Capítulo 70 - Parasita

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- Estranho.

- O que é estranho, minha gata? – Cachorro Brabo perguntava para Betinha mais tarde. Estavam em seu quarto.

- Esse tal Jerônimo aí, esse senhor que você arranjou como novo capanga. Primeiro porque ele vai contra o padrão de caras jovens, fortes que você enfia aqui dentro, armados e segundo... Sei lá, não fui com a cara dele. Um pressentimento... Sei lá.

- Coisas de mulher. Olha, eu trouxe o velho pra cá porque eu não preciso só de músculos no meu negócio, também preciso muito de cérebro e dificilmente músculos vêm acompanhados de cérebro, daí... O senhor Jerônimo comprovou que já trabalhou mexendo com a contabilidade de gente da bandidagem pesada, por isso eu sei que o coroa vai fazer um bom trabalho por aqui – Cachorro Brabo explicou por fim. – Agora chega de falar, porque eu quero fazer um amorzinho.

Na madrugada, Eldora ia até à cozinha para beber um pouco de água quando levou um grande susto ao esbarrar com Jocler (ou como ele se chamava na sua nova identidade falsa, Jerônimo).

- Mil desculpas, eu não quis assustar a senhora – Jocler disse para a mãe de Betinha.

- Não. Imagina. Eu estou bem. É porque não adianta, eu não me acostumei ainda com isso de viver em uma casa onde tem homens armados rondando os corredores 24 horas por dia.

- Precisa de ajuda com algo?

- Minha nossa. Você é diferente mesmo de qualquer outro "capanga" que o Cachorro Brabo já enfiou aqui dentro dessa casa. Nem em mil anos eu esperaria ouvir algum dos capangas dele me perguntando se eu preciso de alguma ajuda.

E então Eldora, uma cinquentona e Jocler, um cinquentão se olharam. Algum sentimento definitivamente surgia entre eles.

Bem cedo pela manhã, Lorenzo acabou cedendo à chantagem de Tábata e a hospedou em um quarto de hotel no centro da cidade, tudo por conta dele.

- Uau. É um quarto lindão mesmo – Tábata disse e se jogou sobre a cama alta, tão branca e macia. – Tudo bem que é aqui é só um hotel 4 estrelas e eu mereço 5 estrelas, mas vou relevar.

- Agora você trata de se aquietar aqui dentro, Tábata! Eu estou dizendo!

- Eu vou é pedir muito serviço de quarto! Muitos drinks diferentes, muita comida francesa. Aaaaaaiiii! Eu vou me divertir demais! – foi como Tábata respondeu à Lorenzo e ele saiu revoltado.

- Cara, no que você foi se meter? – Dalton confrontava Lorenzo mais tarde quando o seu amigo o contava tudo sobre o ocorrido.

- Que saída eu tinha? Ela ia até a Adele, ia contar do caso que tivemos!

- Ah, e agora você vai ficar dando um rombo na sua carteira ao bancar diária e mais diária em hotel mais altas despesas com serviço de quarto para manter aquela parasita?!

- Eu não sei o que eu vou fazer da minha vida, cara. Me meti numa roubada. Estou perdido. Perdido – Lorenzo desabafava.

À tarde, Betinha estava na agência de modelos de Robert Munsh posando para uma nova sessão de fotos, enquanto Cachorro Brabo estava sentado na sua poltrona de couro no salão do casarão e estava rodeado por um bando de mulheres. Todas novinhas, com cabelos compridos, roupas curtíssimas e todas se insinuando para ele.

- Deixa eu me acomodar... – uma foi dizendo e já se preparava sentar no colo de Cachorro Brabo, mas ele a empurrou para longe.

- Toma distância, piranha. Esse monte de silicone que vocês metem nos peitos faz vocês ficarem surdas? É isso? Já não disse que agora sou homem fiel casado? CA-SA-DO! Aqui ó! – e ele exibia a aliança em seu dedo.

- Ain, Cachorrão! Poxa. Não seja mal com a gente – uma disse.

- Poxa, temos a maior saudade do tempo que você era legal com a gente. Tínhamos tanta diversão. Lembra quando você deu aquela festa e foi pra cama com dez mulheres ao mesmo tempo? Foi a melhor noite! E eu era uma delas – outra disse.

- Não lembro. Não me lembro de nada – Cachorro Brabo dizia batendo o pé, cruzando os braços, nervoso.

- Saudade da sua pegada, do jeito que você é incansável na hora da ação – mais uma disse e começou a acariciar o braço tão musculoso dele.

- Iiiiiihhh. Esse papo já está ficando estranho demais! Por acaso sabiam que já faz um tempo que eu instaurei uma lei aqui nessa casa que diz que diz que piranhas, periguetes e derivados não têm mais permissão pra ficar circulando aqui dentro?

- Ah, para. Sabe do que mais a gente tem saudade?

- Não sei e tenho raiva de quem sabe – e de braços cruzados, Cachorro Brabo virou o rosto para não olhar para elas, igual um menininho zangado.

- Do bordelzinho. Poxa, Cachorrão, foi pra isso que a gente veio hoje até aqui.

- É. Viemos pedir para que você abra outro bordel aqui no bairro. Todo mundo sabe que o último bordel que teve aqui era aquele que o Binho comandava e isso já faz anos.

- É, Cachorrão. Abre um bordel pra gente. Por favor. Por favorzinho. Um bem legal como era o do Binho. Com jogos de cassino, com jogo do bicho. A gente também precisa trabalhar.

- E eu lá quero saber de me meter em abrir bordel?! Nem pensar. Agora saiam, saiam. Já me cansei dessa palhaçada – foi a palavra final de Cachorro Brabo expulsando todas as novinhas de sua casa.

Ainda era tarde, o sol ainda brilhava, mas Binho já estava caindo de bêbado. Ainda arrasado pela nova traição de Tábata, ele bebia para tentar se esquecer da esposa e agora saía cambaleando do bar.

Betinha estava no banco de trás do carro comprido dirigido pelo motorista particular. Ela voltava para casa depois do trabalho na agência de modelos. De repente, ela tomou o susto com a freada violenta que o motorista deu. Betinha se apressou em sair de dentro do carro para entender o que havia acontecido, ela tirou os seus óculos escuros para ver com clareza. Binho estava deitado no chão da rua. Ela via sangue. Binho havia sido atropelado pelo seu carro.

As jovens que estão sempre atrás de Cachorro Brabo tentando arrancar vantagens e favores

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As jovens que estão sempre atrás de Cachorro Brabo tentando arrancar vantagens e favores. 


>>> Continua ...

Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Where stories live. Discover now