37 - Recital

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O novo plano era o seguinte: eu faria a minha apresentação, Elisa conseguiria documentos falsos sobre a bolsa para um curso durante as férias e Gael se encarregaria do visitante hostil que se aproximava pelo norte. Partiríamos tão logo essas pendências estivessem resolvidas.

Tanto Gael, como Elisa haviam seguido para suas missões após me colocarem a par de tudo. Nos reuniríamos novamente quando as coisas tivessem se encaixado.

Era o dia do recital de encerramento das aulas. Eu iria apresentar uma coreografia valendo a minha entrada na academia de dança Dolabella. Isabel estava lá só para assistir e me apoiar. Ela e John ficavam tentando me acalmar.

A minha cabeça estava em outro lugar, mas eu precisava me focar. Tinha muita coisa em jogo. O meu futuro eu não podia garantir, mas poderia defender o meu presente.

Carissimi! — me virei na direção do som. Os bastidores estavam cheios de gente, mas não tive a menor dificuldade de localizar aquele sorriso largo pelo qual eu mataria ou morreria. Corri e pulei em cima dele. Ele me pegou rindo. — Achou mesmo que eu fosse perder a sua apresentação?

— Seria por uma causa nobre. — ele estava inteiro, era tudo o que eu mais queria.

— Até que enfim! — Isabel troçou. — Estava quase rebaixando você, Gael! Onde já se viu, perder o espetáculo!

— Desculpe. Tive que resolver uns probleminhas de última hora. — Gael começou a esboçar uma ligeira carranca. — E onde está o mequetrefe que vai dançar com você?

— Ele não é mequetrefe! — repreendi. — E está no banheiro.

— Uh, dor de barriga?!

— Não seja maldoso, Gael!

— Bom — deu de ombros —, Isabel, por que não pegamos nossos lugares antes que ele volte e eu tenha que suportar sua presença desagradável?

— É, acho uma boa ideia. — Isabel riu.

— Relaxe, você vai arrasar. — ele me deu um beijo rápido.

E as coisas correram de forma tranquila, totalmente alheias à minha ansiedade. John e eu tínhamos acabado de sair do palco. As pessoas nos cumprimentavam nos bastidores. Um gritinho vindo do fundo. Isabel correu e me abraçou com animação.

— Foi demais! Você tem que entrar! Eles têm que aceitar você, se não fizerem isso são uns idiotas.

— Obrigada!

— Parabéns para você também John. Vocês arrasaram. — ela acrescentou.

— Muito obrigado. E com certeza ela vai entrar sim. — John ostentava um sorriso radiante. — Essa garota é realmente incrível.

— Você foi espetacular. — Gael, que acabava de nos alcançar, me deu um abraço com um sorriso gigante. — Você não! — a cara feia destilando hostilidade em John.

— Gael! — alguém me diz o que eu faço com ele!

As apresentações prosseguiam no palco na sequência pré-estabelecida, nós ainda estávamos nos bastidores quando aquela voz me chamou a atenção.

— Desculpe tomar um minuto de sua atenção, mas preciso explicar a mudança no repertório.

Pedro. Era a apresentação dele.

— Bom, eu sou um idiota completo. Me apaixonei por uma garota que está melhor sem mim.

Isabel ficou tensa, era dela que ele estava falando. Ela, Gael e eu fomos ver o que estava acontecendo. Ele estava sentado ao piano, com um microfone preso a um pedestal.

— Eu fiz besteira. Uma das grandes. Mas... eu queria só poder dizer o quanto me arrependo. Dizer que tê-la conhecido me tornou uma pessoa melhor. Ela nunca atende quando eu ligo, não quer falar comigo e tem motivos para isso. Ela sorri longe de mim, ela está feliz. — deu um sorriso triste. — Eu fiz ela chorar. Acho que isso deixa claro que preciso deixá-la ir.

Começou um burburinho na plateia.

— Eu só queria explicar a mudança no repertório e acabou saindo uma... — ele fez uma careta —, choradeira danada! Foi mal, pessoal. — as pessoas riram. — Estão vendo aquele senhor ali de lado? O careca barrigudinho. Então, é o meu professor. Ele me mandou tocar a sonata Moonlight para vocês hoje. Mas, como eu disse, estou na fossa! Beethoven não vai dar conta. — as risadas ficaram mais altas. — Vamos de Adele, com Hello. — o público se animou, assobiou e aplaudiu, mostrando o seu apoio. — Viu, professor. — Pedro indicou a reação. — Eles gostam, então não me reprove por causa disso.

Assim ele começou a dedilhar o piano.

— Em homenagem a todos os corações que precisam aprender a respirar de novo. — completou.

A música tomou conta e as primeiras palavras começaram a soar. Vendo-o ali, dentro daquela canção, eu percebi como Pedro não poderia estar mais enganado.

At least I can say that I've tried
(Pelo menos eu posso dizer que eu tentei)

To tell you I'm sorry for breaking your heart
(Te dizer que sinto muito por partir seu coração)

But it don't matter it clearly doesn't tear you apart anymore
(Mas não importa, isso claramente não te machuca mais)

Isabel olhava para ele vidrada. Em sua bochecha havia o traço molhado deixado para trás por uma lágrima solitária. Ainda importava, e ainda a deixa em pedaços.

Uma semana depois Elisa apareceu com toda a documentação pronta.

Eu tinha contado toda a verdade para Isabel quando a minha tatuagem começou a aparecer. Ela ficou histérica, não por causa da magia, mas porque eu escondi um segredo dela!

Já os meus pais... se eu não voltasse, entraria para a lista de desaparecidos. E isso podia ser mais destrutivo do que ter um corpo para enterrar.

Isabel ia me ajudar com a farsa. Ela manteria contato via internet com eles, se passando por mim da melhor forma que conseguisse. Apenas me despedi silenciosamente das pessoas que eu amava quando saí de casa pela última vez.

Eu estava pronta? Não. Estava apavorada? Sim. Mas a escolha era minha e não me arrependia dela.

E agora?  Segunda chance? O que acham? Dar ouvidos ao orgulho ou ao coração?

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E agora?  Segunda chance? O que acham? Dar ouvidos ao orgulho ou ao coração?

Bom, de qualquer forma esse romance ficará em hiato, pelo menos até a gente voltar. Porque no próximo capítulo rumamos para o portal!

#partiunovomundo. Vamos?

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora