CAPÍTULO 20

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A ciência triste da economia

A economia é uma ciência triste. Experimente falar de dinheiro com

sua mulher para ver como ela vai ficar triste. Sim, se uma mulher for

a responsável pela grana, o marido também ficará triste se ela

trouxer o tempo todo a referência do quanto as coisas custam. Não é

uma questão de gênero, como falam os chatinhos e as chatinhas de

hoje em dia.

A economia é uma ciência triste porque é a ciência da

escassez. Os recursos a nossa mão são sempre menores do que aquilo

que queremos. Toda dona de casa sabe disso: o supermercado é a

prova de que os recursos são caros e raros. As donas de casa

deveriam decidir nossa economia. Exagero o argumento para

lembrar aos inteligentinhos que a economia nada tem a ver com

delírios socialistas de justiça social, mas com a lista de

supermercado que não cabe no seu bolso.

Claro, existe gente boba por aí que acha que os índios

poderiam nos ensinar a viver da terra. Incrível como antropólogos

cultos e capazes podem acreditar que um modo de vida neolítico

poderia acolher 7 bilhões de pessoas. O que esses caras não podem

confessar é que, além de pegar bem na fita dizer coisas assim ("o

mundo é cheio de coisa inútil", o que é bem verdade), porque

alimenta o tal marketing de comportamento de que falei antes, para

viver como os índios teríamos que matar, no mínimo, nove décimos

da humanidade inteira. Mas, como sempre, esses ungidos podem

falar o que quiserem, porque falam para seus seguidores e crentes. A

única forma de fazer um mundo indígena é destruir a liberdade de

todos que não aceitarem falar tupinambá.

Não, não dá para todo mundo ser feliz e ter tudo. As

pessoas querem o que elas querem o tempo todo. A vida enriqueceu

materialmente desde o século XVIII de modo assustador. Para manter

essa felicidade no ar e nas prateleiras se faz necessário cada vez

produzir mais. Por isso que bobos de todos os tipos afirmam que a

saída seria diminuir o crescimento econômico. O problema é que

esse bobo não confessa que o que ele quer é que todo mundo lhe

obedeça.

Concordo que nosso mundo é um mundo besta em muitas

coisas (teremos tempo de falar disso), mas ninguém aceitaria, por

exemplo, que parássemos os avanços da medicina ou da produção de

alimentos (orgânicos ou não). Quase tudo é uma farsa naqueles que

negam a tristeza da escassez que nos assola.

E essa escassez é também fisiológica: somos frágeis,

mortais. Escassez psicológica: dependemos de recursos afetivos a

nossa volta.

A afirmação mais profunda acerca da escassez que nos

assola e nos determina foi feita por Nelson Rodrigues: "Dinheiro

compra até amor verdadeiro". O afeto verdadeiro responde à

melhoria das condições materiais. Claro, não é 100% que dê certo,

mas nada é 100%. Não dará, se você disser isso a quem você quer que

o ame. Lembre-se do que eu disse no início deste capítulo: você

entristecerá sua mulher se falar de grana o tempo todo com ela,

porque lembrar o custo das coisas torna a vida triste. Se tivéssemos

todos os recursos que queremos para fazer o que quiséssemos, então,

sim, o mundo seria um paraíso.

Quando você tiver alguma dúvida sobre isso, procure se

informar sobre como inventários familiares, não importa o tamanho

do patrimônio, revelam a tristeza que assola nossa humanidade.

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now