Capítulo 3

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Lucas sai na minha frente com a cara fechada, e ando rápido para conseguir acompanhar os passos largos dele.

Quando entra na sala de descanso, deixa a porta aberta e o sigo logo atrás, apressando-me para pegar o casaco. Coloco o gorro e ajeito o cabelo o mais rápido que consigo. Passo o cachecol de lã duas vezes à volta do pescoço, coloco as luvas e procuro minha bolsa no armário.

Ele já está na porta me esperando sair e me entrega duas mochilas quando passo, mas nem sequer olha para o meu rosto.

— Você está com a sua identificação?

Apesar de chateado, ele não deixa de se preocupar.

Afinal, essa é uma das principais regras da Matriz: nunca, em hipótese alguma, sair sem o cartão de identificação.

Tiro-o da bolsa e mostro para ele.

— Fique aqui! — Lucas pede antes de atravessarmos o portão de saída e o observo ir até o balcão da recepção.

Meus olhos encaram a televisão sempre ligada. Poderíamos poupar essa energia, mas a Matriz obriga-nos a fazer isso com a desculpa de que devemos nos manter informados. Claro que a informação é apenas o que eles querem que a gente saiba.

Neste momento, está passando o anúncio da Tômbola, o que me faz sentir um frio na barriga. Por isso, desvio o olhar para a recepção, já tenho coisas demais com as quais me preocupar.

Lucas continua falando com Rachel, a recepcionista, que agora se afasta do balcão e entra no pequeno escritório. Quando volta, ela entrega um envelope, uma pasta e um saco pequeno.

Nós realmente vamos na casa da Olivia.

Simplesmente não entendo porque ele precisa se arriscar desse jeito.

Se for pego pela Matriz após o horário de recolher, Lucas pode ser preso por um mínimo de dois anos se não aceitarem a justificativa que ele der. Se a Matriz suspeitar, mesmo sem provas, de que ele está ajudando a Resistência, bem, nesse caso a história seria completamente diferente, ele pode ser executado.

E é esse o risco que ele corre sempre que um Resistente morre no hospital.

Ou melhor, nem sempre, porque a Anna costuma revezar nessas missões com ele.

Andamos rápido até onde o carro do Lucas está estacionado e fico feliz em ver que é uma área coberta, caso contrário, teríamos que limpar a neve, o que nos atrasaria ainda mais.

Enquanto Lucas abre a porta, olho para o antigo sanatório que hoje abriga o Hospital de Cuidados Paliativos. O prédio é enorme, mas dos quatro andares, apenas algumas salas do térreo estão ocupadas. O resto está totalmente abandonado.

Entramos no jipe com cheiro amadeirado, e Lucas continua em silêncio. Ele coloca a pasta no banco de trás e o saco no porta-luvas enquanto afivelo o cinto, e rapidamente avançamos para a saída do hospital.

Apesar de curiosa para saber o que são essas coisas que Rachel entregou para ele, fico calada e me limito a aquecer as mãos enquanto observo que a rua tem uma camada fina de neve, por isso, ele não pode ir muito rápido. O nevoeiro também não permite acelerar, ainda mais com uma iluminação pública tão fraca.

Paramos no sinal vermelho.

Apenas um carro de cada vez pode passar pela ponte antiga e pouco segura e, embora não se ouça nenhum carro vindo no outro sentido, esperamos.

— Você acha que eles vão conseguir mudar alguma coisa? — pergunto, quando o silêncio se torna desconfortável demais. Lucas desvia os olhos para mim, e decido explicar a pergunta. — Você realmente acredita que a Resistência vai conseguir derrubar a Matriz?

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora