CAPÍTULO 12

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Materialismo

Essa palavra significa duas coisas em filosofia. A primeira, e mais

antiga, e mais importante, data da Grécia e quer dizer o seguinte:

tudo o que existe é feito de átomo, e quando morremos tudo acabará.

A segunda, mais recente, filha da tradição sociológica (Marx, no

século XIX, navega nesse sentido), quer dizer que o mundo do

pensamento, dos afetos e das instituições pode ser explicado pelas

relações materiais que se tem em sociedade, tais como modos de

produção, comércio, guerras, instituições, e por aí vai. Um exemplo

simples disso seria: se você anda de ônibus, você ama de um jeito; se

você anda de helicóptero, você ama de outro jeito. Entendeu? Amor,

aqui, seria função do modo como você se desloca no mundo, que por

sua vez seria função de quanta grana você tem, que por sua vez seria

função do seu lugar na cadeia produtiva de bens, ou seja, você é

agente ativo ou vítima passiva?

A importância desse viés está em nos ajudar

(independentemente da viagem louca de Marx e seu comunismo) a

pensar a sociedade sem nenhum recurso da metafísica como

fundamentação da história. Isto é, não pensar que a história possa ser

conhecida sem levar em conta as relações concretas que os homens

estabelecem entre si para criar o mundo em que vivem. E também

sem imaginar que exista um sentido metafísico para a história, ou

que ela esteja indo para algum lugar. A propósito, percebemos o

caráter metafísico de Marx na medida em que ele achava que a

história estava indo para algum lugar, a saber, o comunismo.

Vou voltar para a forma mais antiga de entender o

materialismo, porque ela é que atormenta os seres humanos comuns,

como eu e você. O materialismo histórico, como os marxistas

chamam sua teoria, apesar de ser bastante sofisticado (e, muitas

vezes, delirante quando quer prever o futuro e o comportamento

humano em sua totalidade), permanece muito distante da percepção

da realidade mais imediata que os meros mortais têm. Apesar de que,

de certa forma, o materialismo histórico é construído pelo combate

constante que os humanos têm com sua realidade precária e finita,

por isso mesmo econômica.

Mas, afinal, tudo é feito só de átomos?

Sim, segundo os gregos antigos, gente como Demócrito

(460-370 a.C.), Leucipo (filósofo pré-socrático), Epicuro e o romano

Lucrécio (99-55 a.C.). Não só a afirmação materialista (ou atomista) é

importante em si, mas as consequências dela, ou seja, não existiria

Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe PondéWhere stories live. Discover now