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Você não se sente mais como um pária,
E algo profundo dentro de você acordou,
E você sabe que nada vai ser o mesmo novamente.
(Empress - Snow Patrol)
Peter

Tive apenas uma chance de falar com o meu advogado antes de ser levado ao tribunal no dia do julgamento, e faço questão de dizer as palavras certas.

— Um dia, Reagan, você vai entender o que está fazendo. E nesse dia, tenha certeza, eu estarei feliz.

Ele apenas sorri e diz:

— Eu tenho o poder, Peter.

Eu sei disso. Sei agora que entreguei a minha vida nas mãos de um advogado barato, e sei por que ele é barato agora. Alguém que te promete uma viagem aos confins da Terra não pode cobrar caro por isso.

A roupa laranja me incomoda. A quantidade de pessoas no tribunal me assusta. A presença da Gwen ali me destrói. Olho para a Vivian com todo o ódio que tentei não sentir e ela apenas sorri, ao lado de todos que importam para mim. Arrisco olhar para a Gwen, e ela fica triste ao me ver triste. A tristeza naquele rosto tão parecido com o da minha mãe me faz procurar a Heaven, a meia-irmã boa. Ela não está em lugar nenhum. Sou empurrado para uma cadeira e assisto o começo do meu fim.

Tribunal para julgar a morte de Anthony Richardson. Mais do que nunca, eu queria que esse cara não tivesse sido tão imprudente.

Cada testemunha de acusação despeja os medos que supostamente causei, na tribuna. O Zack, meu melhor amigo, faz com que eu não suporte e negue cada acusação. O Reagan se mostra uma pessoa pior cada vez que abre a boca, só piorando o meu lado. As testemunhas de defesa são fracas e desconhecidas por mim. Quero dizer, reconheço um cara como integrante da festa, mas ele estava fora de si no dia para dizer coisa com coisa. Ninguém lá estava sóbrio o suficiente para dizer muito, fora a Marianne, irmã do Zack, que esteve por tempo de menos naquela festa, e a garota que saltou do carro do Anthony depois do acidente, que não está aqui.

Por favor, mama, mantenha aquela garota segura e longe dessa bagunça, rezo.

Uma pessoa da bancada de acusação em especial me faz chorar. A garota que segurei a mão quando gritava não sentir as pernas. Ela não me acusa, mas dá o testemunho, seguido de um olhar afiado carregado de toda a dor que sentiu, mas tudo que importa é que ela está andando.

As lágrimas não param depois do que ela fala. Choro em silêncio por cada pessoa que acredita no que diz, por cada uma que mente sabiamente para me fazer sofrer. Choro porque cada minuto é uma tortura, e cada palavra uma ferida. Sei que as coisas de que estou sendo acusado, envolvimento com substâncias proibidas, uma morte tão marcante na conta, não são leves e a pena será tampouco. Olho para a Gwen quando o juiz avalia as provas para proclamar a decisão.

— Ich liebe dich. — prometo baixinho a ela, sorrindo como posso.

— Eu também amo você, papai. — responde tão baixo quanto, sem sorrir.

Ergo a cabeça encorajado por isso, apesar da falta do sorriso, encontrando o olhar do juiz quando diz:

— Diante das provas apresentadas, o senhor Peterson Patrowski pegará cinquenta anos de prisão. Declaro o caso encerrado.

Minha cabeça roda numa velocidade absurda enquanto processo aquilo. Cinquenta. Cinquenta anos. Vou perder a minha vida toda. Levanto os olhos na tentativa de memorizar o rosto infantil da minha filha quando sou puxado pelos policiais, mas vejo o sorriso vitorioso da Vivian e a alegria de todo mundo que já importou para mim. Só então ouso olhar para a Gwen.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora