22 - Opções

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No final daquela tarde, Gael me acompanhou até em casa como de costume e eu não conseguia parar de remoer a reação dele mais cedo com o Pedro.

— Você está muito quieta. — nós caminhávamos em silêncio na calçada. — Isso não é um bom sinal.

Eu olhei para ele. Como iniciar a conversa? Será que essa criatura que inspirava sentimentos tão bons em mim seria capaz de que tipo de atitudes? Me recordei de como ele já havia me assustado no passado. Sua voz era macia e me encorajava a pôr para fora.

— O que a incomoda?

Achei melhor dar o benefício da dúvida e deixá-lo se explicar.

— Você já machucou alguém antes? Hoje... você não estava brincando, estava? O que você pretendia fazer realmente com o Pedro? — eu tive medo da resposta. Não. Eu estava exagerando. Ele não seria capaz.

— Eu sei o quanto você a ama. Isabel. Ele a aborrece. Eu só queria que o garoto parasse de incomodá-la.

— E como exatamente pretendia fazer isso? — acusei.

— Eu não pretendia ser tão literal quanto está imaginando. — ele se defendeu.

— De que tipo de civilização você vem?! — a minha voz saiu um pouco alterada e estridente. — Vocês são algum tipo de povo selvagem ou o que? Não pode sair por aí ameaçando as pessoas, Gael. Nós temos regras por aqui! Não resolvemos as coisas com violência.

— Eu sinto muito. Desculpe. Vou tomar mais cuidado de agora em diante. — e isso foi dito com o desconforto de quem está se adaptando a algo novo.

Eu parei de frente para ele e o olhei bem no fundo dos olhos. Eu queria ver dentro da sua cabeça e ler dentro da sua alma. Me arrepiava o fato de não ter visto qualquer sinal de hesitação nele mais cedo.

— Você já machucou alguém? — saiu da minha boca.

Ele engoliu em seco. Eu senti o meu estômago se encher com um gosto amargo e denso de chumbo, temperado cuidadosamente com uma pitada ácida de medo. Dei um passo para trás. Ele baixou os olhos. Quando respondeu o seu semblante demonstrava uma tristeza profunda.

— Se o seu alguém se refere a um ser humano, a resposta é não. Mas... se englobar criaturas do meu mundo... a resposta é sim.

— Criaturas do seu mundo tão humanas quanto você? — por favor, diz que não!

— Sim.

O meu coração se derreteu e escorreu dentro de mim. Decepção? Não, não era só isso. Tinha sentimentos demais ali, misturados demais, para serem separados e etiquetados. Mas levei em conta uma coisa: ele foi sincero comigo.

— Por quê? — a minha voz saiu rouca.

Ele suspirou profundamente.

— Porque era necessário, Alma. Era a minha obrigação. Essa era uma das perguntas que eu esperava deixar para o final. É complicado.

— Eu não tenho certeza se essa resposta me tranquiliza ou me apavora, então talvez seja melhor eu continuar sozinha para casa a partir daqui.

— Estou assustando você. — ele assentiu. — Eu entendo. — a dor e a decepção deixavam vergões abertos como os de garras afiadas no som grave de sua voz. Ele não tentou me tocar ou diminuir a distância entre nós. Ele respeitou o espaço que impus e apenas disse: — Te vejo amanhã?

E aquele lindo estranho exibia ao mesmo tempo um tom de súplica e um medo evidente. Ele tinha medo que a resposta fosse um não.

E talvez devesse realmente ser um. Mas naquele momento eu teria respondido qualquer coisa que fizesse diminuir a dor latejante que pulsava dentro daquelas esmeraldas que guardavam tantos mistérios e segredos. Elas mantinham cativo o meu coração, aprisionando-o carinhosamente em sentimentos difíceis demais de serem expressos em palavras.

Eu só fiz um sinal afirmativo com a cabeça, então se virou e começou a ir embora, mas parou e disse, olhando direto para mim:

— Eu posso garantir... que o incidente de hoje não irá se repetir. Eu parei. Não faço mais isso. Ferir aquelas pessoas. Mas é claro, que... cabe a você decidir se vai ou não acreditar em mim. E o mais importante, se ainda pode confiar em mim.

Depois disso ele foi embora e eu me perguntei por que eu não sentia um medo real dele. Um medo escuro e profundo ao invés de apenas uma sombra. A minha razão, lá no fundo da minha mente, me dizia que aquela criatura podia ser muito perigosa.

Eu segui o meu caminho sem olhar para trás numa direção oposta à dele.

Não consegui dormir. Tinha muita coisa que eu precisava considerar. Muita coisa que precisava se explicar. Muita coisa rodando no meu ser, bambeando a minha alma. Quando dei por mim, o azul estrelado estava me dizendo adeus pela janela do meu quarto.

Tenho duas opções: me afundar cada vez mais no mundo dele, ou... ou esquecer de uma vez por todas que a fantasia existe. Isso inclui tudo o que faz parte dela, especialmente um estranho lindo com um par de asas e esmeraldas douradas no lugar dos olhos.

 Isso inclui tudo o que faz parte dela, especialmente um estranho lindo com um par de asas e esmeraldas douradas no lugar dos olhos

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Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora