Prólogo

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Quando o universo foi formado, quando a vida foi criada, quando o caos se transformou em ordem, quando o nada se tornou matéria, no início de tudo, o mundo era um só. A natureza mágica, selvagem e indomada, era o que chamávamos de lar.

Um dia, uma nova forma de vida nasceu. Muito semelhante e, ao mesmo tempo, muito diferente de nós. Seres um tanto primitivos e sem imaginação, eu diria. Aprendemos a conviver. Tornamo-nos uma família. Humanos e Naturais. A ordem reinava e a felicidade passeava desfilando seu belo manto de sorrisos e risadas.

Com o passar do tempo, os humanos começaram a querer mais. Sempre mais. Nada era capaz de satisfazê-los. A relação que mantinham com o ambiente ao seu redor era visivelmente egoísta. A natureza e a magia morriam por onde eles passavam. Um rastro largo e profundo de destruição. Eles não se importavam com isso, cegos pela fome de poder.

Nós nos separamos. Eles ergueram cidades e construíram reinos. A magia se escondeu na floresta.

Durante muito tempo, ambos os povos souberam respeitar suas diferenças e viver em paz, mas um dia, o ser humano tingiu seu coração de ganância e sua mente de vaidade. Eles consideravam a raça humana superior e evoluída. Os naturais, assim como a natureza e os animais, deveriam se curvar e servi-los. Eles cobiçavam forças com as quais não haviam nascido. Queriam nos transformar em escravos, domar a nossa magia a qualquer custo. Desejavam o que não podiam ter, ou sequer controlar. Inveja. Queriam ser um de nós.

Então, como não puderam nos subjugar... decidiram nos destruir.

Nós fomos saqueados, espancados, torturados, mutilados, humilhados e mortos. Aprendemos a ter medo. Aprendemos a sentir raiva, ódio, desprezo. Quase fomos dizimados. A nossa magia quase foi extinta. Mas antes que toda a beleza morresse, os guardiões deram vida a um portal e os sábios nos transportaram para outro espectro.

Essa é a história perdida do mundo. Há milhares de anos, o espectro foi dividido em Humano e Natural. Entre eles se ergueu uma fronteira que selou a divisão dos universos. Realidade e fantasia. Reinos que não se misturam mais.

Os humanos foram se esquecendo de nós. Fomos reduzidos a mitos e lendas. Para eles tudo tem que se encaixar tão perfeitamente que não precisaria muito para destruir seu equilíbrio e dar início a um pandemônio. A humanidade não está pronta para aceitar que eles não são os seres mais poderosos que existem. A humanidade não está pronta para aceitar que eles não são os únicos seres que existem. Nós somos tão perigosos para eles quanto eles são para nós.

Durante séculos, observar o reino humano através do portal foi a única forma de ligação com o passado.  E com as lembranças do massacre caindo no esquecimento do tempo, as novas gerações se tornaram curiosas com o reino exterior. Observar já não era suficiente.

Em pouco tempo, nossos seres invadiam o mundo deles. Começava a se espalhar a notícia de que existiam tesouros inimagináveis em terras remotas povoadas por seres imundos, perigosos e amaldiçoados. Os humanos têm uma estranha tendência a destruir aquilo que temem ou não podem controlar. Uma lembrança do passado.

Os naturais que habitavam entre eles foram caçados e mortos. Queimados em fogueiras. Acho que esse período é chamado idade média por lá. O povo natural se lembrou do medo. Era uma questão de tempo até os humanos desvendarem a entrada para o nosso espectro.

O portal precisava ser destruído. Enquanto houvesse a possibilidade de uma fronteira aberta, nosso reino correria perigo.

Os sábios decretaram a destruição do portal. Os guardiões não acataram. Eles acreditavam que a humanidade ainda valia a pena. Para assegurar a abertura entre os mundos eles se fundiram ao  portal. Agora, era a energia vital dos guardiões que mantinha a passagem aberta, e para destruí-la, seria preciso destruir os próprios guardiões. Eles não acreditavam que essa medida extrema seria tomada. Os guardiões estavam errados.

Desesperados, eles fugiram para aquela baderna de lugar ao qual os humanos chamam de lar. Eles se exilaram na Terra e repartiram sua magia, escondendo-a em pequenas partes no corpo de centenas de humanos, dando início a uma linhagem híbrida. Esses híbridos carregam no sangue a magia natural que é passada de geração em geração. Enquanto houver um único ser carregando sangue guardião em suas veias nosso mundo correrá perigo.

Quem sou eu? O meu nome é Gael Ávila. Eu sou um caçador. Esse é o meu dom. Eu caço a linhagem guardiã. Uma linhagem traidora que não percebe o perigo ao qual nos expõe. Todos eles serão assassinados. Um mal necessário em prol de um bem maior. A única forma de fechar o portal é através da morte dos guardiões.

Eu nasci para isso e sou muito bom naquilo que faço.

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Olá a todos, sejam muito bem vindos à Trilogia Naturais.

Comente o que achou e se gostou, deixe uma estrelinha. É por causa de vocês que pessoas como eu estão por aqui.

Bjos e até a próxima.

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora