Capítulo 75 - Cabeça

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- Como você conseguiu me trazer até aqui? – Geraldinho continuou.

- Não interessa. Eu te fiz uma pergunta bem clara e direta e estou aguardando a resposta. Topa se unir a mim para matar a Betinha?

- Mas e o que é que você e a Betinha...

- O meu marido se chama Dalton e...

- Ah, o tal Dalton! Ih, então nem precisa falar mais nada. Já entendi, porque eu já flagrei a Betinha suspirando de amor vendo fotos dele na internet e depois vi os dois de conversinha na rua.

- Pois é. O meu marido está sendo acometido por algum tipo de loucura que está fazendo ele se envolver com aquela favelada e então eu a odeio por isso e você a odeia porque ela não quer você e se nós dois a odiamos... Vamos matá-la. Não é simples? Você topa? Diz logo que topa.

De repente Geraldinho só conseguia se lembrar de quando tentou transar com Betinha e ela apenas o chutou bem entre as pernas. Quando tentou ter o corpo dela todo pra ele na cozinha e ela enfiou o garfo em seu braço e então tinha a sua decisão.

- Eu topo – foi a palavra final de Geraldinho e logo Anja começou a desamarrá-lo, toda feliz.

Chegou o sábado em que aconteceria à noite o festão de aniversário em comemoração ao aniversário de 20 anos de Betinha. Pela rua que dava para o casarão lá no alto da colina, não parava de passar caminhões e mais caminhões trazendo mesas, cadeiras, decoração e pedaços do palco onde a cantora muito famosa que Cachorro Brabo havia contratado iria se apresentar. Diferente de todos os vizinhos, Binho nem dava atenção para toda a movimentação rumo ao casarão. Binho estava bem ocupado trabalhando com martelo, serrote e outras ferramentas porque ele trabalhava sozinho na reconstrução da casinha onde o seu bordel/ casa de jogatina havia funcionado no passado. Ele havia parado de beber e agora só trabalhava dia e noite na reconstrução do seu negócio. Binho seguia o conselho de Betinha e estava empenhado em voltar a ser o gigolô/ bicheiro mais poderoso da região.

Tábata não parava de se divertir no hotel onde estava hospedada e sendo bancada por Lorenzo. Naquele sábado acontecia mais uma festa na cobertura do hotel 4 estrelas e como sempre Tábata chamava todas as atenções ao dançar de forma escandalosa e gritar e beber demais em meio aos outros hóspedes do hotel que eram chiques demais em contraste com ela.

- DJ! TOCA UM FUNK AÍ! – Tábata gritou erguendo a sua taça cheia de champanhe.

- Eu vou pedir, por gentileza, para que a senhorita se contenha. Já estamos recebendo reclamações – um funcionário do hotel finalmente se aproximou de Tábata pedindo.

- Iiiiiihhh, me conter é O CACETE! Eu sou hóspede dessa porra igual a todo mundo aqui! Bebo mesmo! Me divirto mesmo!

Tábata acabou empurrando uma senhora, veio gente brigar com ela, apontando dedos. A confusão estava armada.

A noite chegou e Anja saia de casa. Dalton se sentia tão infeliz. Ele estava encolhido em uma poltrona na sala, bebendo uma taça de vinho e viu quando Anja estava prestes a abrir a porta para sair.

- Anja, espera – ele pediu falando tão baixo. Era como se nem tivesse mais forças para seguir vivendo.

- O que foi agora? – Anja demonstrava não estar com qualquer paciência.

- Eu nem estou mais pedindo. Eu estou implorando de verdade agora. Me esquece. Desiste de mim. Vai ser feliz. Vai viver a sua vida. Esse casamento forçado, essa situação que você está mantendo comigo... Isso não é vida de verdade, Anja. Eu vi naquele quarto de motel que aquele ruivo lá, aquele cara gosta de você de verdade. Então fica com ele. Fica com quem quer ficar com você também. Eu estou implorando, Anja. Não faz mais mal pra mim. Não faz mal pra Betinha. De que adianta? Por favor. Por favor.

Anja ainda ficou olhando para Dalton por um instante, ainda pensou, mas saiu. Ela entrou no carro que a esperava e quem dirigia era Geraldinho.

A festa de aniversário de Betinha realmente era o evento inacreditável que Cachorro Brabo havia prometido. Muitas luzes, muitas mesas, comida e bebida sem fim, muito brilho, muito luxo e no palco montado quem fazia o show era ninguém menos do que a cantora Anitta.

- Isso tudo é uma loucura – Betinha disse até rindo, caminhando de mãos dadas com a sua mãe por entre os convidados.

- Você gostou, minha gata? É PRA VOCÊ! É TUDO PRA VOCÊ, MINHA GOSTOSA! – Cachorro Brabo surgiu gritando e abraçou Betinha, a agarrou a girando enquanto os pés dela não tocavam mais o chão.

Cachorro Brabo ordenou que a cantora Anitta começasse a cantar parabéns para Betinha lá do palco e ele começou ao microfone. Logo todos cantavam. Betinha ali usando aquele lindo vestido ainda sem acreditar porque nunca estaria acostumada com todo aquele luxo e o bolo gigante de dez camadas vinha sendo empurrada em uma mesa com rodinhas na sua direção.

Geraldinho entrou com Anja em um prediozinho abandonado ao fim da rua. Ficava a uns 400 metros de distância do jardim do casarão onde o festão de Betinha acontecia. Geraldinho se posicionou com a arma moderna na janela do quarto andar do prediozinho. Ele fechou um olho e mantinha o outro aberto, olhando para a mira. Geraldinho mirava à distância precisamente em cima de Betinha que lá longe batia palmas e cantava parabéns. Agora ele só precisava apertar o gatilho e aquela comprida arma preta e moderna iria disparar e acertá-la. Mas Geraldinho parou. Era como se congelasse pela incerteza.

- Não desiste agora – Anja foi logo incentivando. – Você está muito perto, muito perto de fazê-la pagar por toda a rejeição que ela fez você sofrer. Não se iluda, cara. A Betinha nunca vai querer você. Ela quer o Dalton, ela quer o meu marido, então se você nunca poderá tê-la... Acaba com ela de uma vez.

E foi só depois que Anja ficou sussurrando todas aquelas palavras de incentivo no ouvido dele, como um demônio influenciador, que Geraldinho tomou coragem. Ele apertou o gatilho. A bala saiu em uma certeira rajada. O sangue espirrou na hora, manchou o bolo alto de vermelho. Betinha caiu no chão, todos em volta saíram correndo, a cantora Anitta fugiu do palco. Dalton não fazia ideia do que havia acontecido, mas mesmo assim quando a sua amada foi atingida pelo tiro ele deixou a taça de vinho cair de sua mão e ela se despedaçou no chão, porque sentiu uma pontada bem forte no seu coração.

- BETINHAAAAAA! – gritou Cachorro Brabo.

O sangue de Betinha ia criando uma poça vermelha ao redor dela que ia crescendo, porque a bala havia sido acertada bem em sua cabeça. 

Betinha no início de sua grande festa de aniversário de 20  anos, posando para uma foto ao lado do seu melhor amigo, Robert Munsh

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Betinha no início de sua grande festa de aniversário de 20  anos, posando para uma foto ao lado do seu melhor amigo, Robert Munsh. 

Anitta cantando parabéns para Betinha no palco montado no jardim do casarão para a grande festa

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Anitta cantando parabéns para Betinha no palco montado no jardim do casarão para a grande festa... Pouco antes da tragédia. 


>>> Continua ... 

Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Where stories live. Discover now