Capítulo IX - Regressão

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Depois de ter escapado sorreteriamente do quarto de Clementine, eu não parei de correr até ter percorrido pelo menos três quarteirões

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Depois de ter escapado sorreteriamente do quarto de Clementine, eu não parei de correr até ter percorrido pelo menos três quarteirões. Era como se fogo queimasse debaixo de minhas solas, pela influência de pés latejantes a ponto de mal conseguirem me sustentar devido ao esforço impresso em minha corrida. Por mais que eu quisesse apenas me deitar, seja acima do asfalto úmido ou da calçada movimentada, no aguardo de que o mundo ao meu redor me engolisse, eu estava ciente de que tinha coisas a resolver. Eu não iria ser detida pela polícia. Não nessa vida.

Não me pergunte como, mas eu ainda me lembrava de seu endereço. Fazer uma visita a Penelope era algo que eu preferia evitar sempre que possível, principalmente devido ao fato de que nunca nos demos bem ou nos tornamos próximas. Porém, agora, não é como se eu tivesse outras opções. Mesmo que a chance fosse diminuta, ela pode estar ciente de toda essa loucura envolvendo a minha família. Maxwell tinha ligações com a Ordem. Ele deve tê-la contado algo, nem que um mísero detalhe acerca de sua segunda vida que até o momento eu desconhecia.

Mas... e se por acaso ela estiver no hospital? O incêndio... a polícia deve tê-la contatado assim que o identificaram, mas se por acaso eles não tenham feito isso, como eu deveria contar a Penelope o que acabara de acontecer?! Deus, por que eu não pensei direito? Eu não posso simplesmente dizer a ela que seu marido está morto e esperar que, depois disso, ela me conte todos os segredos que Maxwell compartilhara em vida.

Talvez Tine estivesse certa. Eu devo contatar a Ordem, porque não vou conseguir fazer isso sozinha.

Eu subitamente parei de andar, estacionando tênis surrados no concreto molhado enquanto a cidade corria ao meu redor na forma de um labirinto dinâmico munido de cores poentes. Pessoas deslizavam por entre a aquarela, fazendo seu caminho até cafeterias, táxis e grandes prédios, sempre carregando algo com elas, desde maletas e semblantes firmes até celulares pelos quais murmuravam assuntos do trabalho. Naquele instante, me senti tentada a dar meia volta e retornar para a segurança da casa dos Howard, contudo, me obriguei a prestar atenção em outra coisa. Eu me atentava aos sons da cidade, cujo coração batia fortemente ao meu redor, como se regido por uma habilidosa orquestra. Sozinha no centro de Manhattan, eu finalmente pude entender a verdade, a única coisa que me impedia de seguir em frente.

Desde quando eu nasci, eu pertenci aos meus pais. Depois que eles se foram, foi a vez de Maxwell tomar os seus lugares. Ele se tornou meu guardião, ou pelo menos foi nisso que me forcei a acreditar. E agora, ele se foi também. Isso quer dizer que eu não pertenço a ninguém além de mim mesma. Não existia ninguém que me diria o que fazer a não ser eu.

Essas ruas elétricas eram minhas, e ao mesmo tempo, de ninguém. Elas eram minhas, e eu podia segui-las até onde eu quisesse, desde que eu as deixasse me guiar também. E isso se devia ao fato de que, exatamente como as ruas, eu era livre. Ninguém iria mudar isso.

Eu não vou deixar.

Trajando em minha postura uma face recém descoberta da determinação, eu firmei meus passos no concreto de forma decisiva. Era hora de ver como a senhorita Lynn estava. A maior parte do caminho já fora percorrida, então não me surpreendi quando dobrei a esquina e logo me vi em uma rua residencial cujas calçadas eram ornamentadas com grandes árvores e a ausência de qualquer ruído de alto calibre. Essa parte do bairro era relativamente calma.

Luas de Diamante (Volume 1) [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now