Capítulo 7

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Assim que paramos, dois guardas caminham na nossa direção.

O mais alto e mais intimidante coloca a identificação contra o vidro da janela da Anna e rapidamente a tira. É claro que não conseguimos ler para confirmar que ele é um guarda de verdade, mas não temos opção a não ser acreditar.

— Boa noite, Senhor Oficial — Anna o cumprimenta com a voz educada depois de baixar o vidro da janela.

— Identificação! — A voz autoritária combina com a expressão de desdém que ele tem no rosto. Os Puros, como os cidadãos da Matriz se chamam, são sempre arrogantes. Eles se acham superiores a nós apenas porque tiveram a sorte de nascer sem nenhum vírus correndo no sangue deles.

Anna obedece e entrega o cartão de identificação.

O guarda passa o leitor e, neste momento, deve ter acesso a todas as informações importantes sobre ela, como foto atual, nome completo, data de nascimento, setor de residência e a licença que ela possui para circular depois do toque de recolher, que é a informação mais importante neste caso.

Sem dizer nenhuma palavra e depois de entregar o documento da Anna de volta, ele se inclina para conseguir me ver no banco do passageiro e então vem até a minha porta. Abaixo o vidro e, antes que ele peça, mostro minha identificação.

— Já passou uma hora e meia do toque de recolher — reclama, olhando ainda para o aparelho enquanto confere meus dados —, e vocês duas estão fora da rota.

— Uma emergência — digo, seguindo as orientações da Anna. — Precisamos pegar um remédio na Farmácia Central. — Então tiro um pacote do porta-luvas tentando parecer o mais natural possível e o entrego para o guarda. Tem uma requisição junto com o medicamento, que ele praticamente ignora e me entrega de volta. Mas claro que vai confirmar se este é o caminho definido entre a Farmácia Central e o lugar onde trabalhamos. — Estamos voltando agora para o hospital.

— E por que não veio apenas uma de vocês?

Anna se apressa a responder.

— Achamos que seria mais seguro virmos as duas, nunca sabemos o que podemos encontrar à noite — ela mente, mas a voz sai convicta. — O senhor sabe, não é?

O guarda não reage à pergunta da Anna e, depois de entregar meu documento, coloca de volta o pequeno aparelho no bolso do casaco azul marinho.

— Destrave as portas — ele ordena, enquanto foca com uma lanterna o banco traseiro.

E nesse momento, agradeço por não termos nenhuma mochila conosco. Mas meu alívio se desfaz rapidamente quando lembro que elas estão com o Lucas e ele também está correndo o risco de ser parado.

Anna faz o que ele pediu.

Vejo o carro ser inundado pela luz incandescente da lanterna agora mais forte e fico com receio de ele conseguir ouvir o meu coração acelerado.

— O que é isso? — indaga.

Olho para Anna, que não parece nada nervosa.

Ela se vira para ver sobre o que o oficial está perguntando e preparo-me para o pior.

— Relatórios do hospital — Anna responde.

Depois de alguns segundos prendendo a respiração, suspiro aliviada quando ele fecha a porta.

— Vou destacar um oficial para acompanhar vocês de volta ao hospital — ele se limita a dizer. Claro que não está preocupado com a nossa segurança, apenas quer confirmar a nossa história. — E não importa qual emergência tiverem, vocês duas estão proibidas de circular fora da rota definida nos próximos catorze dias — fala de forma automática, anotando isso no aparelho que pegou de novo do bolso.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora