Capítulo 27: Feridas expostas

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Estava boquiaberta. Sabia que Thomas não tinha uma boa relação com o pai, mas mesmo com todas as diferenças que tinham entre eles, sempre tive certeza que Thomas o amava. Ele tentou agradá-lo por grande parte da sua vida, e agora, o mesmo já não estaria mais lá para isso.

— Eu não sei o que fazer... Meu pai está morto.

Subi com minha mão até meu cabelo e baixei a cabeça, começando a chorar junto com ele. Eu podia imaginar sua dor, e nunca é bom lidar com uma perda sozinho. Eu ainda podia ouvir seu choro, e isso partia meu coração cada vez mais. Agora tudo o que eu poderia fazer, é estar com ele.

— Estou indo pra aí. Eu estou indo. — falei.

Desliguei a chamada e conferi a hora no celular, eram duas da manhã. Me levantei, indo até o guarda-roupa e peguei uma blusa, uma calça jeans e um casaco. Me vesti, deixando o pijama de lado e então, desci à cozinha com uma folha em branco e escrevi um bilhete para papai.

"Pai, caso eu não esteja na cama, não se preocupe.
Estarei bem. Te conto tudo depois."

Deixei o bilhete sobre a mesa e peguei as chaves, saindo de casa o mais rápido que pude. As luzes da casa de Thomas estavam acesas, diferentes da maioria. Ao chegar na porta, percebi que a mesma estava encostada e ao abri-la, dei de cara com Thomas sentado no sofá em lágrimas.

— Ei, eu estou aqui. — sussurrei, sentando-me ao seu lado.

— Obrigado por vir. — agradeceu com dificuldade e assenti.

Thomas estava com seus cotovelos apoiados sobre seus joelhos e me agarrei aos seus ombros, deslizando uma de minhas mãos pelas suas costas na tentativa de confortá-lo um pouco. Suas lágrimas caiam de maneira incessante, e era completamente horrível vê-lo assim.

Mantemos o silêncio, e só fiquei ali ao seu lado, abraçada à ele enquanto o mesmo chorava. Thomas sempre se mostrava forte mas hoje, ele não parecia estar preocupado com isso. Nunca o tinha visto daquela maneira, e tudo o que eu queria era poder arrancar toda sua dor.

Apoiei meus lábios em seu ombro e subi com minha mão direita pelos seus cabelos, queria lhe dizer alguma coisa, mas tampouco tinha palavras. Thomas estava sofrendo, e eu me sentia totalmente inútil. Aproximei-me um pouco mais, e beijei-lhe suavemente a bochecha.

Ficamos assim por algum tempo, e aos poucos, pude senti-lo se acalmar. Envolvi meus braços em seu pescoço em forma de abraço, então, senti sua mão ir de encontro ao meu cotovelo e seu rosto foi virado em minha direção, mantendo-me ainda mais próxima à ele.

— Não vai embora, por favor. — sussurrou.

— Eu não vou, prometo.

Thomas se acalmou, e me levantei, seguindo para a cozinha. Não sabia onde ficava as coisas, então, comecei a abrir os armários à procura de pó de café, assim que encontrei, comecei a preparar a bebida e Thomas veio até a cozinha, sentando-se próximo ao balcão.

— Desculpa por te acordar. — murmurou.

— Não peça desculpa, não tem problema.

— Você estava dormindo...

— Eu durmo outra hora. Se sente melhor?

— Com você aqui, sim. — confessou.

Sorri em resposta e quando o café ficou pronto, servi em uma caneca e entreguei-a à Thomas. Voltamos para a sala, sentando-nos no sofá, um ao lado do outro. Seu rosto ainda estava vermelho por conta do choro, mas, ele parecia um pouco mais aliviado, e isso me confortava.

O Milagre: ReencontroWhere stories live. Discover now