CAPÍTULO 5

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Nosso coro particular de demônios


O que é um coro particular de demônios? É uma metáfora para falar

de certas coisas que nos atormentam há milênios e a cada dia de

nosso cotidiano. A filosofia, em sua origem grega, surge para

"concorrer" com as religiões e seus mitos na tentativa de responder

a esse coro de demônios. Religiões e mitos existem, entre outras

coisas, para explicar esse coro de demônios. Você pode me perguntar

por que, afinal, eu uso essa metáfora coro de demônios aqui. Vou

explicar.

A ideia de coro de demônios vem do cristianismo antigo,

quando os monges iam para o deserto (séculos II, III, IV) e buscavam

enfrentar todos os tipos de tentação. Essas tentações, em geral

associadas a mulheres, riquezas e poder, vinham como visões e

vozes batizadas de coro de demônios. Ao usar essa metáfora, quero

trazer para a nossa conversa seu sentido de ansiedade e risco. Existem

questões que nos atormentam, e a história da filosofia é um elenco

dessas questões. Somam-se a essas perguntas as respostas que

muitos filósofos e afins produziram ao longo da vida.

Este capítulo é uma tentativa de elencar algumas delas e

algumas de suas respostas, sem buscar esgotar nenhuma. Lembre

sempre que não tenho nenhuma intenção de resolver todas as

questões filosóficas neste manual; só gente chata tem intenções como

essa. Nos demais capítulos, mais temáticos, seguindo grandes áreas

da filosofia, acabarei retomando alguns desses demônios. Neste

capítulo, minha intenção é deixar você um pouco atormentado com

esse coro infernal. Veja-o como uma espécie de "aquecimento" para

o que vem depois. Vamos lá. Proponho dez pequenos demônios para

aquecer sua filosofia em língua própria. Só vale a pena filosofar

sobre o que nos tira o sono. Abaixo, mando dez perguntas para gente

corajosa que detesta autoajuda.

1. O que estamos fazendo aqui no mundo?

Ninguém tem a mínima ideia. Os mais religiosos e

metafísicos, que acreditam em um mundo além da matéria, gente

como Platão (que viveu entre os séculos IV e V antes de Cristo), Santo

Agostinho (que viveu entre os séculos IV e V depois de Cristo) e,

talvez, sua avó, entendem que Deus ou algo similar sustenta tudo o

que existe, e, portanto, tem uma resposta. Para essas pessoas,

estamos aqui porque esses seres superiores e divinos têm alguma

forma de plano ou projeto para nós e para o mundo. Claro, nós que

estamos presos nesse cotidiano, às vezes, infernal, temos dificuldade

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now