Prólogo

6.6K 442 37
                                    

— Senhor, temo que ainda esteja cedo demais para isso.

— Estranho, vindo de você. Por acaso está com medo da Ordem? O que o fez mudar de ideia tão rápido? – coloquei o livro velho em cima da mesa.

A expressão dele vacilou por um instante. Não demorou até que se forçasse a me encarar com seus olhos azuis distantes imbuídos em respeito.

— Não se trata de medo, se me permite dizer. O último ciclo está prestes a começar, e sabe que a segurança sempre é reforçada durante esses períodos. Será perigoso demais realizar investidas diretas, como ordena.

— O caminho que ela seguiu foi perigoso, mas isso não a impediu de conquistar tudo o que conquistou. Ela já esperou tempo demais, e não tenho certeza se posso manter as coisas calmas por muito tempo.

— Está falando de...? – perguntou, hesitante em tocar no assunto.

Ele entendeu, mesmo sem eu proferir palavras.

— Não será um problema – confirmei, estalando os dedos – Desde que tenhamos cuidado. Você já sabe o que deve fazer. Não me desaponte.

— Certo, senhor – ele disse, cauteloso.

Respirei fundo, indo até uma das inúmeras estantes suspensas nas paredes por cabos de aço. As superfícies de aço de cada lâmina refletiam meu rosto, implorando para serem empunhadas. Havia tantas, e sempre seguiam o mesmo padrão: uma pequena curvatura na ponta afiada e um punho delicadamente talhado que conferia um aspecto artesanal e refinado aos armamentos.

O poder que emanava delas ansiava por liberdade; o momento em que o metal dançava sob a noite, toda a sua glória ardente reluzindo em grandiosos arcos. Apenas o ato de imaginar o fulgor fez com que minhas mãos se aproximassem inconscientemente da prata. Determinado a seguir meu objetivo, me dirigi até o outro canto do recinto, onde um círculo fora delimitado no chão.

­­— Se me permite – sinalizei – Sinto que devo fazer isso sozinho.

Mesmo sem me virar, soube que ele assentiu, se deslocando para a outra extremidade do espaço. Eu olhava para o limite do círculo, e mantive meu olhar firme mesmo quando ele explodiu em fogo bruto, rasgando a escuridão e substituindo-a por algo que mesmo no breu se comparava a uma centelha. A brasa era um convite, e eu o aceitei de bom grado, caminhando em direção a danação. O fogo me acolhera, e enquanto vagava entre as labaredas, pude sentir o ar ficando mais pesado. Por fim, ao atravessar o anel de fogo, fui capaz de vê-la, seu rosto refletindo tons de queimar roxo.

Vida longa à rainha – meu clamor foi curto e sincero. Uma promessa.

Eu me ajoelhei, e o demônio diante de mim estendeu a sua mão. 

Luas de Diamante (Volume 1) [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now