32 - Filtro

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Toquei a campainha. Elisa me recebeu com um sorriso amigável. Ela morava ali a apenas uma semana, mas o ambiente estava completamente diferente. De uma casa, visivelmente de homem solteiro, a uma de mulher. Os tons neutros e sóbrios agora eram ofuscados por tons vivos e alegres.

— A culpa é do Gael! — ela disse assim que abriu a porta.

— Oi, para você também, Elisa. — eu ri.

— Quer beber alguma coisa?

— Um copo de água, por favor.

A gente ia ao cinema, mas eles estavam atrasados, fiquei cansada de esperar, então fui até à casa deles.

Elisa me entregou um copo cheio e nos sentamos na bancada. O trovão ecoou dentro do quarto, anunciando o início da tempestade.

Elisa! Vem aqui agora!

— Vem você aqui! — a loira retrucou.

Que merda é essa aqui?!

Ela revirou os olhos.

— Como é que você aguenta? — me perguntou. — Vai por mim que já conheço ele há mais tempo. Ele é insuportável! Não vai querer esse encosto na sua vida.

Onde estão as minhas cuecas?

— Eu coloquei por aí! — Elisa respondeu a caminho do quarto.

Gael irrompeu na sala como um raio, só de toalha amarrada na cintura. O corpo ainda molhado mostrava as gotas salpicadas. Ainda bem que a água do meu copo estava gelada! Eu ia precisar!

Ele mostrou um punho cheio de roupas para ela.

— O que é isso? — uma carranca que dava até medo.

— Um bolo de calcinhas que você acabou de amassar.

— Isso aqui estava na minha gaveta! E agora as minhas cuecas não estão mais lá!

— Não precisa gritar, eu não sou surda! — ela tomou as calcinhas.

— Você vai sumir com toda essa sua tralha daqui antes que eu estrangule você. Eu nunca vi tanto cor-de-rosa junto num ambiente só! Estou começando a achar que sou daltônico porque os meus olhos só conseguem captar uma cor: cor-de-rosa!

— Nossa, que exagero! E pare de gritar. Tenha mais respeito pelas visitas.

— Que visi... — ele ainda não tinha reparado em mim. Fechou os olhos, respirando fundo, as narinas dilatando. — É melhor você desaparecer da minha frente, Elisa. Eu não quero ver nem o seu rastro.

A moça sumiu em direção ao quarto! Aquela coisa mais linda e gostosa seguiu atrás dela, batendo a porta com tudo. Eu já tinha dado tanta risada desses dois juntos!

Depois de alguns minutos Elisa estava de volta.

— Ele está de TPM hoje.

Eu ouvi isso, Elisa!

— Não falei? — caçoou.

Já contou sua ideia brilhante para ela? — Gael perguntou do quarto.

— Ah! — ela ficou toda animada. — Eu estava pensando, então, a gente podia sequestrar aqueles sábios hipócritas — Elisa nutria certo ódio pelos governantes do mundo Natural — e entrega para algum maluco se divertir com experiências dolorosamente doentias! Alguma coisa básica como banheiras de ácido ou membros mutilados. Bem sádico! O que acha?

— Ela precisa assistir mais desenho animado. — olhei o rapaz que acabava de se juntar a nós. — Alguma coisa mais educativa, entende?

— Ou então abduzir a mente deles. Imagina se quando acordarem começarem a ciscar achando que são galinhas!

Eu não consegui segurar. Depois dessa eu tive que rir.

— Não dá para fazer nada mais simples? — perguntei. — Tipo, já que eu controlo esse tal portal, eu faço uma magia que impeça os humanos de entrar. Simples assim.

— Alguma ideia de como fazer essa sua mágica, Srta. Ferraz? — Gael entrou na brincadeira.

— Fácil! É só dar um Google: como fazer feitiço para criar um filtro de portal.

O sorriso no rosto da loira morreu.

— O que você disse?

— Era brincadeira.

— Não. — ela começou a andar pela sala balbuciando. — O filtro.

— Elisa, o que está acontecendo? — Gael a segurou pelo braço, fazendo a moça parar.

— O filtro! É isso que ele ficava repetindo sem parar!

— Devagar, e do início. — ele exigiu.

— Há cerca de um ano, encontrei um híbrido em estágio avançado de desenvolvimento. Era um mendigo e estava completamente lunático. Ele desenhava símbolos no ar, e não parava de repetir: filtro de sabedoria.

— O que é isso? — perguntei.

— Eu não faço ideia. Mas ele segurou o meu rosto com força, olhou dentro dos meus olhos e disse: "Sabedoria resolve. Filtro acaba tudo. Acaba morte. Terra salva. Filtro da sabedoria, menina. Filtro da sabedoria!"; Depois não falou mais comigo. Parecia até que não estava me vendo. Aí quando você mencionou um feitiço para criar um filtro me deu um estalo. Talvez seja só imaginação minha, mas uma vez reconheci o sinal dos sábios nos gestos dele. Louco ou não, ele é um guardião e talvez saiba alguma coisa que não sabemos.

— Você o matou? — Gael perguntou.

— Não. — Elisa se recostou no sofá. — Eu o escondi.

— Você o que? — ele abriu um sorriso.

— Eu o escondi!

— E ainda teve a cara de pau de vir para aqui me dar bronca.

— Pelo menos eu fui discreta!

— Por que se ariscar por ele? — perguntei.

— Ele estava tão sozinho. Ninguém para sentir a falta dele. Ninguém para chorar uma perda. Ninguém para amá-lo. — ela deu de ombros. — Eu me senti responsável.

— Onde ele está? — Gael perguntou.

— Na China. Deixo alguém cuidando dele por uns meses, aí o levo para outro lugar.

— Parece que temos uma visitinha a fazer. — Gael constatou. — Vamos conhecer esse novo guardião.

 — Vamos conhecer esse novo guardião

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Olá, olá! Espero que gostem!

Sexta eu volto com mais, bjos!

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora