Capítulo 8 - Rodo

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O que o líder da tribo fez foi repousar o bambu de leve, gentilmente sobre o ombro de Dalton, como um gesto que concedia permissão e depois disso os índios se aproximaram dele, agarraram os três enquanto sorriam e os levaram até as ocas, as suas casas altas redondas e feitas de palha. Eram amistosos. Os índios falavam aquela língua que os três não conheciam, mas se mostravam extremamente solidários ao servi-los um delicioso pato assado – que, famintos, eles devoraram – além de servir água, passar substâncias naturais que curaram os seus ferimentos rapidamente quase como mágica e ainda mostraram acomodações, camas feitas de plantas onde eles puderam deitar e descansar.

Como já era o fim da tarde quando eles encontraram a tribo, a noite caiu bem rápido. Dalton deitava sobre a sua cama de plantas e a única parte de seu caro terno azul marinho que ele vestia era a calça. Betinha deitava com a sua cabeça repousando sobre o peitoral nu dele e o abraçava. De repente, vagalumes diferenciados invadiram a oca onde estavam e brilhavam acima deles nas cores azul e branco, criando uma espécie de céu noturno brilhante só para eles. Foi debaixo de todas aquelas luzes dançantes que os beijos começaram, as carícias, a roupa de Betinha sendo removida por completa e assim ali, naquele ambiente exótico e fascinante, sob os sons da floresta, Dalton e Betinha tiveram a sua primeira noite de amor.

O sol da nova manhã nasceu. Anja foi invadindo a oca onde Dalton e Betinha dormiam sem se importar. Quando os seus olhos identificaram os dois dormindo totalmente nus sobre aquele montante de plantas e flores, abraçados, ela perdeu de uma vez o seu controle. Odiava Betinha mais do que nunca, já que queria estar no lugar dela e por isso acordou Betinha violentamente ao já puxá-la pelo cabelo arrastando para fora da oca, mesmo que Betinha não vestisse roupa nenhuma.

Dalton despertou assustado com os gritos e foi atrás.

— Como você teve coragem, sua ratinha pobre?! Você não sabe com quem está se metendo. Não sabe o que vai sobrar pra você se continuar roubando o que é meu! – Anja gritava enquanto arrastava a nua Betinha pelo cabelo até ao centro da aldeia.

— Louca! Sua louca! Ele nunca foi seu. Admite isso e entuba! Entuba a sua derrota, sua riquinha podre! – Betinha gritava em resposta.

Betinha manteria a sua palavra de não sustentar brigas por causa de homens, mas como havia sido atacada primeiro, nunca que alguém de personalidade intensa como ela receberia todo o ataque sem revidar. Por isso, mesmo ainda no chão, ela enfiou os seus dentes no calcanhar de Anja, mordeu com força, levantou-se então para acertá-la de verdade, mas foi quando todos aqueles índios já apareceram imobilizando a descontrolada Anja e cobrindo Betinha com uma manta.

Dalton apareceu atrás de Betinha e a abraçou.

— Você está bem? – Dalton a perguntou.

Mas agora os dois só observavam enquanto os índios levavam Anja para uma espécie de prisão improvisada. Era uma grande gaiola com grades feitas de bambu e a aprisionaram ali dentro como se ela fosse alguma criminosa perigosa.

— Meu Deus. Prenderam a Anja – Dalton disse.

— Pois me alegro muito! – Betinha fez questão de dizer bem alto e olhando diretamente para Anja, humilhando. Ela batia palmas com força. – Os índios estão de parabéns! Certíssimos! Acho que vou bater até com os meus pés para parabenizar, porque só as palmas das minhas mãos não são suficientes. Olha a bandida encarcerada! Prisioneirazinha perigosa! Pega, camburão! Pega!

Enquanto Betinha chorava de tanto rir, Anja a encarava agarrando as grades e fervendo em ódio mortal.

Eldora, a mãe de Betinha acordou tão cedo naquela manhã. Já tinha três faxinas marcadas para aquele dia e agora amarrava os kits de limpeza que sairia para vender pela rua. Trabalhava como uma louca. Sabia que deveria se esforçar até além do seu limite para conseguir o dinheiro para pagar a dívida que havia feito com o perigoso agiota Cachorro Brabo. Seu único alívio era acreditar que tinha mesmo falado com Betinha ao telefone. Ela ligou a sua TV pequena e velhinha – o único bem com algum valor que ainda não havia vendido – e o noticiário falava sobre a queda do avião novamente. Eldora segurava um dos rodos que iria vender e logo ficou paralisada ao receber aquelas notícias pela TV. Não podia acreditar. Enquanto imagens dos destroços do avião eram mostradas, a repórter dizia claramente que só agora as equipes de buscas começavam a ter sinais dos primeiros sobreviventes. Assim, Eldora se perguntava se quem mentia era a TV ou o tal amigo do bicheiro Binho que havia vendido as informações para ela e decidiu ir até a casa do vizinho tirar satisfações. Eldora entrou silenciosamente e foi ouvindo a conversa que Binho seguia tendo com a sua esposa Tábata enquanto deitados no sofá.

— Vai lá no bar do Olho Torto e compra mais cerveja – Tábata ordenou.

— Ih, o dinheiro já está acabando. Você está pensando o quê?

— Acabando o quê? A gente arrancou no total R$600 lá daquela velha trouxa. Para de ser mão de vaca. Eu estou pensando é em pegar uma parte para dar entrada num mega-hair que eu quero colocar. Vai ficar uma beleza.

— Seus sujos desgraçados... – Eldora disse nervosa finalmente anunciando a sua presença logo atrás deles e os dois deram um pulo do sofá. – Mentiram para mim. Brincaram com os sentimentos de uma mãe desesperada só para arrancar dinheiro. Miseráveis. Miseráveis!

Eldora começou então a atacá-los com o rodo que ela ainda segurava. Batia repetidamente nos dois com o cabo de madeira do rodo e Binho e Tábata saíram correndo de casa, foram parar no meio da rua. Quando caíram no chão e Eldora nunca parava de bater neles com o rodo, todos os moradores iam se aglomerando em volta para ver a cena.

— Nunca teve amigo de aeroporto nenhum! Fingiram que era a minha Betinha. Ratos! Ratos sujos! – Eldora gritava e batia.

Ela golpeava as costas, os ombros, a cabeça e as pernas deles com tanta força e raiva que quebrou o cabo do rodo nas costas de Binho.

— Até dívida com agiota eu acabei fazendo. Vocês conseguem entender o que fizeram comigo? Mas vocês vão me pagar e vão pagar caro. Até o prejuízo desse rodo quebrado vocês vão me pagar, seus imundos! – Eldora gritou e voltava para a sua casa, tentando ao máximo se acalmar.

Na aldeia era um feliz dia ensolarado. Dalton e Betinha estavam sentados no chão. Ele fazia uma bola de futebol para os meninos, ela fazia tranças nas meninas e os dois iam sendo pintados por indígenas enquanto faziam aquelas pausas para se beijar e sorrir um para o outro, tão felizes. Anja observava tudo de dentro da gaiola. Ela notou especialmente que todo índio que passava em frente a uma pequena estátua de barro no formato de uma mulher debaixo de uma cobertura ali perto, se curvava em reverência e entendeu que se tratava de algum objeto sagrado de grande importância para a crença de todos na tribo. Foi assim que ela teve um plano forte para acabar com Betinha de uma vez por todas.

 Foi assim que ela teve um plano forte para acabar com Betinha de uma vez por todas

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Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora