30 - Irmãos

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— Eu vou contar no tempo certo! — Gael disparou

— Sério?! — a jovem riu na cara dele com deboche. — Não teve oportunidade?! De quanto tempo precisa para dizer: VOCÊ É UMA GUARDIÃ!

— Mas que merda! — ele começou a gritar também. — Não era para ela saber assim!

— Você é um irresponsável!

— E você, uma inconsequente! Por que não vai embora?! Ninguém te chamou aqui!

O meu cérebro estava rodando enquanto eles trocavam elogios. Eu sou uma guardiã?! Eles brigavam como duas crianças pequenas. Parecia que a qualquer momento iam se agarrar pelos cabelos e começar a se estapear. Ah, eles já fizeram isso!

— Calem a boca! Os dois! — me enfiei no meio, empurrando um para cada lado.

— A culpa é dela! — Gael começou a se defender. — Foi ela que começou!

Minha?! Foi você que...

— Calem a boca! — berrei com raiva. Eles ficaram em silêncio, com cara de culpa. — Do que ela está falando, Gael? — exigi. — Ela disse que eu sou uma guardiã! — o silêncio dele foi mais confirmativo do que qualquer coisa. — Então era o meu cheiro que você estava caçando! Eu confiei em você. Eu disse que queria saber a verdade! Esqueceu de me contar esse detalhe?!

Dei as costas e comecei a me afastar. A decepção e o choque queimando com gosto de traição.

Carissimi! — Gael veio atrás de mim. — Espera!

Me virei e espetei o dedo no peito dele, pontuando cada palavra.

— Você. Mentiu. Pra mim! — voltei a andar.

— Eu omiti, é diferente. — ele deu a volta e bloqueou a minha passagem. — Eu ia te contar!

— Me dá a chave do carro! Eu vou para casa!

— Você não sabe dirigir.

— Eu sei dirigir! Só não tenho carteira! E isso não é problema seu! —acabei gritando.

— De jeito nenhum! Você poderia sofrer um acidente!

— Isso não importa! — gritei ainda mais alto.

Gael aproximou o rosto a milímetros do meu e disse numa voz grave e aveludada:

— Nunca mais repita isso.

Elisa ria às nossas costas, descaradamente. O rapaz lançou um olhar fulminante para ela.

— Cala essa boca, Elisa! Olha só o que você fez!

A culpa é sua! — a loira se aproximou com passadas graciosas. — Por que não contou a verdade?

Gael rosnou as palavras na cara dela:

— Porque eu não encontrei as palavras adequadas para explicar à mulher que amo que eu deveria ser o assassino dela! — e virou as costas, caminhando em direção à trilha.

Elisa ficou lá, eu também, olhando o desenho das penas aparecendo pelo rasgado da camisa.

— Eu não sabia. — ela disse por fim. — Pensei que ele... sei lá... talvez só estivesse precisasse de uns bons tapas. — a garota me viu observando-o e sorriu. — Ele também não te contou isso, não é?

— O que?

— Que ele a ama.

Eu não era cega em relação à atração que ele sentia. Mas amor? Isso era diferente. Ouvir aquela confissão, tão espontânea e natural me deixou em êxtase.

— Ele é mesmo um idiota! — a loira riu alto. — Não faz nada direito sem mim!

A resposta dela me tirou dos meus devaneios.

— Não está chateada? — perguntei.

— Deveria, afinal você é uma traidora, mas ele agora também é e eu não sou tão inocente assim. — deu de ombros. — Eu o amo mais que tudo no mundo. Quando descobri que era ele o caçador que estava ajudando um guardião não pude fazer nada a não ser vir ajudá-lo.

Acho que o meu cérebro andava meio lento.

— Você só queria ajudar? Então o que foi aquilo lá atrás com as espadas?!

— Relaxa. — ela começou a descer a trilha. Dei por mim caminhando ao lado dela. — Eu disse para ele que um dia ia ter volta! — falou em tom vingativo. — E de qualquer forma, essa não é a melhor parte do relacionamento entre irmãos? A briga? — declarou toda animada.

O problema não era do cérebro, era do ouvido!

— Irmãos?! Ele disse que não tinha família, que as crianças escolhidas eram levadas para longe!

— Não somos irmãos de sangue. Eu cheguei ao centro de treinamento dois anos depois dele. Eu era pequena para a minha idade. Gael sempre me defendia dos mais velhos. Ele já levou muita surra por minha causa.

— Ah. Achei que você gostasse dele... de outra forma... talvez já tivessem sido...

— Nem termina! — ela fez uma encenação como se fosse vomitar. — Que nojo! Credo, garota! Como eu vou comer depois disso?!

Quando terminamos de descer a trilha, o olhar do Gael pulou de mim para a garota que continuou se afastando.

— Ela é legal. — falei.

— Tirando as vezes em que não está tentando me matar de raiva! — ele franziu a cara numa carranca.

O caminho até em casa foi silencioso, mas aí...

— Ah não! — o carro fez uma manobra não aconselhada e parou bruscamente. Ele desceu como um tufão. — O que está fazendo aqui?!

— Estou esperando você abrir a porta. — Elisa o olhou como se ele tivesse problemas mentais.

— Você quer ficar na minha casa?

— Exatamente, gênio!

— Não, não, não e não. Não mesmo!

A loira olhou para mim com aflição.

— Como é que você aguenta?! — voltou a encará-lo. — Eu venho aqui, de livre e espontânea vontade, oferecer o meu auxílio para desencalhá-lo da lama, aí eu descubro que você está encalhado na merda, mas mesmo assim eu não desisto! E olha só o que eu recebo de volta.

Gael tinha cruzado os braços e ficado olhando com cara de tédio.

— Nem sequer um teto sobre minha cabeça! — completou de forma dramática.

Ele resmungou alguma coisa ininteligível e ela arrancou o chaveiro da mão dele, acrescentando com cara de anjo:

— Você pode ficar com o sofá! 

— Você pode ficar com o sofá! 

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Elisa sendo Elisa. kkkkkk

Bjos e até mais!

Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora