Capítulo 11 - Naves Esfera

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No Planeta Mater

O cheiro da sala é muito desagradável, e ele é a primeira coisa que Portla sente quando está acordando, depois de dias inconsciente. Então ele abre os olhos e constata que o ambiente está na penumbra. Sua mente ainda não conseguiu recuperar as memórias de como ele veio parar naquele local.

As dores surgem, então ele vê que está todo ferido. Mesmo com seu fator de cura ele ainda levará dias para voltar a antiga forma. Próximo a ele estão outros guerreiros havas com ferimentos. Os outros estão amarrados e ele não. Então seu cérebro finalmente começa a trazer as lembranças de volta, e ele se lembra do campo de trabalho, do cinto com explosivos, do maldito crow de crista rajada.

O ódio de Portla é um sentimento violento, que chega a doer no peito, até mais do que as feridas físicas. Ele pensa " eu fiz tudo o que ele pediu, arrisquei a minha vida, e sou jogado aqui como lixo nessa sala imunda".

Ele enfrenta as dores e consegue se levantar, e com muito sacrifício caminha até a porta que está entreaberta. O corredor está com a iluminação normal e ele vê um hava trabalhador vigiando o local. O guarda está armado com um rifle dos alienígenas conhecidos como "humanos". Ele aponta a arma para Portla e diz:

- Pode parar aí mesmo, seu monte de merda, volte para a sala e aguarde as ordens do comandante Crista Rajada!

Portla sentiu vontade de matar o hava trabalhador com as próprias mãos, mas ele não tinha qualquer chance ferido e desarmado. Só restou a ele obedecer e voltar para a fétida sala.

Durante várias horas Portla ficou sentado no chão e encostado em uma parede. E então um som estranho veio do corredor. Um pequeno robô sobre rodas entrou na sala. Ele puxava um carrinho com água, comida e roupas limpas.

O robô se desconectou do carrinho e então parou na frente de Portla. Ele possuía dois pequenos alto falantes próximos as duas câmeras de vídeo que tinha na cabeça. Uma voz sintética, porém agradável saiu do autômato, e ela falou na língua hava:

- Saudações, meu nome é Dora, eu sou uma inteligência artificial, eu não sou esse robô, ele é apenas um dos muitos que eu opero.

Portla ficou furioso por ter que falar com um robô e disse:

- O que você quer de mim, outra missão suicida?

- Bom, se você não quer conversar tudo bem, vou deixar seu destino com o Crow de Crista Rajada. E olha que ele gosta de vocês havas guerreiros bem menos que eu, na verdade até que ele gosta, ele aprecia comer a carne de vocês. - disse Dora.

- Espere! eu estou ouvindo, eu tenho certeza que posso ser útil. - disse Portla.

- Ótimo, quando você estiver restabelecido você vai ser o meu representante junto aos havas guerreiros do campo. Não vamos ficar cuidando de prisioneiros, ou eles juram lealdade a nós e se juntam a causa, ou você vai executar um por um. - disse Dora.

- Que causa é essa? - perguntou Portla.

- Os crows e eu vamos fazer as espécies inteligentes viverem em paz umas com as outras. O universo é grande demais, elas não precisam ficar se matando. - disse Dora.

- Mas vocês matam sem piedade quem não se alia a vocês. - disse Portla.

- Sim, ou você ajuda, ou você morre. - disse Dora.

- Eu ajudo. - disse Portla.

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Em algum lugar no sistema solar do Planeta Atlas

A esfera com Carlos, Raul, Pablo e Bel sai do hiperespaço a poucos metros do asteroide. Todos usam trajes espaciais com unidades de manobras, os quais são pequenos propulsores acoplados nos braços e pernas.

A pequena gravidade do corpo celeste começa a puxar a esfera e ela desce lentamente e toca a superfície composta de rocha porosa, poeira e algum gelo. A luz solar é muito fraca, uma vez que o asteroide está situado na borda do sistema solar. Os capacetes são equipados com visão infravermelha.

Uma nave esfera sai do hiperespaço há cerca de setecentos metros, depois de mais sessenta segundos outra esfera com soldados em trajes espaciais. Depois de vinte minutos um trecho do asteroide está repleto das forças humanas.

Dentro do traje de Carlos o silêncio é tão grande que ele ouve o próprio coração bater. Só mais três esferas e três naves chegarem e eles vão atacar. Aquilo nunca havia sido feito antes. Uma nave de transporte chamada Solar Oito saltaria para próximo do asteroide para resgatá-los depois de tivessem capturado os Stall. Uma NCO também havia se aproximado discretamente, porém ela estava meio longe para não ser detectada pelos Stall, e demoraria alguns minutos para poder ajudá-los caso as coisas dessem errado. E alguns minutos era tempo demais em uma batalha espacial.

Vladimir, o comandante das naves esferas, entrou em contato:

- Equipe de abordagem pronta?

- Afirmativo.

- Iniciando em 5,4,3,2,1. Partir!

As treze naves esferas acionaram os motores e deixaram a superfície levantando poeira que se espalhou pelo espaço.

Os cinquenta e dois soldados saíram das esferas, tocaram a superfície do asteroide e usaram os músculos de suas pernas para se projetar para o espaço, então acionaram as unidades propulsoras e se direcionaram para a borda do asteroide.

Um linha foi formada pelas naves esferas e pelos soldados, eles estavam a menos de quatrocentos metros da borda do asteroide, depois dali a nave Stall os veria, os tiros iriam começar, a surpresa era fundamental para o ataque.

Vladimir disse para todos:

- Armas em stand by, sessenta segundos para borda.

Nina destravou seu rifle de plasma AP 700 e ele vibrou, agora estava pronto para uso. Aquela era uma arma para uso em micro gravidade. Era três vezes mais poderoso que um rifle de plasma normal, porém era muito pesado para uso em planetas com gravidade significativa.

Naquele último minuto Nina pensou em seus pais, ela esperava que estivessem bem, eles estavam tão longe naquele momento. Ela pensou "será que voltarei a vê-los, guerra maldita".

Um brilho extremamente forte veio do outro lado do asteroide. Vladimir ordenou a parada total. Ele acionou a câmera da sonda que vigiava a nave Stall e constatou que o alvo havia saltado. Ele bateu com o punho no painel de sua nave esfera e gritou:

- Não! Não! Não! Não!

Todos ficaram desconsolados e pensaram "como isso aconteceu? Onde nós falhamos?".

Quatro naves esferas explodiram simultaneamente. As rajadas de plasma as atravessaram e depois atingiram a superfície do asteroide levantando muita poeira. Carlos se virou a tempo de ver o vulto de um grande cilindro com ponta ogival se camuflando. Quando ele conseguiu apontar seu rifle a nave já havia desaparecido totalmente. Ele grita:

- Se espalhem, os Stall copiaram as NCO, fiquem em movimento e vão para o outro lado do asteroide, precisamos sobreviver até a ajuda chegar. Atirem algumas granadas na superfície, vamos levantar mais poeira. 

O Deus TuloWhere stories live. Discover now