A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)

Capítulo 69

Mia tem a mesma reação que tive na primeira vez que vim aqui, a atenção dela é roubada pelas janelas infinitas e pela vista surreal para o mar.

Olho para o relógio confusa, acho que nunca vou me habituar às noites com sol.

Afinal, já passa das dezenove horas, mas, no céu, algumas nuvens espalhadas ainda estão ganhando todos os tons de laranja possíveis, preparando-se para um pôr do sol perfeito.

— Emily! — Viro-me e vejo o quepe nas mãos do Nathaniel. O cabelo dele não poderia estar mais desgrenhado. — Você pode fazer companhia para a Mia? — ele diz, e percebo que a pergunta, na verdade, é uma ordem, já que ele não espera eu responder e desaparece pelas escadas.

Eu queria falar com ele sobre o Lucas. Queria saber se ele está bem. Queria saber porque o Kyle tinha uma foto dele.

Mas parece que vou ter que esperar.

Mia e eu nos sentamos no sofá e começamos a falar de coisas sem importância.

Eu sei que respeitamos a privacidade uma da outra, mas isso começa a me incomodar. Afinal sei muito mais sobre a Amanda, até mesmo sobre a Nina e sobre a Louise, do que sobre a Mia.

E é com ela que eu passo mais tempo.

Percebo que parei de prestar atenção na conversa, e quando volto a me concentrar, Mia está falando algo sobre o Louis e a biblioteca nacional.

— Na próxima quinta-feira à tarde está bom para você? — pergunta. Deve ser a visita que o Louis sugeriu que fizéssemos e tento me lembrar se já tenho algum compromisso nesse dia, por isso, demoro a responder. — Desculpa, você deve ter que checar sua agenda.

— Sim, preciso — respondo. — Eles já podem ter marcado algo nesse dia.

— Claro, eu fico esperando você confirmar se vai...

Mia interrompe a frase a meio quando o barulho da porta do elevador abrindo chama a nossa atenção.

E a última pessoa que eu queria ver aparece.

Gabriel.

— Emily — ele me cumprimenta da forma fria como de costume, com um leve aceno de cabeça e um olhar indiferente. — Mia, posso falar com você? — pergunta, e Mia concorda, levantando-se e andando na direção dele.

Os dois desaparecem também.

Será que são amigos? Ou mais do que isso? Lembro-me de quando estávamos na Muralha, a forma como Mia falou com ele e o sorriso do Gabriel para ela parecem me dizer que sim.

É, eu realmente não sei quase nada sobre a pessoa que eu considero minha melhor amiga aqui na Matriz.

Respiro fundo e tento relaxar minha postura no sofá.

Continuo tensa demais.

Mas então lembro-me da última vez em que estive aqui, da foto do Lucas e da Anna, de como eu me senti naquele dia.

Sei que algo mudou naquele momento, como se eu tivesse perdido uma parte de mim e nunca mais me senti a mesma.

Eu nunca mais fui a mesma.

Depois de algum tempo perdida nos meus pensamentos, sinto Nathaniel se aproximar.

Ele está usando o perfume que eu mais gosto.

Primeiro, vejo os pés descalços.

Começo a subir o olhar e reparo a bermuda preta e nas mãos no bolso. Tem um pequeno triângulo invertido na barra da camiseta branca que ele está usando e que contrasta com a pele um pouco mais dourada do sol.