21 - Pedro

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Gael tinha passado a almoçar conosco. Ele não ficou chateado com as piadas dos meu amigos. Tive um pouco de receio que fosse ficar emburrado e olhando as pessoas de cara amarrada, mas estava oficialmente deixando o mau-humor de lado.

Sentados um de frente para o outro, John e Gael se encararam com hostilidade. Foi rápido e fugaz, mas foi esquisito. No entanto, esquisito e Gael na mesma frase era igual a normal.

Pierre adorou o novo integrante.

— Se decidir jogar no outro time, já sabe. — deu uma piscada para Gael. — Me liga! — e saiu do refeitório rebolando. Ele sempre nos arrancava longas risadas!

Mas tudo acabou virando rotina. Gael e John passaram a se ignorar com maestria.

Junho já estava na metade, durante o dia fazia um calor fraco e gostoso, mas depois que o sol se punha, as noites estavam geladas. Depois do almoço, numa terça-feira, Gael, Isabel e eu fomos à sorveteria. Isabel pegou um picolé de chocolate branco, eu escolhi um de frutas vermelhas e Gael, um de chocolate, um de morango e um de amendoim.

Isabel tinha voltado para pegar alguns guardanapos. Nós a esperávamos do lado de fora.

— O que? — Gael me olhou desconfiado.

— Era para ser uma sobremesa e não o prato principal.

— Estou aproveitando os pequenos prazeres do seu mundo.

Ofeguei com essa resposta.

— Vocês não têm sorvete?!

Ele negou com a cabeça. Isabel voltou e entregou um punhado de guardanapos a cada um de nós. Começamos a andar vagarosamente, voltando para a escola.

— Vocês viram o cartaz do parque de diversões que chegou na cidade? — Isabel perguntou.

— Diz que vai abrir na sexta. — respondi.

— Eu quero ir! — ela revidou toda animada.

— Eu também. — Gael concordou com a boca cheia, abrindo o terceiro pacote de picolé, eu ainda nem tinha chegado à metade do meu!

— Será que já começaram a vender os ingressos?

— Já. — Gael passou um braço sobre o meu ombro e o outro sobre o de Isabel, nos unindo num abraço triplo. Ele pigarreou e abanou três convites à nossa frente. — E nós vamos na extreia.

— Urruuuu! — Isabel arrebatou um, extremamente satisfeita.

Ele estendeu os outros dois a mim, trocando-os pelo restante do meu sorvete.

— Quantos irmãos você disse que tinha, Gael? — ela perguntou, mas já sabia a resposta.

— Não tenho irmãos. — e o último pedaço de sobremesa desapareceu.

— Que pecado! — ela balançou a cabeça, consternada. — Usar uma forma dessa só uma vez! — ela suspirou e nós rimos. — Tudo bem. Não há tombo do qual eu não me levante!

Isabel!

Meu estômago gelou. Falando em tombo... Pedro.

— Outra vez! — ela foi em até ele.

Senti a postura do Gael mudar ao meu lado frente à irritação evidente de Isabel. Ele exibia um semblante sério e examinava o casal diante de si.

O namoro deles só tinha durado cinco meses. Foi o suficiente para Pedro perceber que os sentimentos deles não eram compatíveis. Ela o amava. Ele queria se divertir, curtir a vida sem grandes expectativas. Pedro terminou com ela. Uma semana depois, estava desfilando com outra.

Isso foi o ano passado. Os boatos diziam que ele tinham começado a sair com essa garota antes de terminar com a Isabel. Ele não negou. Ela chorou. Eu o odiei. Em parte, ainda odiava. O amor era um jogo arriscado. Isabel arriscou... e perdeu. Pedro abriu um buraco tão grande no peito dela, que simplesmente não dava para remendar. Ela chorou, chorou... e chorou mais um pouco.

A vida seguiu, Isabel se levantou e catou os seus cacos. Ela se recuperou e parecia estar bem, mas ele pediu para voltar. Pedro correndo atrás dela a meses. Ele estava mais mais maduro, mais focado. Ele confessou que se apaixonou por ela. Só que ele fez isso tarde. Isabel se fechou ainda mais, não porque tivesse deixado de amá-lo, mas exatamente por isso.

Ela não falava do que realmente sente para mim, só dizia que não gosta mais dele e pronto. Era mais fácil seguir protegendo uma ferida do que se arriscar a abri-la novamente.

Me dá só uma chance! — ele estava suplicado, e não era a primeira vez.

A minha resposta é não. — Isabel estava uma fera! A conversa estava encerrada. Pedro segurou a mão dela, Isabel cuspiu as palavras entre dentes: — Me deixa em paz! — e saiu andando duro na nossa direção. — Vamos embora — ela disse ao nos alcançar.

— Ele aborrece você. — Gael acompanhou com passos firmes ao lado dela.

— Aquele filho da mãe estava dormindo com uma vadia qualquer e agora vem dizer que se arrepende!

Embora eu achasse que Pedro não era digno de muita compaixão, para mim, Isabel estava usando a raiva como escudo para se proteger da dor. Até quando valia mais a pena ouvir o orgulho do que o coração?

— Posso torcer o pescoço dele se você quiser. — Gael ofereceu e ela abriu um sorriso malicioso.

— Eu ia adorar! — lançando-lhe um olhar vingativona direção de Pedro lá atrás.

Notei a ausência de qualquer indicação de brincadeira na postura rígida do Gael. Um arrepio ameaçou subir por minha coluna. Eu segurei o braço dele no exato momento em que começava a ir em direção ao Pedro.

— Ela só está brincando. — os meus olhos perscrutavam os dele perguntando: o que está fazendo?

Ele focou em mim e pareceu ter se dado conta da realidade. Relaxou sob o meu toque.

— Não seja chata, Alma. Deixa ele dar umas boas no Pedro, ele bem que merece.

Gael ergueu uma sobrancelha para mim como quem diz: ela não está brincando tanto assim! Fiz de conta que não notei, porque percebi que ele estava relaxado.

O que tinha passado na cabeça dele? Empurrei pensamento sombrio para o fundo do cérebro. Não queria estar apaixonada por alguém... que tivesse princípios duvidosos.

Será que Gael era capaz de ferir alguém?  

Será que Gael era capaz de ferir alguém?  

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Olá! Tudo bem com vocês?

Então, o que acharam do Pedro? Vocês acham que a Isabel deveria ou não perdoá-lo? 

Podem comentar a vontade e não se esqueçam de deixar uma estrelinha para mim. Bjos e até quarta!

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora