Capítulo 12

422 80 17
                                    

Victor em sua falha tentativa de persuadir Murilo a um banho sentia-se frustrado e assustado, o médico agia como se estivesse louco, ele conversava sozinho com as sombras que lá estavam, o loiro acreditava que Murilo houvesse ingerido algo além de álcool, ele pegou as cartelas de comprimidos que estavam no chão e foi verificar sua procedência, e ao olhar ele constatou que se tratava de calmantes, com receio de deixa-lo sozinho em casa Victor liga para Leticia, ele também queria notícias de Leandro.
- Hei baixinha, como estão as coisas por aí? Como está Leandro.
- Agora está tudo calmo, conseguimos colocar o tio para dormir, ele estava muito bêbado e em um estado deprimente lamentável, e o Murilo?
- Ehr! Então...O negócio é o seguinte, o Murilo está parecendo um lunático, não está falando coisa com coisa, encontrei uns calmantes por aqui que eu acredito que ele esteja tomando, mas não fez o efeito desejado, ele está transtornado, será que o ideal seria leva-lo ao hospital?
- Victor eu não acho que seria o ideal, ele é um médico renomado, se ele aparecer no hospital dessa maneira poderá vir a prejudica-lo, tenta confesse-lo a comer alguma coisa. Espera melhor, eu irei levar algo para ele comer, me espera que logo eu chego.
Ao desligar o celular e guardá-lo em seu bolso, o loiro retorna ao quarto de Murilo e o escuta conversando.
- Diogo, você partiu sem ao menos pensar em mim, Leandro partiu sem ao menos pensar em mim, eu estou sozinho...Estou sozinho...Shiiii...não fale, você me deixou...
-“Lilo, eu estou aqui com você, eu não deixei você..."
Diogo em sua constante abordagem fazia com que Murilo começasse a viver na realidade, na frequência em que Diogo estava, e isso trazia mais espíritos errantes com intuito de absolver (vampirizar) a energia negativa tanto de Diogo quanto de Murilo, acarretando em Murilo apresentava um grau de agressividade e um grande transtorno emocional, o médico ora chorava compulsivamente, ora falava viajava em suas memórias passadas e recentes, se auto flagelando.
Diogo não conseguia expulsar os intrusos da casa de Murilo, quanto mais ele tentava mais eles zombavam de seu esforço, não só Diogo induzia pensamentos na cabeça de Murilo, os outros também começaram a subjugar o médico com pensamentos destrutivos.
-“Sua vida não tem mais importância, você seria livre de amargura se colocasse um fim...”
- “Pegue uma faca e se apunha-le, acabe com seu sofrimento. ”
Diogo ao ver o descontrole de seu amado seu coração se aperta e ele coloca sua mão ao lado esquerdo de seu peito e esfrega o local como se estivesse doendo, mas ele não iria admitir essa dor, pois o que ele queria era ficar com Murilo, se o médico fizesse o que ele fez eles ficariam juntos.
Victor tentava conter Murilo em seus delírios e Diogo tentava expulsar os intrusos da casa, somente ele podia ficar com Murilo, mas suas tentativas não surtiam efeito, ele gritava, empurrava, mas era sempre apunhalado com socos e chutes de seres mais fortes que ele, com mais controle de suas faculdades espirituais que Diogo.
E no meu da desordem no plano espiritual uma forte luz se faz persente, o calor atingi os que vivem na escuridão, fazendo com que eles se afastassem e fugissem, Diogo suspira aliviado e vira-se para o visitante indesejável, ao levantar os olhos Diogo se depara com Claudio, este estava com um semblante triste dirigido a ele, Diogo se encolhe e se encaminha em sua direção.
-“O que faz aqui, ninguém te convidou, Lilo está muito bem. ”
- “Realmente acredita que Murilo está bem? Diogo você não está apenas ferindo este homem, você está se ferindo junto. ”
-“Não estou ferindo o Lilo, agora eu o tenho comigo, ele está feliz. ”
-“Ele não está, não se engane, você ficaria realmente feliz se Murilo chegasse ao ponto em que você chegou Diogo? ”
A pergunta pegou Diogo desprevenido, ele pensava que sua resposta imediata seria sim, claro que sim, ele ficaria com Murilo para sempre, mas ao se lembrar de toda a dor que ele ainda sente em seu corpo, a dor emocional em saber que não poderá viver tudo o que sonhou, ele não queria que Murilo passasse por isso, Diogo abaixa sua cabeça e uma lágrima escorre de seus olhos, deixando sua face manchada devido a sujeira que insiste em se manter em seu corpo.
-“Meu querido, venha comigo, vamos curar suas feridas, sanar sua sede, peça perdão pelos seus atos e deixe Murilo seguir sua vida. ”
-“Eu...eu não consigo, imaginar ficar longe de Murilo, não, eu não posso. ”
-“ Você está prejudicando o homem que você diz amar. ”
-“Não, eu estou o salvando de alguém que o enganou, traiu ele, preferiu o medo a amar Murilo. ”
-“Diogo, você está sendo hipócrita em negar seus atos, Leandro foi induzido, ele não está isento de seu erro, pois ele é livre para escolher seu caminho, você o persuadiu, plantou em seu coração a dúvida, a culpa de Leandro ele irá arcar com ele, e você, irá arcar com a sua? ”
Claudio deixou Diogo com
palavras e foi de encontro a Murilo, se aproximando do médico o espirito bem-feitor levantou suas mãos e começou a recitar palavras de conforto e de suas mãos impostas uma luz ardente foi direcionada ao corpo doente.
Murilo sentiu seu corpo se acalmando e sua respiração normalizando, sua cabeça começou a abrandar e seus joelhos cederam ao chão, braços fortes foram envolvidos e seu redor e sustentado em pé novamente, Murilo sentiu seu peito relaxar e lágrimas voltaram a cair, olhando a pessoa que estava lhe ajudando o médico encontra um par de olhos azuis e o reconhece.
- Victor...Ah! Que dor Victor...- Murilo envolve os braços no corpo do loiro e chora em seu ombro.
Victor engole um nó em sua garganta e começa a fazer carinho nas costas de Murilo.
- Shiii, vai ficar tudo bem Murilo, vai ficar, venha vamos tomar um banho hun!
Murilo se deixou levar, Victor o levou ao banheiro e o ajudou a tomar banho, não se importando em estar com o outro nu em sua frente, Murilo se ensaboou, lavou seus cabelos e escovou seus dentes, enquanto estava no banheiro os homens escutaram alguém chamar por ele do lado de fora da porta.
- Victooorrr...
- Aqui, estamos no banheiro. – O loiro reponde a Leticia.
- Puta merda, esse lugar está um chiqueiro, olha eu vou arrumar o quarto enquanto você está com ele aí no banheiro.
Leticia falou e logo corre para o quarto, abrindo a janela e deixando o ar entrar, a garota começou a limpar e arrumar rapidamente, quando estava terminando a porta do banheiro se abre, Murilo estava com uma toalha envolta de sua cintura, Victor o levou até a cama e foi até seu guarda roupa pegar roupas limpas.
- Eu vou esquentar o caldo que trouxe enquanto ele se troca, não demoro.
Assim que Letícia saiu Victor foi até Murilo lhe dando suas roupas, o médico a pega colocando sem demora, com suas roupas em seu corpo Murilo se deixa deitar em sua cama, quando estava acomodado Letícia entra com um prato em mãos e soprando para esfriar o alimento.
- Abra a boca, olha o aviãozinho...Vruumm...Piuiiii...
- Avião não faz piuiii sua anta. – Diz Victor a Leticia.
- Olha seu loiro azedo a porra do avião é meu e eu faço o que eu quero com ele está legal, até se eu quiser colocar um caralho de uma buzina eu coloco, oh.. Azedo chato. - A baixinha retruca de nariz empinado. – Agora abre a boquinha Murilo.
Murilo sorri para os garotos e faz o que Leticia pede, a baixinha alimenta o médico com muito carinho, as lágrimas insistentes ainda transbordam de seus olhos dourados.
- Não fica assim, corta meu coração te ver desse jeito. – Leticia diz a Murilo.
Victor entrega um copo com água ao homem e senta-se ao seu lado, Murilo bebe a agua como se a muito tempo não ingeria tal líquido, sua garganta estava ressecada.
- Quando eu era mais jovem, mais jovem que vocês... – Murilo pigarreou limpando a garganta e negando a última colher de comida oferecida por Leticia. – Eu tinha um amigo, ele era o meu melhor amigo, fazíamos tudo junto, éramos vizinhos, então nossa amizade foi inevitável, ele era muito amável, delicado, dedicado, educado, todas as qualidades que uma pessoa poderia ter, ele as possuía e ainda assim era humilde, seu coração era tão grande que ele era capaz de tirar a própria roupa e dar para alguém que necessitava, estávamos no Ensino Médio, eu estava terminando o terceiro ano, ele estava no segundo, Diogo era muito inteligente, tinha uma paixão pela vida, com o passar do tempo seu comportamento foi mudando, ele não se vestia mais com roupas alegres, eram sempre roupas escuras e de mangas cumpridas, quando fui questioná-lo sobre tal mudança ele me disse que era porque estava sendo punido pelo seu pai, quando eu perguntei o porque ele me respondeu que era por causa dele estar apaixonado, não entendia porque ele seria punido por estar apaixonado, foi quando ele me contou que a pessoa por quem estava apaixonado era eu. – Murilo se interrompeu e respirou profundamente.
Letícia e Victor não se mexia de seus lugares, ambos atentos a narrativa de Murilo, a dor em seu rosto era visível e seus olhos estava viajando em algum lugar do passado.
- Depois de sua confissão eu pensava que iria me afastar de Diogo, mas foi o contrário, eu não conseguia, pois descobri que o que eu sentia por ele não era uma simples amizade, era mais forte, era amor, Ah...Foi meu primeiro amor, vivemos esse amor sabem, era puro, belo, Diogo sempre dormia em minha casa, ele saia escondido da sua casa e atravessava a rua para dormir comigo, todos os dias, todos os dias fazíamos juras e planos para nós, ficamos assim até eu fazer o vestibular e passar para a faculdade, foi quase um ano que nos amamos, até que Diogo parou de vir dormir comigo, passou uma semana, duas, eu não o via mais, nem na escola ele estava indo mais, em sua casa sua mãe não me deixava entrar para falar com ele, seu pai sempre me tratava como uma aberração, meus pais chegaram a brigar com eles, em nunca escondi minha orientação assim que me descobri eu fui sincero com minha família, eles me aceitaram e me apoiaram, mas Diogo não teve essa sorte, sua família eram fanáticos religiosos, uma noite eu escutei gritos na casa de Diogo e fui até lá, eu ouvia seu pai lhe batendo e o chamando de vários nomes depreciativos, um outro pastor também estava lá, eles repreendiam e expulsavam o demônio do corpo de Diogo, vê se tem cabimento isso? – Murilo limpava suas lágrimas com deus dedos. – Foi a noite toda assim, cada palavra era um grito de dor devido a chicotadas que ele levava, eu não consegui tirá-lo da casa, tentei chamar a polícia, mas quando eu disse que eram os pais que estavam fazendo isso devido o filho ter se assumido como gay, eles me responderam que eles estavam certos em corrigir o filho, meus pais estavam viajando, eu não tinha ninguém para pedir ajuda. Eu passei a noite acordado rezando para que Diogo aguentasse, eu tinha planejado tirá-lo da casa e iriamos embora daqui, iriamos viver nossa vida longe dos pais de Diogo, mas quando o sol surgiu escutei a sirene de uma ambulância, a mesma parou em frente à casa de Diogo, sem pensar corri até lá e entrei, quando cheguei no quarto de Diogo eu vi a porta do banheiro aberta e os paramédicos, chegando perto vi Diogo com os pulsos cortados, vários cortes, o seu desespero foi tão grande que ele fez vários cortes para garantir que não teria tempo de salvá-lo, seus olhos estavam abertos ainda, mas a vida que uma vez ele tanto amava não estava mais lá. Diogo tirou sua vida com 17 anos, perdi meu primeiro amor, e meu coração tinha sido enterrado junto com ele.
Leticia estava chorando silenciosamente, Victor estava limpando suas lágrimas também, a emoção da história era esmagadora e os garotos entendiam a dor que Murilo carregava em seu peito.
- Demorei muitos anos para recuperar meu coração, ah Cristo, como fui tolo em pelo menos imaginar que um dia eu poderia voltar a ser amado novamente, não me arrependo de minha amizade com Leandro, essa amizade me trouxe vocês, eu os amo tanto que meu peito explode... – Murilo sorri para os dois que estavam em sua frente. – Apenas não posso mais conviver com isso aqui... – Murilo aponta para seu peito. – A dor está me matando novamente, é a mesma dor de quando eu vi Diogo sem vida em meio ao seu sangue.
Murilo apoiou sua cabeça nos travesseiros e parou de falar, ele estava imensamente cansado, logo o sono o alcançou, o médico foi banhado por uma onda calmante que relaxou seu corpo lhe proporcionando o descanso necessário.
Victor e Leticia cobriram seu corpo e saíram do quarto, os dois começaram a limpar a casa de Murilo, a confissão de Murilo estava no ar, Leticia não parava de chorar por Diogo.
Enquanto isso Diogo não esperava que Murilo tivesse guardado tanta coisa em seu coração, seus planos de fuga para uma vida juntos, o que mais doía em Diogo era que Murilo havia presenciado seu corpo mutilado e morto dentro de um banheiro, um fio de arrependimento começou a ser tecido em seu coração, era pequeno, mas pelo menos era alguma coisa.
Na fazenda Olhos D’água Renato vigiava o sono de seu pai, Leandro estava calmo, ele estava na terra dos sonhos, Leandro estava em boa companhia.
“- Oh meu querido, venha. – Heloisa abre os braços e Leandro encaixa o seu corpo e logo é agraciado com um abraço carinhoso.
- Eu fiz a maior besteira da minha vida, perdi meu amigo para sempre.
- Nada é para sempre, principalmente quando há Amor Leandro.
- Meu amigo não irá me perdoar, isso está me consumindo a alma.
- Leandro a partir do momento que você assumir que o ama você será capaz de lutar por ele.
- É claro que eu o amo, ele é meu melhor amigo. – Leandro diz a mulher bufando em descontentamento.
- Meu querido você pode mentir para si mesmo, mas não para mim, assume o que seu coração tanto quer, o medo apenas prejudica seu caminho.
Heloisa segurou as mãos de Leandro e logo o cenário de seu sonho mudou, eles estavam em um quarto com uma iluminação branda, de um lado havia um senhor que estava com as mãos levantadas e uma forte luz eram emanadas, no canto do quarto havia uma pessoa toda suja e com um forte odor se ferro e lama podre, seus braços haviam cortes e um corte fundo no pulso onde o sangue brotava, o homem olhava para Leandro com ódio e quando ameaçou andar em sua direção o homem de vestes brancas lhe impediu.
Heloisa apontou a cama e sobre a cama havia um homem adormecido, Leandro se aproximou e seus olhos se arregalaram quando ele viu que o homem era na verdade Murilo.
-Ele precisa de você, assim como você precisa dele, e lutar contra isso é lutar contra si mesmo.
- Eu...eu...O machuquei, o magoei, ele deve estar me odiando.
- Com certeza está sim, mas com Amor Leandro tudo se resolve, elimine seus medos, abra seu coração, se permita viver meu querido, viva esse amor sem amarras, sem se julgar, o preconceito está em seu próprio coração e em seus olhos.
Quando Leandro ia responder a Heloisa, o homem esfarrapado começou a gritar.
- Não se aproxime de Lilo, ele é meu coisinho, eu não irei permitir que o tire de mim, fique longe dele...
Leandro olhou assustado para Heloisa e para o outro homem, Helô segurou as mãos de Leandro com um sorriso cálido nos lábios, enquanto o homem de branco foi para o esfarrapado e começou a conversar com ele, via-se o nervosismo do outro, a fúria que era dirigido a Leandro, mas o fazendeiro resolveu ignorar e mirou seus olhos ao homem adormecido.
- Eu fui um tolo em não perceber que o amava, fui pérfido para com seus sentimentos, eu o perdi para ter certeza que o amava.
- Nem tudo que está perdido não pode ser encontrado, o amor não possui sexo, idade ou um tempo determinado, apenas viva o que ele pode te proporcionar, o crescimento e a evolução depende apenas de você mesmo.
Heloisa voltou a segurar as mãos de Leandro e novamente o cenário se alterou, estavam novamente em seu quarto.
- Eu entendi o que tenho que fazer, irei me redimir e terei o que é para mim, assim serei para ele também.
- Todo o caminho possui obstáculo, não desista quando o primeiro aparecer, persista e insista, cada obstáculo é uma lição para ser aprendida, cada queda lhe ensina a cair e se levantar sem dificuldades, amar é fácil, assumir como amar é difícil, não tenha medo o enfrente de cabeça erguida. ”
Com um beijo em sua testa Leandro é despertado de seu sono.
Ao acordar a primeira pessoa que se depara é seu amado filho, Renato ao perceber que seu pai já havia despertado se aproxima de seu progenitor abraçando seu corpo e beijando sua face. Leandro aproveitou o carinho e o calor desprendido do amor de Renato, com um sorriso em seus lábios Leandro gesticulou para seu filho.
- Está na hora de eu acordar meu filho, está na hora de eu lutar por alguém que eu amo, está na hora de pedir perdão.
Renato sorriu para seu pai assentindo com sua cabeça e um apoio incondicional, está na hora de Leandro ir em busca seu amor e implorar seu perdão.

Segunda ChanceOù les histoires vivent. Découvrez maintenant