2 - Estranha sensação

3.1K 489 269
                                    


A programação para o fim daquele dia seria assistir — de novo — Um homem de sorte, de Nicholas Sparks, apelidado carinhosamente de "Uma mulher de sorte". Fomos para a casa de Isabel.

O sol estava de arder! As pessoas no ponto de ônibus se espremiam para caber na sombra minúscula do toldo da padaria. Durante todo o trajeto tive uma estranha e desagradável sensação de estar sendo observada. Devia ser consequência do incidente no almoço. Ninguém nunca tinha me olhado daquele jeito, quase com... ódio. Me lembrei da frieza daquele olhar e a sensação desconfortável cresceu. Olhei por cima do ombro, mas ninguém reparava em mim.

Já passava das 19:30h quando a mãe de Isabel chegou.

— Oi meninas! — a bolsa foi jogada de qualquer jeito no sofá.

— Oi Bia. — cumprimentei.

— Oi mãe. Casal difícil?

Beatriz era advogada, trabalhava com divórcios. Ela deu um beijo na testa da filha.

— Quase duas horas de reunião e não chegamos a lugar nenhum! Tive que remarcar. — ela me deu um abraço. — Você fica para jantar?

— Não, obrigada. Na verdade eu já estava de saída.

— Ah, que pena. Isabel adora quando você está aqui. Ela adora você, na verdade. Acho que é porque ela não tem irmãos e fica muito tempo sozinha. Se eu deixasse, ela se adotaria pela sua família só para vocês não terem que se desgrudar nunca.

— Mãe! Eu estou bem aqui, sabia?! Não fale de mim como se eu não estivesse presente! — Isabel ralhou com ela.

— Eu não disse nenhuma mentira. — Beatriz deu um beijo em cada bochecha da filha e sorriu.

— Tá, tá, tá. — a moça tentava se desvencilhar dos carinhos.

As duas eram sempre assim. Beatriz é beijos e abraços, e Isabel sempre se esquivando.

— Quer carona para casa, Alma? — ofereceu.

— Não é necessário, vou a pé mesmo.

— Não seja boba. Quem anda a pé quando pode ir de carro? Podem me esperar lá em baixo. — tirou a chave da bolsa largada, entregando-a à Isabel. — Eu só vou ao banheiro e já desço.

— Nem perca seu tempo discutindo, Alma! Experiência própria. — Isabel advertiu em direção à porta.

Me rendi antes mesmo de começar a batalha, peguei as minhas coisas e segui a minha melhor amiga.

O prédio onde delas era grande e luxuoso. O piso claro e sempre muito limpo e bem polido contrastava elegantemente com o aço escovado da porta do elevador. Descemos sozinhas dentro da caixa de metal.

Quando chegamos à garagem um frio gélido repentino me subiu pela espinha e arrepiou todos os pelos da minha nuca me fazendo dar um pulo. Olhei ao redor sobressaltada. Ninguém, estávamos sozinhas. O meu coração chutou a caixa torácica que o mantinha refém. Me aproximei mais de Isabel.

O carro estava na vaga habitual. Ela desligou o alarme e nós entramos. Atrás do acento do motorista, espichei a mão e apertei o trinco da porta do condutor, trancando todas as portas ao mesmo tempo.

— Por que fez isso? — Isabel se virou no banco do passageiro. — Você está bem? Alma? — ela me olhava meio confusa. — Parece um pouco pálida.

— Estou. Só... — eu olhava para fora através do vidro da janela, com o coração acelerado, sem saber o que estava procurando.

Uma lâmpada queimada no teto deixava uma parte do ambiente mal iluminado, envolvendo-o numa sombra pálida. O emaranhado de carros que ali se encontrava poluía a visão. Minha boca estava seca. Não tinha ninguém ali. Isso é bom, certo? Se realmente não tem ninguém, não há com o que se preocupar.

Vi Bia apontar e me senti instantaneamente mais aliviada. A adrenalina começou a baixar. Que bom que afinal não iria a pé para casa.

— Desculpe, esqueci da sua mãe. — dei uma risada para disfarçar e destravei as portas.

No banco da frente, a garota me olhava como se eu fosse louca. Não liguei. Algumas situações não valiam o esforço da explicação, o silêncio bastava. Beatriz entrou, ligou o carro e nós saímos.

Os meus olhos vasculhavam inquietos a escuridão da noite entre as pessoas lá fora. Que sensação arrepiante era aquela?

 Que sensação arrepiante era aquela?

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Olá, olá! 

Se gostou não esquece de deixar uma estrelinha e digam o que estão achando, adoro saber o que você pensam. 

Bjos!

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora