Capítulo 148 - Beliscão

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Anja estava prestes a pressionar o grande travesseiro branco contra o rostinho da bebê para sufocá-la, mas de repente ela se distraiu com a movimentação que vinha da sala. Assim, ela foi obrigada a se afastar do berço e ficar ali no cantinho da porta observando. Era Malvin na sala. O seu marido bondoso estava andando de um lado a outro, coçando a cabeça, visivelmente transtornado. Então Anja parou, olhou para o berço de novo, analisou a situação friamente e com inteligência como sempre fazia.

"Não. Mandar a bebê agora para o paraíso dos anjinhos não é a solução mais adequada", Anja concluiu no silêncio de sua mente.

Ela então dispensou o travesseiro, mas se aproximou da bebê novamente que agora estava acordada.

- Olha, lindinha, colabora comigo. Faça a sua parte. E pode acreditar que isso vai doer mais em mim do que em você.

Após dizer aquilo Anja usou das suas unhas vermelhas, fortes e compridas do seu polegar e dedo indicador e as usou em união para dar um forte beliscão o bracinho da bebê que acabou colaborando com aquele plano de Anja porque ao sentir a dor do beliscão com as unhas logo abriu a boca e chorou bem alto.

- O que aconteceu? – Malvin entrou todo preocupado no quarto perguntando.

- Vamos, Malvin. Vamos logo para o hospital. Chega de adiar. Eu só fui acomodar a coitadinha melhor no berço e ela já gritou de dor. Com certeza ela já deve ter algum machucado feito por aquele monstro do pai dela. Vamos logo ao hospital para descobrir – foram as palavras de Anja.

No hospital, Anja teve toda a sua cintura enfaixada devido as costelas fraturadas, recebeu uma tala no nariz quebrado e vários curativos no rosto onde Betinha bateu tanto. A bebê Sabrina foi toda examinada e logo a médica disse para os dois que ela estava absolutamente bem, a não ser pelo beliscão que havia marcado e inchado o seu bracinho.

- Ele beliscava a coitada da bebê? Eu posso viver cinco, dez vezes que nunca vai entrar na minha cabeça como alguém é sujo e mau o suficiente para ser capaz de fazer algo assim com uma criaturinha indefesa dessas – Malvin disse e tinha a bebê em seus braços.

Anja apenas concordou com a cabeça. Por dentro ela estava radiante. O seu plano havia funcionado. Claro. Mais uma vez ela agiu rapidamente como era necessário. Assim que viu Malvin andando tão perturbado de um lado a outro daquela sala, ela entendeu que ele já vacilava no plano, já tinha dúvidas em continuar com um bebê que não era seu, então Anja se adiantou com o plano do beliscão, do choro alto de dor da bebê para tirar qualquer dúvida do coração ingênuo de Malvin sobre continuar com a pequena.

- E você, meu amor? Ainda dói muito? – Malvin perguntou carinhosamente e tocou a bochecha dela de leve com a palma de sua mão.

- Eu sou durona. Eu vou ficar bem.

- Vai. Todos nós vamos ficar bem. Nós três. Somos uma família agora e somos só nós, um pelo outro nesse mundo. Não tem mais ninguém – Malvin se declarou.

- Desculpe interromper – a médica voltou para perto deles perguntando. – Mas para que eu termine de completar a ficha... Qual é o nome da bebê mesmo?

- É Angelique. O nome dela é Angelique Contreiras DellaVinie – Anja respondeu e sorriu tão orgulhosa e vitoriosa.

5h45 da manhã. O sol de um novo dia só havia nascido há menos de meia hora e, no entanto, lá estavam todos eles no cemitério, ao redor do caixão que guardava o corpo de Eldora e que era abaixado para dentro da cova no chão agora. Todos vestidos de preto. Betinha abraçada a Dalton, Lorenzo segurando a mão de Verônea, Robert ao lado de Reinaldo Ricardo, o advogado Judá, Jocler segurando uma flor, um lírio branco e algumas ex-vizinhas amigas de Eldora desde a época em que ela era só mais uma moradora do bairro pobre. Verdadeiras amigas. Todos se despediam.

Nem era 6h da manhã ainda e Tábata andava descalça, sem rumo pelas ruas. Não adiantava. Por mais que ela tentasse esquecer, bastava que fechasse os olhos para ver em sua mente de forma tão vívida a imagem do anão traficante Branca de Neve morto ao seu lado após levar um tiro da polícia e as vozes ficavam ecoando em sua mente cheia dizendo "a próxima vai ser você, Tábata", "você também vai morrer se não largar as drogas, Tábata", "você precisa de ajuda, Tábata".

Assim, quando Tábata se deu conta, ela já estava na recepção da clínica particular onde Betinha havia a internado um dia com tanta boa vontade e de onde ela havia fugido após apenas dois dias completos de internação.

- Pelo amor de Deus, me ajuda – Tábata disse se debruçando sobre o balcão. – Eu preciso de ajuda, eu quero me curar, porque... Eu sou viciada. Eu sou uma viciada em drogas – aos prantos, ela finalmente admitiu.

A música favorita de Eldora.


> > > Continua . . . 


Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200Where stories live. Discover now