Capítulo 198 - Quente (ÚLTIMAS SEMANAS)

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Tábata e Judá transaram por uma hora inteira. Logo estavam deitados um ao lado do outro na cama dele.

— Sabe? Tem algo que eu realmente sinto essa urgência de te perguntar, mas eu não sei como você reagiria se eu...

— Vai. Segue em frente. Pergunta. Eu até já sei o que será – Tábata deu a permissão.

— Foi você, Tábata? Você matou o Geraldinho?

— Eu já disse para quem me perguntou antes, já disse várias vezes e repito: eu não matei o Geraldinho. Mas e você, hein?

— Eu?! Eu não atirei nele.

— Bem, alguém atirou – Tábata concluiu.

— Certo, certo. Olha, me desculpa. Eu até já me arrependi de ter trazido o assunto à mesa. Você não acha melhor simplesmente voltarmos a fazer o que estávamos curtindo?

— Com certeza. Gente feliz não é quem fica falando sobre o que já passou, desenterrando dores que já morreram. Gente feliz é quem transa – Tábata concluiu e, nua, pulou sobre o corpo forte, quente e suado de Judá.

No bairro pobre, algumas moradoras aproveitavam aquela manhã de sol quente para se bronzear e aloirar os seus pelos. Aquele grupo de mulheres subiu até uma laje, elas se deitaram lá em cadeiras de praia, passaram bronzeador e água oxigenada e agora fofocavam enquanto havia um radinho ali do lado tocando alto músicas de funk com pesados palavrões.

— Meniiiiiiina, tu viu na TV sobre a Carla? Encarceraram a vadia.

— Tu crê, menina? A vadia estava matando os machos pra roubar o que era deles. É isso o que eu sempre digo... Nessa vida a gente não conhece é ninguém. Eu vejo fulano, mas não enxergo!

— Eu estou é me lixando pra Carla. Eu fiquei pra baixo mesmo foi com essa história da polícia bater lá no casarão e fechar todas as atividades de agiotagem. Poxa, o bairro aqui agora vai ficar sem vida sem o casarão. Não vai mais ter as churrascadas, os festivais de cerveja. Por que a polícia tinha que meter o nariz onde não foi chamada e vir terminar com a bandidagem do casarão?

— Ah, menina, aqui nesse Brasil é assim mesmo. A polícia só serve pra nos ferrar.

Naquela manhã, Maria voltou à igreja do pastor Abraão.

— Está se sentindo melhor, Maria? Tem o coração mais leve agora? – o pastor Abraão a perguntou honestamente preocupado com o seu bem-estar.

— Um pouco melhor. Bem, eu só vim mesmo para dar a você o endereço da mansão da Betinha e do Dalton. É onde estou morando agora. Eu pensei que talvez, não sei, você pudesse ir até lá qualquer dia desses. Mesmo que fosse para ministrar um culto, promover uma benção, ficar para o jantar. Você foi tão gentil comigo quando eu mais precisava e...

— Será uma honra – e quando disse aquilo, após guardar o pedacinho de papel com o endereço recebido, pastor Abraão segurou a mão de Maria. – Eu espero que saiba que você é muito especial para mim, Maria.

— Eu... Eu preciso ir – e logo Maria praticamente fugiu de pastor Abraão agora, sem jeito, sentindo todo aquele novo nível de intimidade que crescia entre eles.

Lorenzo já voltava para casa com Pietro Enzo, mas foi quando o bebê começou a chorar do nada e muito alto. Mentalmente, Lorenzo checou tudo: mamadeira... Dada. Fralda... Trocada... O bebê estava ferido? Não. Então por que chorava tão alto e sem parar? Ao invés de ir para casa, Lorenzo decidiu ir direto para a clínica de Reinaldo Ricardo então (que aquela altura já era considerada a melhor clínica de todo o estado do Rio de Janeiro) e levou Pietro Enzo para uma consulta emergencial com a pediatra.

— Eu resolvi trazê-lo porque não é a primeira vez que acontece, esse choro descontrolado assim do nada, e eu fico preocupado com o que possa ser. Poxa, agora que eu achava que já estava dominando tudo tão bem.

— Bem, Lorenzo – começou a pediatra a dizer após examinar o bebê completamente. – tudo indica que o seu bebê, ele... É...

— Sem suspense, doutora. Pelas almas! Pode dizer o que ele tem. Eu aguento.

— O Pietro Enzo é surdo.

As mulheres do bairro pobre se juntam no alto da laje para se bronzear e aloirar seus pelos enquanto ouvem funks proibidos e fofocam sobre a prisão de Carla e o fechamento do casarão de bandidagem pela polícia

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As mulheres do bairro pobre se juntam no alto da laje para se bronzear e aloirar seus pelos enquanto ouvem funks proibidos e fofocam sobre a prisão de Carla e o fechamento do casarão de bandidagem pela polícia.


> > > Continua . . .


Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Onde histórias criam vida. Descubra agora