27 - Redamar

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Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

- Clarice Lispector

- Não acho que tenha sido uma boa ideia ter me acompanhado, Hipólita. - Imogen bronqueou à Hipólita que apoiou a mão em seu ventre enquanto caminhava logo atrás dela.

Trajou-se com seu manto e junto à Altanero cavalgou colina acima. Hipólita fechou os olhos e inalou o ar, estava contemplando o horizonte. A verdade era que ficar somente dentro de um quarto ou naquele castelo às vezes -principalmente sem a presença de Louis-, era tedioso. No castelo todos a tratavam como uma inválida, tudo por conta de enjoos e tontura que sentia nos dias que antecederam a partida de Louis. Céus, ele como um marido com obsessão a cuidados extremos a proibiu de sair. Todavia havia saído do castelo sem que ninguém a tivesse visto, então encontrou Imogen que esperava seu cavalo, pediu de forma incisiva à Cam para encilhar conjuntamente Altanero, mesmo contrariado, o jovem acabou obedecendo.

As duas deixaram a Fortaleza em direção a boscagem para buscarem ervas e flores. Imogen cultivava variedades de plantas, criava porções, remédios, e agora, estava em busca de uma pequena erva chamada silphium, bastante conhecida pelos romanos, havia diversas histórias e crenças envolvendo a misteriosa planta e a jovem estava disposta a descobrir seus efeitos e estudá-la.

- Estava me sentindo parte dos móveis, então resolvi acompanhá-la, não reclame, estou protegendo-a. - A moçoila virou-se em direção a Hipólita, estreitou os olhos, fitando diretamente sua barriga que indicava uma gestação avançada.

- Duvido muito que um forasteiro adentre os vales de Terras Altas, há guardas armados por todos os lugares - constatou. - E sei que caso esse infortúnio viesse a acontecer, não conseguiria nos proteger com essa barriga enorme.

- Infelizmente sou obrigada a concordar. - Afirmou risonha - estava ficando pálida de tanto estar dentro daquele quarto, precisava distrair-me, Louis partiu e me deixou aos cuidados de seus serpentários.

- Oh, querida, não seja tão dramática, guarde esse teatro para teu marido. - Provocou a ruiva.

Hipólita cerrou os lábios e tentou manter-se severa, mas desatou a rir e Imogen a acompanhou.

- Sua onagra! - Retrucou e avistou algo - Imogen, olhe - apontou para uma pequena planta, havia diversas dela, entre os musgos e árvores - são iguais aos desejos ao qual me mostrastes

- Sim, é uma silphium, não fazia ideia de que poderia ser encontrada na Escócia, até que Uriah me afirmou tê-la visto.

- Sabes para que servem?

- Os antigos diziam que sua seiva é um afrodisíaco e que serve para evitar bebês - Imogen respondeu-lhe e colheu cada uma delas, guardando-as. Hipólita guardou aquela informação e deixou que a donzela fizesse todo o trabalho de caçar e recolher as plantas, encostou-se em uma árvore e deslizou lentamente até que por fim conseguiu sentar-se no gramado, suas costas lhe doía com o peso de sua barriga - irei cultivá-las.

- Sinto-me imensamente feliz em saber que aceitou morar aqui.

Agora, possuía uma nova amiga. Gostava da companhia de Imogen, tinham tanto em comum, então pediu que seu marido a convencesse a ficar na Escócia, não queria que ela vivesse sozinha naquela floresta inóspita da Inglaterra, e por mais que a sentença tenha sida dada por Anthonny e o mesmo estava morto, Imogen ainda poderia sofrer retaliação por alguns indivíduos que abominavam suas práticas.

Hipólita, do mesmo modo não desejava mais retornar a Inglaterra, seu tio havia lhe tirado tudo, mas seus pais fora o que mais fazia-lhe falta, aquele homem podre, matara o próprio irmão somente por ganância, não se sentiria bem em voltar aquela propriedade que lembrava tanto sua família, ainda mais por saber que fora um dos motivos pelo qual seus pais morreram. Mesmo com tantas tentativas de minimizá-la, Fredis fizera somente com que ficasse mais forte.

IRREVOGÁVEL [CONCLUÍDA]Where stories live. Discover now