O reino dos espíritos ( Anjos guardiões, livro 3)

16 - Palavras Sagradas

# Amélia#

        Depois da chegada de Alicia na minha vida, todo a minha volta se transformou. Comecei a aceitar o meu dom. Os espíritos já não me assustavam. Agora podia observar a sua luz. Eram almas que necessitavam da minha ajuda. Só estariam prontas para fazer a travessia, quando houvesse paz na sua aura. Eu deveria ser o guia para tal passagem...

Contudo, ainda não sentia estar preparada. Antes precisa me aceitar como eu era. Podia ter aceitado que era diferente. Mas isso não significava que eu queria essa grandiosa missão. Como iria ajudá-los a seguir em frente? Eu continuava presa ao meu passado. A um passado que não conhecia. 

          Os espíritos teriam de esperar mais um pouco. Até entender o sonho ou visão mostrada pelo anjo da guardo. Era difícil de acreditar que José era a sua alma gémea... Alguém que mal me dirigia a palavra estava destinado a ser a minha salvação? Não teria o Criador se enganado? José era um rapaz gentil... Mas muito tímido...  Parecia ter medo de se aproximar de mim.

De repente, uma memória surge... Fora ele, o único que não a humilhou... Como pode se esquecer... Ele a defendeu, quando todos lhe viraram as costas...

   Tinha acaba de perder os seus pais. Morreram num acidente de viação. Lembrou-me pouco dessa época. Apenas vejo dois corpos sem rosto. Não consigo os reconhecer de imediato. Só depois vejo o lenço que a mãe sempre usava. Queria chorar. Apenas fiquei em estado choque, me recusando a acreditar que eles tinham morrido.

Minha avó teve de me arrastar dali. Tinha 11 anos, e meu mundo fora destruído. Por meses fiquei trancada no meu quarto. Não aceitava a comida feito com amor da minha avó. E não permitia que ninguém se aproximasse de mim. Estava me refugiando na minha dor. 

Houve um dia que minha avó me forçou a enfrentar o mundo. Achava que voltar a escola seria bom para minha recuperação. Totalmente longe da verdade. Os outros alunos sempre a trataram mal, espezinhando-a sempre que podiam.

Nesse dia  os espíritos a perseguiram intensamente. As suas vozes a aterrorizavam. Acabei por reagir como uma verdadeira maluca. Gritava e atirava objectos para a parede. Tais acções fizeram com que muitos dos meus colegas me quisessem agredir.

Teria me ferido gravemente, se ninguém tivesse me protegido. Foi o meu o anjo. O gentil José com os seus calmos olhos. Ele conseguiu acalmar aquelas feras. E me tranquilizou.

" Eu compreendo a tua dor. Também já perdi alguém que amava muito. Um dia essa dor irá se cicatrizar. Quando precisares de um ombro amigo, eu estarei aqui."

Mas eu nunca o procurei. Tinha medo daquele sentimento novo que estava desabrochando. Pensei que ficaria melhor sozinha. Assim não teria de sofrer de novo.

       Naquele dia José foi corajoso. Fora o amigo que precisara. Mas porque não me procurara ? Permitiu que eu sofresse todos aqueles anos. Não me consolou, e me observou apenas esperando que eu tomasse a iniciativa.

Onde estava Alicia? Ela dissera que o antepassado de José cometera muitos erros. Que erros foram esses? Teria José conhecimento das nossas vidas passadas?

#José#

       Minha alma estava condenada. Meu último antepassado havia cometido demasiados erros. Sua sede de sangue e crueldade quase havia destruído a sua humanidade. Por isso estava sendo punido. Por conto dos seus erros passados estava afastado da sua amada Amélia.

Felizmente ainda se encontrava em tempo de se redimir. Iria ao encontro da sua metade. Tentar explicar-lhe como ela era fundamental para a sua vida. E que estava disposto a sacrificar o seu amor, se tal fosse necessário para a sua felicidade.

Agora que o seu anjo da guarda havia desaparecido, Amélia devia sentir-se sozinha novamente. Não podia acobardar-me novamente. Precisava de ser o anjo, que ela acreditava que eu fosse.

      Sua estrela estava no jardim. Pela primeira vez ela atrevia-se a viver. Respirava o aroma das belas flores e transparecia calma. Por momentos duvidou. Estaria ele pronto a abrir o seu coração? Mas assim que ela sorriu, dando-se conta da sua presença. Ele teve a certeza que era a altura certa de contar-lhe a verdade.

"Amélia, minha doce Amélia. Lamento não te ter protegido quando precisas-te. Não quis te assustar. Pensei que se me aproximasse fugirias de mim. Foi idiota. Tive medo de te perder. Mas agora estou pronto. Se me aceitares, eu serei o teu protector. A tua estrela. Aquela que iluminara sempre os teus dias."

" Eu compreendo agora porque te afastas-te. Foi por causa dos erros do teu antepassado. É o nosso afastamento, a punição?"

" Também sonhas-te com as nossas vidas passadas? Eu quero de novo viver esse amor. No entanto, senti que tu ainda precisas de tempo. Todo é novo e confuso para ti. Eu esperei por ti, Amélia. Quando precisares meu coração será teu. "

Algumas palavras eram sagradas. Só podiam ser ditas no momento e no tempo certo. Meu coração queria gritar bem alto todo o meu amor. Contudo sabia que aquele não era o momento. Já estava feliz por estar ao seu lado, e por saber que ela tinha conhecimento da nossa história.