não queiras essa maldição. Não destruas a tua alma. Tu mereces ser feliz. Eu preciso de me afastar. Com o tempo tu compreenderás."

Fiquei uma eternidade esperando que a chuva chegasse. Precisava que os céus testemunhassem o meu sofrimento. Mas a aguardada chuva nunca chegou. Tive de me refugiar no calor da lareira. Pensava que tinha perdido apenas uma amiga. Que com o tempo essa dor desaparecia. Mas ela nunca desapareceu. Ficou marcada sempre no seu coração.

      Eu precisava de encontra-la. Necessitava de declarar todo o que não foi capaz de dizer naquela noite. Que Alicia era especial. Significava muito mais do que uma simples amiga. Era o espelho da sua alma. Aquela que ele esperaria toda a eternidade.  Nunca desistiria dela. Iria ao inferno buscá-la, se tal fosse necessário.