Capítulo 4

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Murilo

Maldita hora em que eu resolvi sair de casa para respirar ar puro, antes tivesse permanecido debaixo de meus cobertores e escondido do mundo.
A visão de Leandro dançando e beijando uma mulher qualquer foi como punhais fincados em meu peito, sei que não tenho o direito de me sentir dessa maneira, mas não posso fazer nada em relação aos sentimentos que cresceram em meu peito com o passar dos anos.
Sai do Pub sem um rumo certo para ir, a única coisa que eu queria nesse momento era sumir da face da Terra, queria ter força e coragem para deixar de vê-lo, queria arrancá-lo de meu coração até que voltasse a me convencer de que poderia ser somente seu amigo e compadre, mas está sendo muito difícil.
Sinto minhas lágrimas escorrendo de meus olhos, sinto o aperto dolorido em meu peito, sinto minhas lembranças me sufocarem, estou me afogando e não encontro uma mão que me ampare e me sustente.
-“Lilo não fique triste meu amor, seu lugar é comigo, estou aqui por você, e nunca mais sairei do teu lado, você é meu Lilo”.
Sinto um arrepio em minha espinha e meus pelos se arrepiarem, mas não está frio para justificar essa sensação, sinto um peso enorme em meus ombros, como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas, deve ser o remorso por ter me apaixonado pelo meu melhor amigo.
Caminho até uma praça e me sento em um banco, ao longe vejo casais de namorados andando de mãos dadas e outros se beijando, vejo jovens andando em seus skates, rindo e conversando animadamente, casais de senhores olhando a linda lua que ilumina essa noite que para uns está linda, mas para mim estava sendo uma noite tenebrosa.
Em meu bolso meu celular começou a tocar, ao pegá-lo vejo que é Leandro me ligando, não estou com ânimo para falar com ele e fingir que estou bem, deixo o aparelho tocar até que pare, isso se repetiu por mais cinco vezes, e em todas eu rejeitei, foram ligações e mensagens, eu os olhava e minhas mãos apertavam o aparelho como se fosse uma brasa em meio aos meus dedos.
-“Lilo você deve evitar esse homem, ele quer apenas se aproveitar de você, ele nem teu amigo é de verdade. Lilo, esse homem não merece você. ”
Sinto em meus ouvidos um zumbir irritante, me levanto e começo o meu caminho de volta ao Pub para pegar meu carro e ir para minha casa, a única coisa que poderia fazer por mim agora seria tomar um bom banho e voltar para meus cobertores, já começo a avistar o estabelecimento, aperto os passos para encontrar meu carro, ao vê-lo vou direto em sua direção, mas ao me aproximar encontro quem não queria encostado na porta.
-“ Lilo não caia na conversa desse homem, ele só fará você sofrer, ele jamais irá amá-lo, Lilo me leve para casa. ”
Suspiro pela frustração em ver Leandro, não estou preparado para encará-lo agora e com certeza nem depois, eu precisava de tempo para colocar minha cabeça em ordem e corrigir meus sentimentos.
Cheguei perto de meu carro de cabeça baixa não querendo encarar aqueles olhos verdes ao qual Renato tinha herdado, a presença de Leandro sempre foi forte para mim, porra não posso conversar com ele agora, estou fugindo de um confronto, estou sendo covarde, sim estou, sinto que nossa amizade jamais voltará a ser como era antes e isso está me matando.
Estou em frente a porta de meu carro e Leandro ao lado, coloco minha mão em meu bolso pegando minhas chaves, desativo o alarme e destranco a porta abrindo em seguida, em nenhum momento olhei para o homem que estava ao meu lado, mas sentia seu perfume misturado com outro cheiro, o que seria provavelmente da mulher que ele estava beijando, sinto uma grande náusea com a lembrança, quando ia entrar no carro sou segurado pelo braço, Leandro tem que parar com essa mania de me segurar.
- Murilo por favor vamos conversar, você não pode fugir de mim desse jeito, você me joga uma bomba em meu colo e simplesmente some, me deixando à revelia
- Não temos nada para conversar Leandro, olha estou cansado, nem deveria ter saído de casa, ainda mais hoje que não está sendo um bom dia.
- Não está sendo um bom dia, você está brincando comigo, sou eu que pensei que tinha um amigo homem e do nada esse amigo me diz que é Gay.
- Não é por ser Gay que deixei de ser homem, sou mais homem que muitos por aí.
Nessa hora já estava vendo tudo vermelho ao meu redor, quem Leandro pensa que é para duvidar de minha masculinidade, só porque gosto de homens não me faz menos que ele.
- Não foi isso que eu quis dizer, porra Murilo tenta compreender, não está sendo fácil para mim isso, você não é quem eu pensava que era. – Leandro me olhava com um misto de desaprovação e repulsa, foi isso que vi em seus olhos? Não, não pode ser isso, ele não seria cruel por sentir isso por mim.
- Quem você pensa que eu sou Leandro? – Perguntei somente para esclarecer minhas dúvidas.
- O homem em quem eu confiei minha amizade e entreguei meu filho como afilhado, meu bem mais precioso. – Respondeu Leandro olhando para o chão.
- Me diga Leandro, esse homem mudou só porque lhe disse que é Gay, só para que se lembre, em nenhum momento nesses 20 anos esse gay lhe faltou com respeito, esse gay salvou a vida de seu filho quando sua esposa faleceu e você se recusava a visita-lo, esse gay ajudou você a criar uma criança maravilhoso mesmo ele sendo surdo, esse gay ajudou você quando estava para cometer a pior burrada de sua vida se relacionando com a Júlia, mulher essa que causou o pior trauma de Renato, que o fez ir embora daqui, foi esse gay que ajudou você a criar outra criança quando essa foi espancada pela própria mãe, FOI A PORRA DESSE GAY AQUI que esteve todos os momentos ao teu lado, agora me  diga Leandro quando foi que tentei alguma coisa com você mesmo eu tendo que enterrar todos os dias um sentimento que crescia em meu peito, eu preservava nossa amizade acima de tudo até acima do Amor que eu sentia por você, agora por favor desencoste de meu carro para que eu possa ir embora.
Leandro estava atônito, me encarava, não expressava nenhuma reação, suspirei e levantei meus ombros entrando em meu carro e fechando a porta, respiro fundo e tento normalizar meus batimentos cardíacos, dou partida no carro o colocando em movimento e deixando o homem que eu amava como uma estátua no meio de um estacionamento vazio.

Segunda ChanceWhere stories live. Discover now