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Noelle

Voltar para a escola depois do meu ataque foi complicado, tive boas horas para remoer o que fiz. Não fui suspensa porque o diretor teve piedade de mim, já que perdi todas as bolsas de estudo que tinha ainda ontem, e tive que passar os dois primeiros horários me explicando ao conselho estudantil. Cada passo que eu dava era um pensamento negativo sobre o que os outros pensavam sobre mim agora. Mal abri o armário, na troca entre dois horários e já tive a certeza sobre o que pensava:

— Olha o Hulk ali. — um freshman apontou, rindo com um colega.

Respirei fundo e fingi que não escutei. Mais para a frente, outro:

— Ei Noelle, você não quer liberar a raiva fazendo uma revolução francesa na minha cama?

— Só se for para ser Napoleão e fazer um decreto continental a você. — resmungo e entro na sala.

É a aula de biologia, e eu já sou uma AP*, o que torna as opções de duplas menores. A minha sorte é que nesse bimestre o professor finalmente me ouviu e colocou a Heaven como minha dupla. A Heaven é a garota mais inteligente que já conheci, e me ajuda em tudo que preciso.

— Como você está hoje, Noelle? — faz a pergunta de sempre.

— Horrível.

— Ouvi dizer sobre anteontem. Pelo menos não teve uma suspensão longa. Você está melhor desde a crise?

Respiro aliviada por alguém se preocupar mais comigo do que com meu ato.

— Estou.

— Guardei a matéria de biologia para você, já que quer ser bioquímica.

Ela me estende o caderno e dói recusar.

— Por que não? — olhos violetas confusos me encaram agora, por trás das lentes dos óculos.

— Eu não vou para a faculdade depois do verão mais. Perdi a bolsa por causa do ataque.

Ela ofega.

— Você lutou tanto...

— Estou bem com isso. Eu fiz, eu pago. É a lei da vida, não é?

Ouço um resmungo da vida ser injusta vindo dela, mas ignoro. Reclamar não vai fazer o tempo voltar. Por isso não falo com ninguém mais durante toda a manhã, uma vez que todos os outros que falam comigo tentam torrar minha paciência. Tenho um mantra que me ajuda a não reagir, "um mês". É o que falta para o verão chegar e eu ir para qualquer cidade francesa do Canadá para estudar a língua ou ficar em casa fazendo nada, como acontece todo verão. Depois penso no que vou fazer.

Das provas que fiz naquela manhã, apenas uma não me rendeu um olhar triste do professor seguido de uma lamúria sobre eu não ir para a faculdade agora. Sou uma colecionadora de notas A, tirar menos que isso sempre me deixou triste, e agora mais do que nunca essas notas são necessárias. Mergulhada na matéria de física, não escuto o sinal do almoço e continuo fazendo a atividade.

— Noelle, eu sei que você quer ser digna de ganhar um Nobel algum dia, mas para isso precisa se alimentar. Vamos lá. — o professor chama, à minha frente.

Olho para o relógio acima do quadro e saio da sala. Não quero ter que ir para o refeitório, encarar os fatos. Posso ser uma covarde de carteirinha, mas estar no lugar e no meio das pessoas que, com muito veneno, me ajudaram a cometer o ato que fez do meu futuro um grande campo vazio, me dá náuseas. Esbarro na Lindsay na porta do lugar. Minha amiga assusta.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Where stories live. Discover now