9 - Só você

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Apalpei a cômoda ao lado da cama e peguei o celular, 5:32h da madrugada de um — pasmem! — domingo. Apertei o travesseiro sobre a cabeça, mas os latidos continuavam perfurando o meu cérebro.

— Eu vou matar o John! — resmunguei.

Olhei o cachorro fofo tentando alcançar a minha janela. Estava tomando conta dele no final-de-semana.

— Big! — ralhei. — Deixa a minha janela em paz!

O meu pai apareceu na porta do meu quarto com olhos vermelhos.

— Alma, se você não der um jeito nesse cachorro vou dar um jeido de ele vai voar até lá embaixo.

— Eu não sei o que deu nele. — me sentei. — Parece que viu um fantasma.

— Tem que ser uma amizade muito boa para valer todo esse sacrifício. — lá vem ele com essa história de novo. — Tem certeza que esse seu amigo ainda é só um amigo?

— Pai. — revirei os olhos.

— Acho melhor que não seja uma daquelas amizades modernas que acabam em cima de uma cama! Ou vou ser obrigado a cortar fora — imitou uma tesoura —, você sabe, algumas coisas que ele tem, caso não saiba manter guardado.

— John é só um amigo, pai. — acalmei a fera, e agora estava falando do meu pai, não do cão! Ele morria de ciúmes da filha única. A palavra namoro fazia o meu pai engasgar. — Um amigo tradicional.

E o cachorro seguia firme e forte fazendo escândalo! Eu o peguei no colo e mostrei a noite que ainda pairava do lado de fora.

— Não tem nada lá fora, Big. Todo mundo está dormindo.

— Menos o nosso prédio. — meu pai resmungou. — Pode apostar que ninguém pregou o olho a noite inteira. Por favor, querida, dê um jeito nesse bicho. — ele saiu e fechou a porta.

Me troquei e peguei a coleira do bichinho. Já estava amanhecendo quando começamos a descer a rua. O sol brincou de sombra e luz atrás dos prédios. Adorava aqueles tons dançando no céu. Mas aquela era uma manhã de domingo, e não era justo que só eu estivesse acordada.

Peguei o celular, uma voz zonza atendeu. Senti um prazer imenso em estragar a manhã dele.

Alma? Está tudo bem? Que horas são?

Seis da manhã de um domingo que promete ser quente como o inferno e não tem piscina no meu prédio.

Você está bem? O que aconteceu?

Nada. Só liguei para te acordar e estragar o seu domingo. Afinal de contas, se eu estou acordada segurando a guia de uma bola de pelo a culpa é sua. Nada mais justo do que você padecer comigo.

Ouvi o riso rouco e abafado como resposta.

— Não consegui estragar a sua vida? — fingi desilusão.

Não, linda. Muito longe disso. Padecer com você não é realmente um castigo.

Big começou a puxar a guia e a emitir sons entre rosnados e latidos.

O seu cachorro engoliu uma buzina. — avisei.

Estou ouvindo daqui. ele riu. — Prometo te compensar quando eu voltar.

— Acho bom mesmo! — o bicho continuava puxando rumo à rua lateral, mas eu só conseguia andar devagar o meu equilíbrio não estava dos melhores. — Tenho que ir. A gente se vê segunda.

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora