APRESENTAÇÃO

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Uma filosofia para corajosos

A intenção primeira deste livro é ajudá-lo a pensar com a sua própria

cabeça. Pensar filosoficamente o mundo em que você vive pode ser

bom ou ruim. Não há garantias de que você seja mais feliz porque

pensa sua vida filosoficamente (existe uma controvérsia enorme

sobre se a filosofia nos deixa mais ou menos felizes, mas vamos

deixar isso para depois). Portanto, quem promete a você que será

mais feliz com a filosofia é um mentiroso que só quer ganhar seu

dinheiro. Eu também quero ganhar seu dinheiro, mas dizendo a

verdade para você. Ou pelo menos o que eu, a partir de tudo o que já

li, leio, escrevo e penso, julgo ser verdade. Se você for capaz de

aguentar isso, aqui se inicia uma boa amizade. Se não for, melhor

voltar a ler um desses livros vagabundos de autoajuda. Você tem

alguém perto de você que compra livros de autoajuda? Coitado.

Este livro é uma espécie de história da filosofia vista pelos

meus olhos. Na linguagem do grande filósofo Friedrich Nietzsche

(século XIX), pensar com sua própria cabeça ou fazer uma história da

filosofia vista pelos seus próprios olhos é "aprender a falar sua

própria língua". Fazer isso não é tarefa para covardes. Se você for um

covarde, melhor se concentrar em sua alimentação balanceada.

Cuidado: recentemente a OMS, Organização Mundial da Saúde, um

braço da estatal incompetente que é a ONU, disse que bacon, salame e

salsicha dão câncer! Melhor ficar na alface.

É necessário ter coragem para dizer o que se pensa. Para

fazer isso, é também necessário conhecer algumas ideias que os

filósofos e outros pensadores pensaram antes de nós. Primeiro vou

falar com você sobre essa ideia do Nietzsche (de fazer filosofia com

sua própria língua), depois vamos discutir alguns dos temas mais

importantes da filosofia e ver, quem sabe, como essa discussão pode

tornar seu cotidiano, se não mais feliz, pelo menos um pouco menos

medíocre, porque a coragem não salvará sua vida, mas pelo menos

fará você se sentir mais vivo.

Ainda um pequeno reparo: a citação anterior que faço do

filósofo romântico alemão Schelling (século XVIII/XIX) é a síntese do

meu espírito filosófico: há uma tristeza no pensamento; essa tristeza

é a raiz de toda a personalidade. Esse caráter sombrio da raiz de nossa

alma é também o fundamento de todo conhecimento verdadeiro.

Como dizia outro romântico, o dinamarquês Soren Kierkegaard

(século XIX), todo conhecimento verdadeiro começa com um

profundo entristecimento consigo mesmo. Schelling, por sua vez,

falou da relação entre tristeza, personalidade forte e conhecimento

numa obra à qual ele deu o nome de A essência da liberdade humana.

Nunca seremos livres, mas a vida com coragem pode ser mais bela.

Existem todas as razões do mundo para termos medo, por isso a

coragem foi apontada desde a Antiguidade como sendo uma das

virtudes essenciais na vida.

Este livro está dividido em três grandes partes. A

primeira, chamada "Uma filosofia em primeira pessoa", descreve o

meu modo de fazer filosofia. A segunda, chamada "Grandes tópicos

da filosofia ao longo do tempo", trata de um repertório básico de

temas de que uma pessoa precisa para ser capaz de filosofar com o

mínimo de segurança sobre o que pensa. A terceira, e última,

chamada "Por que acho o mundo contemporâneo ridículo?", é o

fechamento do livro, no qual elenco alguns traços essenciais de por

que entendo que vivemos na época mais ridícula da história da

humanidade até hoje. Boa leitura.

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now