Os Corações Sobreviventes - Capítulo 001 a 200

Capítulo 42 - Caminhada

Betinha segurava um grande vaso de cerâmica. Quando ela pisou no degrau da escadaria sabotado por Gilbertinho, ela tropeçou, largou o vaso que se partiu em vários pedaços pelos degraus, mas ela rapidamente se agarrou ao corrimão, agarrou firme e assim não chegou a cair.

— Maldita – Geraldinho resmungou, reclamou. Sumiu dali desapontando com a ineficiência do seu plano improvisado.

— Como assim o Geraldinho quer te matar, minha filha? Que conversa mais doida é essa? – logo depois Eldora falava com Betinha na sala de jantar.

— É isso mesmo que a senhora ouviu. Mãe, junte os fatos. Num minuto o homem diz na minha cara que me odeia, admite finalmente, com toda a clareza e no minuto seguinte eu quase caio rolando a escada por conta de um degrau que surgiu quebrado do nada? Foi ele! Só se eu fosse muito burra e ingênua pra não interpretar.

— Então vai logo contar tudo pro Cachorro Brabo – Eldora a pediu.

— O quê?!

— Claro, minha filha. Ele é o seu marido, é louco por você e vai te proteger. Ele já não cortou fora os testículos desse Geraldinho? Se você o deixa informado do que o Geraldinho atentou contra você, contra a sua vida, o Cachorro Brabo o despacha pra longe daqui de uma vez por todas!

—Eu não vou dizer nada, mãe. Chega de intrigas, chega de problemas. Eu só quero fugir desse inferno que está sendo a minha vida.

— E vai deixar esse homem andando livremente por aqui? Sem punição? Esse homem que declaradamente quer te fazer mal?

— Eu me garanto, mãe. Não é qualquer macho que tem o que é necessário pra conseguir me derrubar – Betinha disse com toda a convicção e deixou o cômodo.

Pouco tempo depois, Cachorro Brabo comunicou que estava com vontade de dar uma volta pelo bairro, fazer uma caminhada. Betinha e a sua mãe o acompanharam e assim os três iam caminhando pelas ruas do bairro cercados pelos capangas que serviam como seus seguranças. Era necessário. Afinal, por onde Cachorro Brabo passava acompanhado de sua esposa e sua sogra, as pessoas simples iam saindo de suas casas e o seguiam, ficavam gritando pedidos, tentavam agarrá-lo, porque o agiota riquíssimo era uma verdadeira celebridade naquela região.

— Conta tudo pro Cachorro Brabo – Eldora ainda sussurrou para Betinha.

— Para com isso, mãe. Esquece. Eu já pedi.

— Não é justo o que você está fazendo comigo. Agora eu vou ficar preocupada com você 24 horas por dia estando ao alcance daquele homem que quer te destruir. Você acha que é justo fazer isso com o coração de uma mãe?

Mas Betinha nem respondeu. Ela agarrou o braço de seu marido tão alto e musculoso e seguiu o acompanhando na caminhada com o seu nariz bem empinado.

— E para de se comportar assim – Eldora continuou brigando. – Tem gente gritando o seu nome. Fala com as pessoas, não seja fria.

— Eu sou uma nova Betinha. Esqueceu, mãe?

—Você é a "Betinha que não sabe o que quer da vida", isso sim. Uma hora diz que não mudou, outra hora está toda fria e com ar de superioridade. Não me dê esse desgosto, menina!

Enquanto mãe e filha discutiam aos sussurros, para que Cachorro Brabo não ouvisse nada, uma menina conseguiu furar a barreira formada pelos capangas/ seguranças e agarrou o braço de Betinha.

— Betinha, você é linda – a menina pobre disse cheia de admiração.

Mas Betinha, como que movida por um reflexo, apenas moveu o seu braço e empurrou a menina que caiu deitada no chão. Eles pararam de andar. Todos em volta olhavam surpresos.

Betinha olhava para a menina no chão e se arrependeu no mesmo instante, mas o que estava feito... Estava feito.

— No que foi que você se transformou, Betinha? – a sua mãe a perguntou então.

Ao saber que Cachorro Brabo caminha por ali, todos os moradores do bairro pobre saindo de suas casas e tomando as ruas para ir de encontro ao agiota rico e poderoso para pedir favores.

>>> Continua ...