CAPÍTULO 16

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Marketing de comportamento ou marketing moral

Há uma novidade no mundo contemporâneo em relação ao tema da

moral. Primeiro, é usar a expressão comportamento em vez de

costumes ou hábitos (objetos clássicos da ética). É mais chique falar

em comportamento do que em ética. Em certo sentido até faz sentido

(repetição proposital), porque a palavra ética, hoje em dia, é, como a

palavra energia, melhor que seja evitada porque todo mundo fala,

mas ninguém sabe o que é.

Há algo mais nessa ideia de marketing de comportamento.

A substância da moral pública sempre foi a hipocrisia, portanto não

há nada de novo em se tentar fingir virtudes que não se tem. Mas,

hoje, perdeu-se essa consciência de que toda moral pública é

hipócrita na sua essência, e, por isso, as pessoas que fingem ser do

bem não são percebidas como hipócritas. Nunca na história da

humanidade fomos tão mentirosos como hoje. A ideia de que fazer

propaganda da própria virtude (os corretinhos do mundo) possa ser

levada a sério é ridícula.

Por exemplo, fala-se de uma nova consciência dos jovens

com relação ao trabalho (a geração Y e a Z só aceitam trabalhar em

algo que faça sentido para elas) quando na realidade a busca de um

trabalho significativo sempre foi para poucos ricos, ou corajosos, ou

loucos. Nada mudou em relação ao trabalho; trabalha-se para ganhar

a vida. Mas os bonitinhos ficam inventando que existe uma nova

consciência em relação ao trabalho e ganham grana com essa

bobagem, discursando em universidades, empresas e na mídia.

Outro exemplo é essa gente que fala do capitalismo consciente e que o

lucro não será o principal valor de uma empresa no século XXI.

Imagine se o seu patrão parar de ter lucro. Ele para de pagar o seu

salário.

Como o mundo contemporâneo é a civilização mais

escrava da aparência que já existiu no mundo (o marketing como

paradigma de mundo é isso), perdemos a capacidade de lembrar que

toda moral públi ca é hipócrita. O dano que os intelectuais causaram,

grosso modo a partir do final do século XVII, se transformando no

clero salvacionista do mundo, se fazendo de "pregadores da boanova"

no lugar dos padres e pastores, foi enorme. Os intelectuais (e

acadêmicos e professores em geral) são uma das classes mais

corruptas moralmente de nossa época, querendo fazer parte dos

governos para ganhar os restos da sua mesa de jantar. Os mais

aplicados viram intelectuais orgânicos de partidos e ganham cargos

na administração. Quando um intelectual abraça uma causa, passa a

ser um picareta. Basta ver no tom indignado com o qual fala ou

escreve sobre como o mundo deveria ouvi-lo, e você saberá que está

diante de um picareta do pensamento.

A incapacidade de lembrar que toda moral pública é uma

farsa tem a ver também com a democracia e sua idealização de

transparência (basta falar a palavra democracia e você estará a salvo,

a favor do povo), mas isso vamos ver quando falarmos de política.

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now